Capítulo Treze: Sarghan

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— ACHEI QUE MINHA ausência não seria notada por ninguém no salão — admiti com um sorriso.

O príncipe Sarghan deu um passo adiante, desfitando-me por um instante.

— Bem, eu notei — corrigiu-me.

Afastei-me um passo em compensação, encostando-me à balaustrada da sacada.

— Peço desculpas se agi de forma inconveniente, Alteza.

— Não, não. — Ele me interrompeu e, quando percebeu que seu comportamento não havia sido tão galante quanto pretendeu que fosse, brindou-me com um sorriso caloroso. — Por favor, fique à vontade. Se quiser conhecer ou ver o palácio, eu mesmo posso mostrá-lo.

Armei-me com o meu sorriso mais inofensivo; no fim, tudo se resumia a um jogo.

— Eu pretendia apenas tomar um pouco de ar fresco, mas quando cheguei aqui em cima acho que me deixei levar pela visão — expliquei-me. — Ver o oceano especialmente, acredito. Fez-me perder a noção do tempo.

— O oceano? — ele ecoou aturdido e genuinamente curioso.

— Há anos não o via, Alteza — esclareci.

— Você é uma...

— Uma escrava? — pronunciei a palavra sem demonstrar constrangimento e isso pareceu despertar nele um sentimento inominável. — Sim, Alteza. Escravos não podem atravessar as muralhas externas da cidade sob nenhuma circunstância e uma vez que passampelos portões não podem partir.

Se ele houvesse dito que lamentava minha condição naquele momento, eu o teria desprezado. Mas, para a minha surpresa, ele não o fez. Suspirou, fitou-me com prazer renovado e me ofereceu o braço num convite gentil.

— Importa-se de me fazer companhia?

Apertei meus olhos desconfiadamente.

— Achei que Vossa Alteza tivesse convidados para entreter.

— A bem da verdade — ele emendou com um sorriso de cumplicidade —, detesto esses banquetes e toda a afetação da nobreza. Então, se aceitasse meu convite, você me daria a desculpa perfeita para escapar de uma chateação sem fim envolvendo adulações e discursos exaltados por conta de todo o vinho que estão consumindo.

Aceitei seu braço e seu sorriso de prazer quando o fiz estendeu-se, chegando-lhe aos olhos azul-acinzentados.

— Alteza, acabou de me convencer — afirmei.

Acompanhei-o quando me levou de volta para as escadas da torre; descemo-las e ele não demorou a me levar a outro pavilhão, explicando-me o que era o quê e toda a história que envolvia a construção do palácio real.

Sua voz era agradável e suas palavras não se desgastavam, mantendo-me entretida.

Nós passamos por um pavilhão interno menor, quase escondido entre duas galerias cujo teto desabrochava numa abóbada coberta por afrescos e em cujo centro uma fonte que jorrava água havia sido toda construída em mármore branco. E por outro pavilhão em seguida cujo teto se abria para a própria noite, deixando transparecer as estrelas brilhantes.

Havia mais torres do que eu seria capaz de contar e inúmeros corredores, fechados e abertos, que conduziam a muitos outros locais secretos do palácio.

— É muito maior do que eu imaginei — confessei quando um corredor nos levou a um jardim opulento ao ar livre e antes que conseguisse me impedir de dizer. — Como Vossa Alteza nunca se perdeu com tantas galerias, torres e corredores intricados?

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora