— ACHEI QUE MINHA ausência não seria notada por ninguém no salão — admiti com um sorriso.
O príncipe Sarghan deu um passo adiante, desfitando-me por um instante.
— Bem, eu notei — corrigiu-me.
Afastei-me um passo em compensação, encostando-me à balaustrada da sacada.
— Peço desculpas se agi de forma inconveniente, Alteza.
— Não, não. — Ele me interrompeu e, quando percebeu que seu comportamento não havia sido tão galante quanto pretendeu que fosse, brindou-me com um sorriso caloroso. — Por favor, fique à vontade. Se quiser conhecer ou ver o palácio, eu mesmo posso mostrá-lo.
Armei-me com o meu sorriso mais inofensivo; no fim, tudo se resumia a um jogo.
— Eu pretendia apenas tomar um pouco de ar fresco, mas quando cheguei aqui em cima acho que me deixei levar pela visão — expliquei-me. — Ver o oceano especialmente, acredito. Fez-me perder a noção do tempo.
— O oceano? — ele ecoou aturdido e genuinamente curioso.
— Há anos não o via, Alteza — esclareci.
— Você é uma...
— Uma escrava? — pronunciei a palavra sem demonstrar constrangimento e isso pareceu despertar nele um sentimento inominável. — Sim, Alteza. Escravos não podem atravessar as muralhas externas da cidade sob nenhuma circunstância e uma vez que passampelos portões não podem partir.
Se ele houvesse dito que lamentava minha condição naquele momento, eu o teria desprezado. Mas, para a minha surpresa, ele não o fez. Suspirou, fitou-me com prazer renovado e me ofereceu o braço num convite gentil.
— Importa-se de me fazer companhia?
Apertei meus olhos desconfiadamente.
— Achei que Vossa Alteza tivesse convidados para entreter.
— A bem da verdade — ele emendou com um sorriso de cumplicidade —, detesto esses banquetes e toda a afetação da nobreza. Então, se aceitasse meu convite, você me daria a desculpa perfeita para escapar de uma chateação sem fim envolvendo adulações e discursos exaltados por conta de todo o vinho que estão consumindo.
Aceitei seu braço e seu sorriso de prazer quando o fiz estendeu-se, chegando-lhe aos olhos azul-acinzentados.
— Alteza, acabou de me convencer — afirmei.
Acompanhei-o quando me levou de volta para as escadas da torre; descemo-las e ele não demorou a me levar a outro pavilhão, explicando-me o que era o quê e toda a história que envolvia a construção do palácio real.
Sua voz era agradável e suas palavras não se desgastavam, mantendo-me entretida.
Nós passamos por um pavilhão interno menor, quase escondido entre duas galerias cujo teto desabrochava numa abóbada coberta por afrescos e em cujo centro uma fonte que jorrava água havia sido toda construída em mármore branco. E por outro pavilhão em seguida cujo teto se abria para a própria noite, deixando transparecer as estrelas brilhantes.
Havia mais torres do que eu seria capaz de contar e inúmeros corredores, fechados e abertos, que conduziam a muitos outros locais secretos do palácio.
— É muito maior do que eu imaginei — confessei quando um corredor nos levou a um jardim opulento ao ar livre e antes que conseguisse me impedir de dizer. — Como Vossa Alteza nunca se perdeu com tantas galerias, torres e corredores intricados?
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Nysa - A Campeã de Asther
Fantasy⚔️OBRA VENCEDORA DO THE WATTYS 2018 NA CATEGORIA CONSTRUTORES DE MUNDOS⚔️ Nas terras selvagens e beligerantes de Nova Eghau, Nysa é uma Etérea: uma serva dos deuses e parte de uma casta coberta de riquezas e esplendor. Ainda criança, ela é levada de...