Capítulo Trinta e Quatro: Pacto para o Triunfo

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O BANQUETE OFERECIDO aos quatro finalistas na tarde seguinte serviu apenas para acentuar o sabor amargo na minha boca, deixando meu humor sombrio e minha mente divagadora.

Enquanto me aprontava no meu quarto, notei como meus olhos estavam vazios e opacos, e como meus lábios persistiam em se curvar para baixo em desgosto. Eu não estava afim de ir ao palácio e tampouco sabia se estava pronta para encarar Ymira e Rhyz olho no olho, mas também sabia o que era esperado de mim como participante e finalista do Torneio. Fingir júbilo quando o luto me consumia exigiria mais das minhas habilidades de mentirosa do que o comum. Porque tudo se tratava de interpretar um personagem no fim para todos aqueles nobres.

E um personagem é o que eu interpretaria, se isso era realmente o que todos queriam de mim. Eu seria a finalista impetuosa e inclemente que todos esperavam que fosse.

Fui covarde demais para perguntar a Sarghan sobre o destino final de Zyora. Teria seu corpo já sido despachado de volta para a sua terra natal? Devolvido ou descartado como uma arma quebrada que já não serviria a propósito algum? Cerrei os dentes com raiva e me afastei do espelho; estava pronta.

Quando cheguei ao palácio na companhia do meu senhor, avistei no grande salão com piso de mármore e janelas altas ninguém menos que Dashaira, sempre acompanhada pelo pai, e Rhyz, que estava sendo adulado por alguns nobres do outro lado. Mas Ymira não estava à vista em lugar algum. Isso me deixou ainda mais inquieta e fez Cadius me lembrar do significado da palavra prudência. Mesmo assim procurei me distrair. Sorri quando alguns lordes e damas envoltos em sedas e perfumes vieram me parabenizar pela vitória. Respondi suas perguntas com toda a cortesia de que poderia dispor, mas não demorei a me sentir sufocada sob aquela máscara frívola e falsa.

Aguentei meu quinhão de bajulação fingida até onde pude aguentar, então, quando a primeira oportunidade surgiu não a desperdicei: escapuli do salão com a desculpa de que precisava de um pouco de ar fresco. Já sabia para onde iria e meus pés me levaram até lá com certa urgência. Minha perna estava um pouco melhor e pelo menos não me fazia manquejar mais como antes.

Percorri um longo corredor coberto que volteava um dos imensos jardins do palácio. Lamparinas e archotes ardiam na escuridão da noite e o cheiro de flores frescas enchia o ar com doçura. Fitei as sombras que dançavam ao redor das chamas das lamparinas a óleo e fechei os olhos, rezando às minhas deusas por forças para conseguir suportar o restante dessa noite.

— Você não me parece muito bem. — Uma voz familiar comentou e eu abri os olhos de modo repentino, virando-me para dar de cara com Dashaira.

Ela estava linda naquela noite. Trajava um vestido de brocado vermelho de uma manga, que deixava à mostra a linha elegante do seu pescoço e parte do colo assim como desnudava o outro ombro, expondo sua pele cor de oliva para o ar fresco noturno. Seu cabelo negro e sedoso estava solto, entretanto, penteado todo para um lado e caindo em uma cascata de ondas suaves por cima do ombro que estava coberto. Um brinco dourado pesado adornava toda a sua única orelha descoberta. O único outro adereço que ela usava era um cinto grosso também dourado que demarcava sua cintura, ajustando o vestido ao seu corpo esbelto.

Ainda trazia em cada mão um cálice de vinho. Dashaira ofereceu um deles para mim.

— Você também parece estar precisando de um pouco disso — comentou com leveza.

Eu sorri e aceitei o cálice que me foi oferecido, pegando-o de sua mão.

— Obrigada — murmurei e bebi um longo gole de vinho; era doce e estava fresco.

— Presumo que tenha se fartado de todos aqueles nobres. — Ela desviou o olhar para o jardim imerso nas luzes das lamparinas, cada uma delas cintilava de forma sutil como um vagalume na escuridão, e também bebeu do vinho no seu próprio cálice.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora