Capítulo Vinte e Nove: Sobre Amores, Sonhos e Rainhas

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PASSEI TODA A MANHÃ e parte da tarde na cama no dia seguinte. A fadiga emocional havia me desgastado mais do que todo o exercício que fizera na noite passada. Houve momentos — passageiros e delirantes — em que me arrependi de não ter me aberto com Zyora. Ela tinha confiado em mim. Gostaria de poder retribuir o gesto, algum dia.

E para completar, eu estava tensa. No dia seguinte, todos os oitos finalistas seriam convocados às arenas para ter seus nomes sorteados. A próxima etapa do torneio exigiria que lutássemos em duplas e, apesar de estar ansiosa para descobrir com quem seria pareada, eu tinha um mau pressentimento comigo desde cedo e não conseguia me livrar da sensação, por mais que tentasse. Ainda reencontraria Ymira e seu amante especialista em envenenamentos, Meon, e tinha de estar preparada para isso.

Minha senhora entrou no quarto de repente, com alegria suficiente por nós duas, demandando que eu me levantasse, pois havia sido convidada para ir ao palácio. Suspirei ao me sentar.

— Um convite do príncipe? — deduzi, mas ela balançou a cabeça negando.

— Dessa vez o convite é da Dama Thalyssa. Ande, ande! Levante-se, precisa se aprontar! Não é de bom tom fazer uma dama da estirpe dela esperar! — urgiu.

Franzi a testa. Um convite da Dama Thalyssa, a prometida do príncipe Sarghan — e secretamente amante do capitão da guarda —, o que haveria de querer comigo? Apesar da pouca disposição, acatei minha senhora e me vesti com o vestido que ela tinha separado para mim: seda azul-claro com uma saia fluída, um decote profundo nas costas e um pregueado simples demarcando a cintura.

Desci e encontrei minha escolta nos jardins de minha senhora. Vento Prateado não me foi enviada dessa vez, mas montei a égua castanha e mansa sem problemas. E, assim, segui para o palácio real. A cada vez que desfilava pelas ruas de Théocras, notava que o número de olhares direcionados a mim crescia. Dessa vez, ouvi alguns murmurando meu nome com reverência. Sorri para eles.

Também ouvi partes de conversas sussurradas sobre a morte de um mercador rico na noite anterior enquanto atravessava a cidade. Rumores exagerados sobre uma assassina de cabelo negro trançado que surgiu e desapareceu numa mesma escuridão profana para assassiná-lo, deixou vários de seus homens muito feridos e ainda libertou todos os seus escravos saltavam de boca em boca, aumentando heroicamente seus feitos a cada rua que deixávamos para trás. Endireitei-me na sela, contente demais na opinião de Cadius.

Quando os portões se fecharam atrás de mim e da minha escolta, fui solicitamente levada por uma serva até um dos jardins que já conhecera na companhia de Sarghan. Exceto que quem me esperava lá, refestelada entre muitas almofadas de brocado e vestida com a melhor seda do reino, era Thalyssa. Ela se endireitou assim que me viu chegar e me recebeu com um sorriso gentil. Seu cabelo castanho estava todo arrumado e ela usava poucas joias dessa vez. Ainda assim, continuava deslumbrante.

— Nysa, vejo que aceitou meu convite! — murmurou com sua voz doce.

— Não me senti em posição de recusá-lo — brinquei.

Thalyssa riu deliciada.

— Achei que pudéssemos passar algum tempo juntas. Sarghan parece reivindicar egoisticamente todo o seu tempo livre — queixou-se, foi a minha vez de rir.

Levantou-se e estendeu as mãos de dedos finos e enfeitados por muitos anéis para mim. Estendi as minhas de volta sem pensar e ela as segurou com delicadeza.

— Gostaria de te conhecer melhor.

— Aqui estou — concordei. A verdade é que também queria conhecê-la melhor, Thalyssa parecia ser uma pessoa esplêndida. Estava feliz que ela tivesse tomado a iniciativa.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora