Capítulo Trinta e Dois: Aclamadas

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LEVANTEI-ME DE CIMA do corpo de Meon um tanto entorpecida. Meus ouvidos que zumbiam aos poucos voltaram a registrar os uivos e os aplausos da multidão que me assistia.

Varri a arena com os olhos até encontrar Dashaira, que ainda lutava contra Bokham. Mas não por muito tempo. Num movimento gracioso, ela deslizou pela areia, segurando sua espada entre as duas mãos, e sua lâmina encontrou a garganta exposta do guerreiro num golpe fatal.

De repente, estava tudo acabado: tanto a luta quanto o meu estranho estado de letargia. O zumbido nos meus ouvidos se foi e o clamor da multidão se tornou quase ensurdecedor. Eles tinham se levantando de seus assentos para nos aclamar como eu nunca os havia visto aclamar outros competidores antes.

Dashaira desviou os olhos do corpo caído de Bokham e buscou por mim; eu já a fitava de volta. Sorri e ela aquiesceu. Recuperei minha espada do corpo de Meon, extingui as chamas azuis que ainda lambiam a lâmina e caminhei na sua direção. Ela veio ao meu encontro também, de posse de espada e escudo de novo. Quando nos reunimos, os gritos da multidão encheram a Arena ainda mais.

Olhei-a e ela me olhou de volta. Estávamos ambas suadas e esgotadas. Mas tínhamos vencido.

— Ouve isso, Mensageira? — ela me perguntou com o fantasma de um sorriso. — Eles aclamam você.

E indicou a multidão ruidosa ao nosso redor.

— Também aclamam você — respondi-a.

Porque a vitória não era apenas minha daquela vez. Era nossa. Nunca pensei que pudesse me contentar tanto ao compartilhar o doce sabor do triunfo com alguém. Mas ali estava eu, em júbilo por poder dividir tudo aquilo com Dashaira.

Caminhamos pela Arena, circulando suas paredes maciças para atiçar a plateia e eu finalmente arrisquei um olhar para Sarghan, no pódio. Ele também estava de pé, tal como a multidão ao nosso redor, e nos aplaudia com reverência. Sorri para ele e ele sorriu para mim.

Eu estava mais um passo perto de conquistar tudo o que queria. E se por um lado Cadius se regozijava comigo pela nossa vitória no dia de hoje, por outro continuava a amargar o motivo obscuro pelo qual eu chegara até ali.

Depois de um momento, ele se foi, em silêncio. Deixou-me sozinha. Uma parte de mim temia que algum dia ele se mostrasse incapaz de continuar a me perdoar, por todas as mentiras e por tudo o que eu tramara em todos esses anos. Nem eu mesma esperava que ele continuasse a me perdoar mais àquela altura.

 Nem eu mesma esperava que ele continuasse a me perdoar mais àquela altura

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Tentei me manter imóvel enquanto Dessah e minha senhora se revezavam para limpar e costurar a ferida na minha coxa. Estava em casa outra vez, limpa, alimentada e mais ou menos descansada.

O único de nós a ainda não demonstrar que se recuperaria tão cedo da batalha daquele dia era o meu senhor Gorah, que andava de um lado a outro pelo meu quarto, por pouco não criando sulcos no piso de mármore com suas passadas inquietas. Não que pudesse culpá-lo, afinal houvera uma parte de mim, pequenina, que ainda se lembrava com detalhes vívidos da batalha. Eu a suplantara com tudo o que pude: com meu êxtase por haver triunfado mais uma vez, com meu contentamento por haver me aproximado mais de Dashaira e por ganhar sua confiança.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora