Capítulo Seis: Lições

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MEUS TREINOS COMEÇARAM na manhã seguinte, toda uma nova rotina a qual eu precisei me ajustar e ajustar o meu corpo. Imaginei que Gorah me conduziria até as aulas de defesa e combate sem contratempos de quaisquer naturezas. Bem, estava enganada.

Por razões estranhas, no primeiro dia ele fez questão de que eu cumprisse as tarefas mais simples, ajudando um homem chamado Uhgoras a alimentar e escovar suas montarias nos estábulos, ajudando Dessah a descascar batatas e a depenar gansos na cozinha para o jantar ou ainda carregando livros bem pesados para Fethis escada abaixo. Quando tentei confrontá-lo ao fim do dia, ele se limitou a balançar a cabeça.

— Mas isso faz parte do seu treinamento, menina. Quer ser a maior campeã a pisar naquelas arenas? Então observe e aprenda. Há nobreza e serventia, mesmo nas menores tarefas. Além disso, te falta disciplina e autocontrole, dois atributos essenciais para se aprender a lutar. Conquiste-os primeiro, quem sabe depois eu possa te ensinar a empunhar uma espada.

E assim começou o meu aprendizado. Não que me orgulhe em dizer que aprendi a selar um cavalo com perfeição ou que fosse capaz de desossar um frango sem dificuldade.

As lições com Fethis, por outro lado, eram sempre as mais interessantes. Com ele, aprofundei meus conhecimentos em matemática e passei a ajudá-lo até mesmo a preencher o seu livro de registros de despesas da casa.

Naquela primeira e exaustiva semana, carreguei baldes de água para dar de beber aos animais nos estábulos, mexi ensopados sob uma supervisão severa na cozinha e descobri mais do que eu julgava saber a respeito do mundo na biblioteca.

Uhgoras me ensinou a selar cavalos e a montar, e dentro de um mês eu já dominava a arte da equitação, cavalgando pelos jardins de minha senhora sob o som de seu riso e gritos de incentivo.

Dessah me ensinou tudo o que sabia sobre as mais variadas ervas e temperos, quais plantas eram seguramente comestíveis e quais delas poderiam ser usadas para tratar mal-estares e dores, ou ainda para pôr alguém para dormir por um dia todo. Ensinou-me a misturá-las de forma a compor um sabor suave e quais delas, sob nenhuma hipótese, deveriam ser misturadas com outras para não estragar o sabor da comida.

Fethis me ensinou sobre a economia de todo o reino de Asther com muita empolgação. Listou seus reis nos últimos trezentos anos, os seus feitos e todas as melhorias que realizaram.

— Asther era um reino muito pobre há menos de trezentos e cinquenta anos — contou-me ele. — A maior parte do seu território é infértil e os rios que correm por nossas terras não são muitos, sendo a grande maioria deles intermitentes. O clima é árido na maior parte do ano e o período das monções é geralmente curto e insuficiente para abastecer os principais afluentes do rio Ahdus. Antes de se tornar a nação que é hoje, nosso povo perecia pela fome e mesmo a nobreza não desfrutava de muitas regalias naqueles tempos.

— O que mudou nos últimos trezentos então? — perguntei olhando para o mapa de todo o reino que estava desenrolado sobre a mesa, indicando suas estradas principais, suas cidades mais importantes e alguns de seus vilarejos mais destacáveis.

— Uma pergunta pertinente — ele murmurou com tom de aprovação. — Como deve ter percebido, não temos muitas minas ricas em ferro como Éberus, tampouco as minas abundantes de ouro e pedras preciosas de Torandhur. Asther é um reino bastante vasto e populoso, por outro lado, de modo que o rei Éldhi III decidiu concentrar grande parte dos recursos no treinamento de soldados e na formação de um exército numeroso e poderoso. O treinamento de nossos soldados inicia-se cedo e é bastante rigoroso. Assim, Asther desabrochou como uma temida nação cuja característica mais notável era a militar. E, finalmente, o rei Éldhi III declarou guerra aos outros reinos de Nova Eghau — Fethis me respondeu com condescendência.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora