Capítulo Quatro: Gorah, O Campeão

1.1K 164 65
                                    



NÃO TIVE TEMPO para ponderar as consequências; era tudo ou nada. Olhei na direção de Kalak e Thades, então, tomei a minha decisão, ignorando todos os alertas de Cadius.

Saí em disparada, sumindo no meio da multidão de passantes e abrindo caminho a cotoveladas. Os grilhões nos meus tornozelos e a corrente curta atrelada a eles limitavam meus passos, forcei-os a cooperarem com o resto do meu corpo de forma que não acabasse estatelada no chão. Tinha um único objetivo fixo: encontrar Gorah antes que fosse capturada.

Ouvi os gritos de advertência de Kalak, ordenando-me a parar, mas não lhe dei ouvidos. Olhei para cima, para o céu claro, Zephir ia à frente, liderando meu caminho. Sorri agradecida, embrenhando-me ainda mais fundo na turba.

Avistei as costas fortes de Gorah, sua cabeleira macia e castanha e suas vestes distintas, e me lancei contra ele com toda a força que consegui reunir. Estendi meus braços para agarrar seu gibão antes de puxá-lo na direção contrária, demandando sua atenção. Caí de joelhos diante dele, suplicante e humilde, quando se virou para mim. Meu cabelo cobriu meu rosto quando abaixei minha cabeça em sinal de subserviência completa.

— Por favor, eu lhe suplico, faça de mim sua protegida! — implorei em voz alta, o suficiente para que até mesmo as pessoas que passavam por perto pudessem me ouvir. — Se o fizer, juro que o honrarei nas arenas com as minhas vitórias e triunfarei como a maior campeã que essa cidade já conheceu!

Ousei levantar o meu rosto do chão para fitá-lo, segurando no couro macio de suas botas para que ele não tencionasse afastar-se de mim. Apesar de respirar ofegante, descobri-me calma sob o escrutínio daquele estranho. Gorah me olhava tão plácido quanto a superfície de uma lagoa. O homem que o acompanhava — eu só o havia percebido agora —, um tanto mais alto e bem menos corpulento, olhou de mim para ele com aturdimento.

— Senhor Gorah, o que significa isso?

Finalmente, ele franziu o cenho e afastou-se apenas um passo de mim, concedendo-me espaço suficiente para me pôr sentada sobre as minhas pernas.

— Essa menina claramente me confundiu com outra pessoa — ele concluiu com indiferença, obrigando-me a corrigi-lo.

— Com todo o respeito, digo que não o fiz, senhor. O senhor é Gorah, um campeão das arenas e eu humildemente lhe suplico que me tome como sua protegida — reiterei, tornando a abaixar minha fronte em sinal de submissão.

Ouvi sua respiração áspera quando ele tomou fôlego.

— Deixe-me clarear dois fatos para você, menina: em primeiro lugar, eu não compro escravos. E em segundo, eu não tomo protegidos. Não serei patrono de ninguém e certamente não conduzirei nenhum infeliz a uma morte violenta naquelas arenas.

— Não! — eu bradei quando ele fez menção de ir embora. — Mas o senhor não me conduzirá a uma morte certa porque, se me tomar como sua protegida, eu triunfarei como nada menos do que sua campeã. Não fraquejarei e não me deterei por nada.

— Tocante discurso — ele voltou a me dispensar. — Mas já o ouvi em centenas de outras bocas e todas elas terminaram silenciadas permanentemente por uma morte sangrenta naquelas arenas.

— Eu não fracassarei, senhor — sibilei, pondo-me de pé e ouvindo os gritos de Kalak se tornarem cada vez mais distintos e próximos. — Eu lhe suplico, aceite a minha oferta!

O homem que o acompanhava olhava de um rosto a outro, mas sem tomar nenhum lado pelo que podia ver. Infelizmente, Kalak me encontrou nesse momento, abrindo caminho entre a multidão com cotoveladas e imprecações. Ele agarrou meu cabelo com força sem se deixar constranger pelas muitas testemunhas.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora