𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄

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ISABELLASão Paulo — Capitalna madrugada da festa

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ISABELLA
São Paulo — Capital
na madrugada da festa

— ANDA, ISABELLA! COMA ESSE FILÉ — Raphael pede enquanto cutuco o pedaço de frango com o arfo, morrendo de nojo de comê-lo. — Mulher, pare de ser fresca.

— Raphael, olha como 'tá pálido esse frango — viro o potinho de plástico na direção dele, minha comida praticamente intocável. — Isso aqui não 'tá nada apetitoso.

— Você tem que se alimentar — ele informa quase como se fosse um aviso de salvação. "Coma ou morra." — Vomitou tudo que 'tava no estômago.

— É porque nada 'tá parando no meu estômago. — Faço manha enquanto observo aquela comidinha sem graça. — Não colocaram temperinho. Só sal.

Veiga sorri, sentado ao meu lado na cama, e toca em meu braço com carinho. Engraçado ver toda essa demonstração de afeto. Mas estou num hospital, não preciso de brigas e nem de desavenças. Só quero um pouco de amor. Por menor que seja. Até o resultado do exame chegar e eu ter o diagnóstico do porquê estou passando mal.

— Eu prometo que — ele volta a falar, acariciando calmamente meu braço — quando a gente sair daqui, eu te levo no seu restaurante favorito. Ainda é o Sí Señor, né?

— Sim — sorrio, feliz de ele se lembrar. — Me dá água na boca só de pensar num burrito.

Nossa. Um burrito ao forno agora é tudo que preciso. Daquele jeito mais gostoso possível com bastante queijo e a tortilla bem gratinada.

— Ótimo. Então, está combinado — ele bate uma mão na outra pra selar o acordo. — Como agora 'tá muito tarde para comer, a gente vai na hora do almoço, fechou?

Já chegamos aqui no hospital tarde. Fui encaminhada direto pra emergência com a pressão baixíssima e estou em observação desde então. Faz um tempinho que estamos aqui. Talvez mais de uma hora, o que me faz imaginar que já se passa das duas da madrugada. E Raphael não saiu do meu lado.

Ele podia simplesmente avisar minha família e me deixar aqui. Não precisava ficar me esperando, principalmente com uma festa rolando. Uma festa dele rolando, vale ressaltar. Mas, não. Ele nem hesitou em ficar.

— Só que... você precisa comer — ele continua, interrompendo meu pensamento. — Então, bora!

— 'Tá — concordo, pegando um pedaço de frango, misturando com cenoura e batata, e respirando fundo antes de comer. — Tudo por um burrito.

E pensando no almoço caprichado que Veiga me prometeu, enfio aquele garfo na boca e mastigo aquela comida como se fosse pedra. Não porque está dura. Está até que macia e agradável. O problema é o gosto. O frango está seco e sem tempero, misturado com aquelas verduras só o deixou pior. Não está nada bom.

— Viu? — Raphael diz, contente do meu avanço, mesmo que eu ainda esteja mastigando. — Você conseguiu. Não foi tão ruim assim.

— Fácil dizer — digo de boca cheia, evitando engolir porque estou com nojo demais. — Não é você que está comendo essa coisa horrorosa que chamam de comida. Será que eles servem isso aqui no jantar pra todos os pacientes ou só me deram o resto porque cheguei tarde?

INTERE$$EIRA ━ palmeirasWhere stories live. Discover now