Capítulo 54

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Agora

- Dolores? - Allie chamava atenção da mãe, achando que essa estivesse passando mal.

- Sim? - Perguntou ela, voltando ao agora.

- Seu chá. Vai esfriar. - Disse Allie, apontando para a xícara e o pires na mesa a frente do sofá.

Dolores pegou o pires e a xicará com cuidado. Deu um gole e para sua surpresa, era de framboesa. Seu chá preferido.(Allie lembra) pensou ela, tremendo.

- A senhora está bem? O que trás voce aqui, Dolores? - Perguntou Allie, tentando ser sutil.

- Não me chame assim, por favor. Filha. - Pediu ela, engolindo a própria palavra.

Allie ficou em choque. Não sabia se aquilo era uma alucinação ou algo assim. Tinha esperanças que estivesse dormindo, inclusive sobre a Estripadora e toda confusão do seu trabalho. Mas ela sabia que era real, que estava acontecendo. Ela esperou sua mãe falar e ficou calada.

- Vim até aqui, pedir perdão Allie. Me perdoe, por tudo. - Pediu ela, largando a louça na mesa, suas mãos tremiam.

- Dolores... - Começou Allie, sem saber o que falar.

- Não me chame assim! Eu fui uma péssima mãe e só percebi isso tarde demais. Sei que não mereço, mas quero pedir perdão assim mesmo. Eu sinto sua falta. Principalmente, depois que Finn morreu. - Disse ela, sendo sincera pela primeira vez com sua filha e abrindo seu coração. Levantou e sentou-se no sofá onde Allie estava, ao lado dela com sua bolsinha no colo.

- Aqui, leia por favor. - Disse Dolores, tirando uma carta da bolsa e entregando a filha. 

     Allie sentia uma dor ao ver sua mãe, chorando de verdade e lhe pedindo perdão. Pegou a carta sem esperar o que seria, abriu-a com cuidado percebendo que essa estava amassada e meio gasta. Abriu e viu que tinha um letra estranha, garrafal e lembrou-se da letra de seu irmão. Conforme seus olhos corriam o papel amarelado, ela começava a chorar e sua mãe pegava sua mão chorando também. 

Carta Psicografada pelo médium xxxx 

Escrita pelo espirito de Finn Decker 

Querida mãe Rosinha, 

Lembra? Era assim que eu te chamava quando criança, por causa que você adorava tudo que era cor de rosa. Sou eu, seu menino homem, Finn. A prova é nossa palavra passe: Atchim! 

A gente usava para esconder algum segredo de papai, como das vezes que você me buscava na escola porque eu fui suspenso e você mentia para o pai dizendo que a professora faltou. Depois piscava e dizia Atchim, que era um sinal de que você não contaria, que era segredo. 

Sinto sua falta mãe, mais do que pensa. Sinto falta do pai e de Allie também. Estou sofrendo muito, mas isso porque mereço. Em vida fui um babaca com muita gente, inclusive com o pai e minha  irmã. Você foi uma boa mãe para mim, mas sempre muito rígida com Allie. Sei que vocês não se falam desde aquela época que Allie saiu de casa, mas ela precisa de você. E você dela. 

Mãe, Allie corre perigo. A mulher que me matou é perigosa e ela não pode fazer nada. Impeça ela de ficar nesse caso antes que seja tarde. Antes que ela seja morta também. Mãe, deixa de lado esse orgulho e as diferenças de vocês. Allie precisa de você e do pai. Ao menos para ela ter um motivo para querer viver e ser feliz. Ela sofre muito. Por favor, cuide-se e cuide dela.

Tentei falar com ela algumas vezes por sonhos, mas o custo para isso é muito forte. Não vou falar muito, mas você deve imaginar onde estou. Não é um bom lugar. É um inferno pessoal e sou torturado de maneiras que não posso falar. Desculpe. Não quero assusta-la. Diga ao pai que eu sinto falta dele também. Te amo. Amo todos vocês. Fale com Allie. Faça as pazes, por mim. Seja boa.

terminar de ler, tinha a assinatura igual de Finn. Ele sempre usava aqueles rabiscos estranhos e um F grande porque dizia que seria famoso se não fosse policial. Allie chorava muito, sua mãe perdia perdão e a abraçou. De inicio foi muito estranho, mas depois Allie cedeu. Ela se sentiu melhor em ter a mãe ali e queria poder ter feito aqui sem necessitar de uma carta do irmão morto. Sentiu a falta de seu irmão e mandou-lhe um forte abraço, onde quer que estivesse. 

- Me perdoe. Não agora, mas com o tempo. Eu te amo filha, sempre amei. Só não sabia demonstrar e acabei fazendo com você o mesmo que sua vó fez comigo. Por ciume ou sei lá. Perdão. - Dizia ela, beijando as mãos frias da filha que ainda segurava a carta. 

- Tudo bem, vamos aprender a amar uma a outra de novo. - Sorriu ela, acalmando o nervosismo de sua mãe. 

- Sua casa é muito bonita. Vi que ainda gosta de ler. - Sorriu ela, enxugando as lágrimas com um lencinho de papel e ofereceu outro a filha. 

- Sim. - Concordou ela, aceitando o lenço e limpando o rosto. 

- Então acho que vai gostar disso. Não quero que pense errado, é só uma lembrancinha. Mas um desculpa por tudo também. - Disse a senhora de cabelo grisalho, pintado de vermelho, ela usava uma roupa amarelo berrante. 

- Obrigada. - Disse Allie, pegando o embrulho que essa tirou da bolsa e lhe entregou. 

      Ao abrir, sorriu e chorou em seguida. Era um livro deHerman Melville- MobbyDicky. Quando ela era adolescente ela implorou em uma feira do livro que acontecia no shopping, para sua mãe comprar para ela de aniversário, que seria no dia seguinte. Essa ignorou e nunca lhe deu dinheiro nem a presentou com livros. Era sempre vestidos, lacinhos e coisas que Allie detestava. Seu pai lhe dava livros e sua amiga também, mas ela acabou pegando raiva do livro em si e nunca comprou. Ela abriu o livro, sentindo a textura de papel novo e o cheiro também. 

- Posso ir no banheiro? - Pediu Dolores. 

- Claro, é na porta em frente. - Disse ela, apontando. 

       Allie guardou o livro na prateleira e ainda pensava o quanto aquele dia podia ser longo e com tantas emoções. De volta a cozinha, elas conversaram sobre o trabalho de Allie como verdadeiras mãe e filha. Como sempre devia ter sido. Jantaram uma comida que Allie requentou do dia anterior que a mesma tinha feito. Sua mãe elogiou a comida e agradeceu. Disse que pela manha já voltava e que Felix sabia que ela tinha vindo e tentou impedi-la. Elas riram quando ela contou que o marido pediu para ela não brigar com Allie ou ele ia embora. Deram boa noite e Allie arrumou o quarto de visitas para a mãe. 

     Depois dessa estar supostamente dormindo, Allie nem acreditava que aquilo tudo era real. Ligou para Noah e eles falaram brevemente. Ela deu boa noite e então desligou. Escovou os dentes e trancou a casa, indo tomar aquele banho. Enquanto relaxava, sentia de certa forma como se um peso tivesse saído de seu coração. Ela sabia o que era. O peso da briga que ela tinha com a mãe a fazia mal, e estarem bem, era ótimo. Agora só teria que tentar permanecer assim. 

      Tomada banho, vestiu o pijama e se enfiou nas cobertas. Estava exausta e não demorou a cair no sono, indo dormir de cabelo molhado mesmo. Sonhou com o irmão, esse dizia estar feliz por elas terem feito as passes e Allie o abraçou forte, dizendo que lamentava sua morte. Foi algo rápido, mas o suficiente para fazer ela acordar ofegante, lembrando de tudo. Voltou a dormir, mas antes rezou a Deus, agradecendo por tudo e pedindo pelo irmão. Adormeceu com os dedos cruzados, pensando que sua vida era uma verdadeira surpresa. 

Vamp: O INÍCIO  - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora