03

2.7K 300 298
                                    

Maraisa cuspiu o café. Não foi nada elegante, e muito menos atraente. Mas, Marília deu um crédito para a mulher. Pelos seus olhos arregalados quase chocados, e sua boca aberta com uma pequena gota de café escorrendo pelo queixo, imaginou que estava bastante surpresa com a pergunta.

Internamente, Marília torcia para que Maraisa aceitasse. Era bem nítida a atração que existia entre ambas, não ficou imune minutos atrás quando atingiram o ápice da tensão sexual. E isso era ótimo! Ninguém da sua família desconfiaria que não existisse algo entre elas, não com aquela química ativa.

Além de ser muito bonita.

Se fosse definir a beleza de Maraisa, diria que era exótica. Os seus olhos eram viciantes de se olhar.. castanhos escuros e profundos, algo bem interessante. Percebeu que os seus olhos sempre se iluminava quando sentia qualquer emoção ou sensação. Não era algo que passava despercebido, muito menos os lábios bem desenhados.

Seria prazeroso passar os seus dias torturantes ao lado daquela mulher. Diria até que se divertiria muito. Infelizmente, apesar de o seu corpo reagir à presença de Maraisa, nunca misturava negócio com prazer. Então, teria que sufocar qualquer desejo que viesse a borda.

Quem sabe, talvez, depois? Não iria achar ruim em mergulhar nas curvas sinuosas e tentadoras de Maraisa.

— Você está louca!? — Maraisa explodiu de repente, saindo do seu estado de choque e assustando a Marília com a sua fúria. — Está achando que eu sou uma garota de programa para me submeter a isso?

Os olhos de Maraisa estavam avermelhados, e se pudesse, Marília fuzilada por ela.

— Não.. — Marília começou a dizer mais foi interrompida.

— Esse é o maior absurdo que já escutei em minha vida! — Maraisa pegou um guardanapo e começou a limpar vigorosamente o café de sua blusa branca. — Nunca fui tão humilhada!

— Desculpe-me se a minha proposta foi humilhante, a intenção não era essa, e muito menos quis insinuar que é uma garota de programa. — Marília disse calma e cautelosamente, escolhendo as palavras certas para dar com o burro na água. — Deixe-me explicar.. Tenho um evento em família, de uma semana, e não posso aparecer solteira por circunstância de motivo pessoal. Como não sou uma pessoa muito dada á romance, pensei em contratá-la por uma semana. Será como um trabalho qualquer, só precisa fingir estarmos juntas. Sem contato físico exagerado.

Maraisq a olhou como se fosse uma alienígena. A descrença em seus olhos.

— O que a fez pensar que eu aceitaria uma proposta imoral desta?

— O que há de imoral nisto? Estou apenas lhe oferecendo uma semana de férias regada ao luxo, e ainda pagarei muito bem por isto. — Marília retrucou sem perder a calma diante daquela mulher que estava quase se desiquilibrando. Ela ficava mais sexy assim, até os seus cabelos negros, completamente escuros ficaram alvoraçados, parecendo uma leoa.

Maraisa piscou diversas vezes, então, balançou a cabeça em negativa.

— Somente uma pessoa sem decência ofereceria isso.

— Eu sou uma mulher bastante decente, Maraisq.

— Uma mulher decente não chamaria a sua funcionária e faria essa proposta. Isso pode acarretar um processo sabia? — Maraisa apontou o dedo em riste. — Assédio sexual! — Apertou os olhos. — Eu sou uma mulher de caráter, de moral!

Marília fundo, manter o controle da situação era essencial para ter êxito.

— Senhorita Pereira... — Marília falou mais alto. — Nenhum momento disse o contrário, e muito menos insinuei isto. Poderia deixar a palavra sexual de lado? A proposta não tem nada de sexo relacionado, pare de agir como se eu tivesse a convidado para passar uma semana de sexo. Nunca precisei pagar para ter sexo, e nunca farei isto.

Maraisq acalmou-se e ficou avermelhada, provavelmente por pensar que Marília a queria sexualmente. Ela finalmente parou de esfregar o guardanapo na blusa ao ver que não teria mais solução, e Marília voltou a tomar o seu café, esperando pela resposta, mas Maraisq levantou-se abruptamente.

— Sabe quando irei aceitar a sua proposta? Quando as vacas falarem!

Maraisa ergueu a cabeça e o peito, deu uma última olhada para Marília que a olhava com curiosidade, deu-lhe as costas e saiu marchando de sua sala.

Marília suspirou longamente e ficou observando a porta que foi batida, segundos atrás. Não sabia que Maraisq era geniosa, e também muito louca. Geralmente, nunca aceitava um não. Poderia rumar para outra funcionária, mas o temperamento de Maraisa a deixou mais interessada em tê-la como namorada. Também, causaria mais impacto. Ela era perfeita.

Só precisava fazê-la aceitar a proposta.

• • •

Maraisa estava indignada! Tinha uma faixa em sua testa escrita fácil? Óbvio que não. Não sabia por que a Marília cogitou essa possibilidade com ela, mas não iria acontecer. Nunca! Que mulher mais baixa. O que tinha de bonita e dinheiro, faltava de escrúpulo.

Era inadmissível aceitar uma proposta desse gênero.
O seu sangue estava borbulhando em suas veias. Estava também muito irritada que não se importou em ser grossa com Naiara quando a mesma a questionou sobre o que Marília queria.

— Se está tão interessada em saber, vá perguntar á ela! — Maraisa praticamente berrou para Naiara.

Naiara ficou parada no corredor com os olhos arregalados como se não acreditasse na atitude de Maraisa, mas também não foi atrás para repreende-la. Porém, Maraisa não era inocente e sabia muito bem o que essa resposta acarretaria: Uma advertência, consequentemente mais uma quantia retirada do seu salário.

Depois que entrou em sua sala e chamou a próxima cliente, e concentrou-se em fazer a sobrancelha da mulher, o seu sangue foi esfriando e ela foi se dando conta do que tinha feito. Foi grossa com a proprietária do estabelecimento, e grossa com sua gerente. Se não tivesse demitida, seria um grande milagre divino!

Tentou concentrar-se o máximo na sobrancelha da cliente. E assim, foi passando a sua manhã. Depois de mais quatro clientes, estava liberada para almoçar. Estava faminta! Aproveitando a sua uma hora de almoço para comer num restaurante popular umas quadras dali.

No bairro nobre que trabalhava o almoço mais barato custava mais de cinquenta reais! Não tinha dinheiro para isso. Ficaria num restaurante com o prato feito por dez reais mesmo. Assim que chegasse ao restaurante iria ligar para creche, queria saber como estava Lia.

Estava andando no sol escaldante de meio-dia com os seus saltos altos, quando teve a sensação que o carro preto na rua estava a seguindo. Olhou pelo canto dos olhos. O carro seguia lentamente pela rua deserta e sem trânsito. Aumentou os passos, o carro também, diminuiu os passos, o carro também. Era oficial: O carro estava a seguindo.

Pensou em parar e encarar, mas o pânico a fez correr. Viu quando dois homens saíram do carro e começaram a correr atrás dela, aumentando o seu desespero que começou a gritar por socorro. Por que ao invés da rua principal, tinha escolhido essa rua calma e remota? Agora iria morrer!

O que Deus tinha contra ela? Nunca fez nada! Sempre foi uma mulher de fé, acreditava em Deus, e fazia de tudo para seguir os seus ensinamentos. Que pecado cometeu? Jogou pedra na cruz? O que tinha feito pra merecer isso?

O seu cérebro só focava em fugir mesmo que corresse com dificuldade por conta dos saltos. Em sua maratona, não viu a pedra em seu caminho, tropeçou e o seu corpo atingiu em cheio o chão. A adrenalina não a fez sentir nada, além do medo de morrer.

Não teve tempo de se levantar. Os dois homens a alçaram, e a pegaram pelos braços, como se ela fosse leve feito uma pena e a levou para dentro do carro.

O que tinha feito de errado na vida? Pensou em sua filha. O seu coração apertou-se e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Tinha que viver muito, Lia  precisava dela, não estava preparada para dar adeus á sua filha.

Por favor, meu Deus. Pediu, antes de ser jogada dentro do carro.

IXI, TADINHA 🏃🏼‍♀️🏃🏼‍♀️🏃🏼‍♀️

Faz De ContaWhere stories live. Discover now