44

1.4K 207 50
                                    

Horas mais tarde, Marília acorda... Sente falta de sua esposa. Abre os olhos e se espreguiça. Não sabia que hora era, mas parecia ser muito, muito tarde. Olhou no criado-mudo. Era quase duas horas. Tinha dormido demais, estranhou não ter acordado com o choro da Lia. Olhou para o berço, a pequena não estava. Então, viu o bilhete em cima do travesseiro. O seu coração apertou-se com o mau presságio.


Abriu o bilhete.
 

“Desculpe-me por tudo que eu a fiz passar ontem. Não posso lhe proporcionar uma vida de constrangimento. Você não merece uma esposa medíocre. Vou voltar pra onde nunca deveria ter saído. Perdão. Por tudo. Adeus”.

Marília leu o bilhete várias vezes antes de se desesperar. Isso não podia ser verdade! Não era verdade. Ligou para Maraisa, mas só dava caixa postal.

— Pelo amor de Deus. Onde você está? Volte pra casa. Não faça isso comigo. Com você. Com nós. Eu te amo e é pra sempre, esqueceu? — Marília estava chorando.

Então, lembrou-se da parte do bilhete. “Vou voltar pra onde nunca deveria ter saído”. Com certeza Maraisa deve ter voltado para Natal. Tomou um banho rápido, e pegou a sua bolsa. Desceu as escadas correndo. Precisava buscar a sua esposa.

— Quem morreu? — Ruth perguntou ao vê-la correndo na escada.

— Maraisa foi embora. Preciso encontra-la.

Ruth ficou pálida.

— Embora? Por quê?

— Por causa de ontem. Eu tenho que ir para Natal. Depois falo direito, mas tenho que ir... — Foi correndo para o seu carro.

Ruth foi atrás. Sentada no sofá estava Lauana e Caio que sorriam em vitória. Finalmente o plano tinha dado certo e colocaram a suburbana para correr.

— Você acha seguro dirigir desse jeito? — Ruth perguntou preocupada.

— Sim. Preciso ir. Te amo. — Marília já ligava o carro...

Os seus pensamentos estavam uma loucura! Nunca imaginou que a Maraisa poderia fazer isso. Enquanto, dirigia para Natal, ligou várias vezes, deixou mensagem de voz, e quando o trânsito a obrigava parar, deixava mensagem de texto. Mas ainda não tinha sinal de sua esposa.

O desespero a fazia chorar. A vontade de gritar cresceu cada vez mais, ao imaginar a sua vida sem Lia e Maraisa. Isso não podia acontecer. Ela era o amor de sua vida. Amor da vida, só se tem uma vez. Não pode ser perdido.

Estava preocupadíssima. Ontem tinha sido horrível. Sim. Porém, em nenhum momento ficou envergonhada de sua esposa. Ficou com raiva de Lauana mais ainda por ter programado tudo aquilo. Ela tinha feito de propósito. E bem, deveria estar muito feliz nesse momento em saber que Maraisa tinha ido embora, mas não deixaria que ninguém destruísse a sua felicidade. Demorou tanto para ser feliz...

Sempre dialogou com Maraisa... Achou que o seu maior erro foi não ter aprofundando o assunto ontem. Deveria ter conversado, e afugentado todos os medos e dúvidas de sua esposa. Deveria também ter expulsado quando pôde a Lena e Walkiria.

Arrependia-se amargamente por isto.
Assim que chegou a Natal, foi até o endereço de Maraisa, mas para a sua frustração. Não tinha ninguém.

— A senhora não viu a moradora daqui? — Marília perguntou para vizinha.

— Ela estava mais cedo. Pegou algumas coisas e foi embora.

— Sabe para onde?

— Não.

— Obrigada. — Marília forçou um sorriso.
Inicialmente, Marília não soube o que fazer.

Engoliu a vontade de chorar e voltou para o seu carro, foi para o seu apartamento. Assim que chegou ao mesmo, desabou no choro. Isso era um pesadelo. Uma brincadeira de mau gosto. Não podia perder tudo da noite para o dia. Não era justo! Voltou a ligar para Maraisa...

Essa agonia demorou por mais uns dias. Como estava em Natal, agilizou o repasse do seu SPA. Estava mau humorada e muito infeliz. Fazia dias que procurava Maraisa sem nenhuma resposta. Pensou seriamente em acionar a policia, porém, a mesma não estava sumida, só não queria ficar com ela.

Estava sofrendo muito. Sentia uma saudade tão grande que parecia que todo o seu corpo era rasgado ao se lembrar da Lia e Maraisa. Com os dias também, veio à dúvida. Será que a Maraisa realmente a amava? Para lhe abandonar no primeiro obstáculo? Não se deu o trabalho de tentar superar, ou consertar. Simplesmente, escolheu o caminho mais fácil: Fugir.

Três vezes ao dia, iria á casa de Maraisa, mas sempre tinha a mesma resposta dos vizinhos: “Não apareceu mais”. Certa vez, ficou acampada em seu carro para ver se a morena surgia, porém, não. Para frustração de Marília.

O celular sempre dava desligado. Não tinha nenhum outro número de contato. Aparentemente, Maraisa não tinha amiga. Era tudo muito vago. Lotou o correio de voz da morena... As mensagens eram aleatórias, algumas imploravam para que voltasse, outras apenas chorava e se declarava, e outras – muito poucas – dizia o quanto á odiava por lhe fazer sofrer dessa forma.

Mas nunca recebia retorno de nenhuma. Também o celular nunca estava ligado.
Onde Maraisa tinha se metido? Sabia que estava em Natal. Mas onde?

Depois de mais uns dias, as tentativas continuaram frustradas. E Marília começou a se conformar que era isso... O fim. Queria morrer. Queria arrancar o seu coração para nunca mais sentir aquela dor que estava lhe comendo viva. Tinha emagrecido, e era bem nítido. Até a Naiara tinha questionado sobre o seu peso. Também pudera, não estava comendo e sempre que chegava ao apartamento, procurava uma garrafa de bebida.

Sofrer por amor era uma droga!

Repassou o ponto. Vendeu o seu apartamento. Maraisa continuou desaparecida. Danilo estava furioso com a morena também, por ter levado a sua filha sem ao menos dizer uma palavra. Os dois estavam desesperados, com medo de que nunca mais nessa vida pudesse ver o lindo rostinho da Lia... E para Marília, não era apenas Lia, mas como também a Maraisa.

Aceitando com muito contragosto de que a Maraisa realmente não a queria... Voltou para Recife. Não ficou na casa dos pais, não iria suportar olhar para cara da Lauana. Ficou em seu apartamento. O mesmo que tinha comprado para viver com Maraisa... Afundou a cabeça na decoração do seu novo SPA, e também do seu apartamento. A dor estava bem viva e latente em seu peito, porém, quando ocupava a mente, tudo fica menos insuportável...


:(

MARATONA 4/10

Faz De ContaWhere stories live. Discover now