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Maraisa terminou de pentear os cabelos de Lia. Já a tinha a banhado e colocado a sua roupinha de dormir. Estava quase na hora de dormir. Sempre colocava a Lia na cama cedo para gerar bons hábitos. Eram oito horas da noite, a tolerância máxima era de oito e meia.

Felizmente, estava sem febre e parecia mais animadinha. Tinha brincado com os seus ursinhos e falado a língua dos bebês, o que rendeu um vídeo filmado no celular. Maraisa amava filmar e tirar foto de sua filha.. O seu coração explodia de amor sempre que a olhava. Como resistir as bochechas enormes e olhos grandes e amáveis?

— Você é um grande pedacinho de algodão doce! — Maraisa falou com amor e segurou suavemente as bochechas da filha, dando um beijinho na pontinha do seu nariz, o que rendeu uma gargalhada de Lia. Ela também riu. — Gostou disso não é? — Deu outro beijinho na pontinha do nariz.

Lia soltou mais uma gargalhada, mantendo os olhos fixos na mãe. Maraisa amava escutar essa risada á toa da filha, soltou as bochechas dela e fez um carinho em sua cabecinha cabeluda.

— Não cresça nunca... Continue sempre pequeninha, promete pra mamãe?

Lia não entendia nada, então, balançava os braços animadinhos. Maraisa deu outro beijo, agora na testa de sua filha e a pegou nos braços.

— Hora da papinha e depois caminha. — Maraisa informou indo para a cozinha com a sua filha.

Lia segurou em seu cabelo, enquanto pronunciava: — Mama, mama, mama!

— Sim meu amor. É a mamãe. — Deu outro beijinho, agora na bochecha.
Pegou a mamadeira de Lia em cima da pia e foi para a sala. A televisão estava ligada no jornal. Sentou-se no sofá e estendeu as pernas para cima do centro. Os seus pés estavam destruídos. Ajeitou a Lia em seu colo, e a deu mamadeira, enquanto, ninava o corpo da mesma. Lia colocou as mãozinhas na mamadeira, e começou a mamar lentamente.

Apesar de estar com os olhos fixos na televisão, não prestava atenção no noticiário. Estava tensa, não ficaria em paz até entregar o cheque para o homem cujo não sabia nem o nome. Enquanto não pagasse a dívida do seu pai, não se sentia segura e temia pela segurança de sua filha.
Lia era o seu bem precioso, a coisa mais importante em sua vida, não se importava com nada. Só com a sua pequena. Mexesse com ela, mas não mexesse com a sua menina. Olhou para a sua princesa que já estava com expressão sonolenta e parecia que manter os olhos abertos era uma grande dificuldade.

— Eu te amo, e nunca deixarei que alguém faça mal á você. — Murmurou com olhos amorosos.

Não demorou muito para Lia terminar o seu mingau. Maraisa tirou a mamadeira dela, e ficou a ninando até que o sono fosse maior do que sua vontade de se manter acordada. Quando constatou que sua filha dormia, levantou-se com cuidado e a levou para o quarto, deitando-a no berço. Ajeitou o seu corpinho no colchão e depois a cobriu. Lia gostava de dormir de barriga para baixo. Depois fechou o mosqueteiro e voltou para sala.

Estava exausta. Emocionalmente e fisicamente. Os seus pés estavam repletos de bolhas e o seu joelho doía, apesar dos cuidados de Marília. Foi até a cozinha preparar alguma coisa para comer, fez um miojo rápido e abriu uma garrafa de vinho. Uma taça não iria fazer mal.

Voltou pra sala com a sua taça de vinho numa mão e um prato de miojo na outra, sentou no sofá e se preocupou em comer. A primeira refeição decente do dia, já que quando chegou em casa, se preocupou em arrumá-la e reforçar a segurança da porta e das janelas com pedaços de madeiras.
Morava em Parnamirim, era uma cidade amigável, bem próximo de Natal. Porém, a sua casa era pequena, com apenas uma sala, um quarto, uma cozinha e um banheiro. Nem tinha quintal! Apenas um terraço pequeno. Mas estava ótimo, era solteira e Stella pequena, não precisava de espaço.

Tinha acabado de comer o seu miojo quando o seu celular começou a tocar. Torceu a boca, era o inconsequente do seu pai.

Atendeu furiosa.

— Como pode fazer isso comigo, papai? Como pode fazer isso com a sua neta? Lia tem apenas um ano e dois meses e já está sendo ameaçada por sua inconsequência e seu egoísmo por pensar em si próprio! — Maraisa bufou, não dando tempo de o seu pai falar. — Dez mil reais? O senhor ficou louco de vez? E pra que precisou de tanto dinheiro?

— Docinho. — Marco começou, sempre usava o apelido de infância dela quando queria um perdão rápido. — Sei que está irritada.. — Maraisa o interrompeu.

— Irritada não, estou furiosa! A vida da minha filha está em risco por sua causa! Como se sente sendo o responsável pelo mal de um ser tão puro e indefeso como a Lia?

— Sinto-me péssimo. Eu não queria que isso tivesse acontecido, estava correndo atrás dessa grana, mas não estou tendo sorte e o prazo do João está se encerrando. — Seu pai tinha a voz arrasada.

— Não me diga. — Maraisa falou ironicamente. — Você queria que isso acontecesse sim! Caso contrário, não teria falado de mim e Lia para esse canalha! Ele praticamente me sequestrou para dentro do seu carro e começou a me ameaçar como um psicopata. Por que você pega dinheiro com esse tipo de gente? Existem bancos!

— Ele descobriu, na realidade.. Ele arrancou as informações de mim. — Marco lamentou. — Os bancos não me emprestam mais dinheiro, estou endividado com eles, então, rumei para um agiota, estava precisando mesmo da grana. — Maraisa fechou os seus olhos com força, sentindo a sua cabeça aumentar a dor. — Não peguei dez mil, foram cinco... Os cinco mil extras foram de juros.

— Ladrão. — Maraisa resmungou. — Mas o senhor não me respondeu para que precisava desse dinheiro!

— Pra minha cirurgia de vesícula. — O seu pai respondeu. E boa parte da raiva de Maraisa foi embora. — Estava tendo muitas crises de vesícula, e minha cirurgia no hospital público sempre era remarcada, não estava suportando mais e fui num médico particular que deu o preço, não tive muita opção, mas se eu soubesse que isso iria sobrar pra você, nunca teria pedido, iria preferir morrer com a vesícula estrangulada. — Marco dramatizou.
Ao menos, não foi em jogo. O que era menos mal.

— Sente-se melhor?

— Sim. Estou bem.. não totalmente. Filha.. Você tem o dinheiro para pagar?

— Felizmente tenho! — Maraisa trocou o celular de mão. — Amanhã darei o dinheiro para aquele crápula, mas só lhe digo uma coisa, papai.. Nunca mais fale de mim e de Lia! Para ninguém. Não temos culpa e nem responsabilidade pelas suas dívidas. Irei pagar essa, mas apenas essa e não me importa o motivo.

— Certo. Certo. — A voz de Marco parecia dez tons mais altos. — O importante é que você tem o dinheiro e que todo mundo sairá bem. Prometo que ninguém irá mais cobrar á você. Eu te amo minha filha e obrigada por isso. — Desligou.

Maraisa revirou os olhos e olhou para o seu celular. O seu pai deveria ganhar o prêmio de cara de pau, foi apenas saber que ela tinha o dinheiro que desligou. Colocou o celular em cima do sofá e se concentrou em tomar a sua taça de vinho.. A sua mente foi invadida por olhos grandes e claros.. verdes e caramelizados.. Os olhos de Marília.

Será que o destino colocou a dívida do seu pai em seu caminho para que ela fosse obrigada a aceitar a proposta de Marília e ficarem juntas?
Deu uma risada cética. O vinho estava começando a fazer efeito...

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Faz De ContaWhere stories live. Discover now