Faz De Conta

17

O jantar tinha se encerrado muito antes do que imaginado. Ruth e Mário saíram para desfrutar a noite. Lauana tinha sumido, mas pela maneira que estava soltando fogos pelas ventas, deveria ter ido para o quarto ou qualquer lugar que pudesse extrair o seu mau humor. Maiara foi para a sala de cinema. Marília foi para o quarto, estava cansada, não tinha descansado desde que chegou de viagem e suas costas estavam pedindo arrego. E Maraisa foi preparar uma mamadeira para Lia que ainda estava dormindo. A empregada queria ajuda-la, mas a dispensou com educação, não queria causar nenhum incomodo.

Fez o mingau de sua filha e colocou na mamadeira, depois lavou a louça que sujou. Teve um pouco de dificuldade de encontrar algumas coisas naquela cozinha ampla e espaçosa, mas felizmente, conseguiu.
Estava muito cansada. E se fosse assim todos os dias que permanecesse nessa casa? Não era uma pessoa paciente, iria explodir com a Lauana e não iria demorar muito.
Pegou a mamadeira que já estava morna e quase morreu do coração ao se virar. O Gustavo estava bem atrás de si com os olhos frios e um copo de uísque na mão. Olhou para os lados, não queria ficar sozinha com ele, mas infelizmente, não tinha ninguém.

— O que você está fazendo aqui? — Gustavo falou baixo, mas sua voz estava trêmula. — Descobriu onde eu morava, seduziu a minha irmã e veio para infernizar a minha vida?

Maraisa franziu o cenho.

— Óbvio que não. Não sabia que Marília era a sua irmã e muito menos tenho a pretensão de infernizar a sua vida, o que aconteceu foi uma surpresa do destino.

— De muito mau gosto! — Gustavo coçou a barba. — Eu não queria vê-la nunca mais.

— Muito menos eu. — Maraisa retrucou.

— E essa menina? A tal da Lia?

— O que tem a minha filha? Não a coloque no meio desta história. Ela é apenas a minha filha, só minha! — Maraisa esbravejou na defensiva.

— Quem é o pai dessa criança? — Gustavo ignorou.

Maraisa olhou para o Gustavo... Não tinha nenhum sentimento com ele. Nem negativo e muito menos positivo. Era um ninguém para ela.

— Você sabe muito bem quem é o pai. — Ela respondeu friamente.

Gustavo deu uma risadinha quase histérica, depois esmurrou com força o balcão, assustando a Maraisa que deu um passo para trás, mas ele foi mais rápido e a segurou pela mandíbula. Ela arfou de dor quando os dedos magros apertaram os ossos de sua mandíbula, fazendo-a abrir a boca.

— Você contou a Marília sobre isso? — Gustavo perguntou perto demais, dava pra sentir o hálito de bebida. — Responda! — Gritou.

— Não! — Maraisa respondeu com dificuldade, os seus olhos enchendo-se de lágrimas por conta da dor.

Ele a analisou bem. Depois de uns segundos que foram anos para a Maraisa, a soltou. Ela esfregou as suas bochechas a dor indo aliviando aos poucos.

— Se você contar alguma coisa, juro que eu a mato! Ouviu bem? — Gustavo apontou o dedo para ela.

— Sim!

Maraisa não esperou mais, passou por Gustavo e foi em direção do quarto praticamente correndo. O seu coração estava aos pulos. Antes de entrar no quarto, limpou os olhos e respirou fundo. Abriu a porta e deparou-se com Marília sentada na cama com os olhos fixos em Lia.

— Ela acordou? — Maraisa perguntou ao fechar a porta e se aproximar. Odiou por sua voz ter saído trêmula.

Marília a olhou.

— Não. Ainda está dormindo... O que aconteceu com o seu rosto? — Marília se levantou e tocou as bochechas de Maraisa.

Maraisa respirou fundo, obrigando-se a manter sóbria, sem nenhuma lágrima de choro.