61

2.1K 260 145
                                    

Cada pessoa tinha um jeito muito diferente de reagir á dor. Porém, Marília e Maraisa estavam reagindo da mesma forma: Afundando-se no trabalho. Quanto mais trabalhasse, mais ficava com a cabeça cheia e esquecia que o coração estava quebrado.

Marília fez pequenas inovações do seu SPA... Que estava com uma clientela muito boa.

Estava á quase dois passos para demitir a gerente. Não tinha se adaptado mesmo ao trabalho dela. Só não fazia isso porque estava choramingando para que Naiara aceitasse a sua oferta de emprego em Pernambuco. O salário seria um pouco mais alto, mas o serviço de Naiara era garantido e valia muito á pena.

Sua vida profissional estava uma maravilha... Mas a pessoal estava desastrosa. Desde o dia do hospital que não era mais a mesma, passava maior parte do seu tempo infeliz. Quando chegava a seu apartamento, se trancava no quarto e chorava tudo que prendeu durante o dia. Não estava vivendo, estava sobrevivendo.

O seu contato com Maraisa era praticamente nulo. Falavam muito pouco no whatsapp e quando o assunto era Lia. Fora isso, mais nada. Tinha visto á morena algumas vezes, mas sempre acompanhada da Rô. Ela parecia muito bem, feliz e leve...

Maraisa tinha conseguido ser feliz sem ela. Isso aumentava ainda mais a dor de Marília que não estava tendo o mesmo sucesso que a morena. Tinha esquecido á última vez que tinha sorrido... Parecia uma rosa murcha. Ultimamente até a sua alegria era muito triste. O mundo estava tão sem graça.

Sempre que deitava á cabeça no travesseiro, a sua consciência martelava.
Sentia-se culpada, também sentia muito remorso por tudo. Deixou que o seu egocentrismo, e o seu egoísmo fosse mais alto que o amor. Deu um passo maior do que as pernas, e quebrou-se. Tinha perdido a batalha.

Não era mais o amor de Mara... Percebia o olhar que a morena sempre lhe lançava nos breves encontros em uma padaria, ou até mesmo em restaurante. Era um olhar de pura decepção temperado com desprezo, principalmente quando era direcionado para a sua barriga.

Ainda tinha o peso de uma gravidez em seus ombros. Sentia-se tão perdida. Era horrível á noite, sentia falta de Maraisa em todos os momentos. Ás vezes se pegava relembrando os momentos felizes e prazerosos que passaram juntas era isso que aquecia o seu coração, mas a chama não ficava acessa muito tempo, pois, o seu cérebro não a deixava esquecer que se estava daquele jeito era a consequência de sua atitude.

Não estava suportando mais nem á si mesma. Não estava dormindo direito, passava maior parte da madrugada em claro, remoendo as suas mágoas. Só estava comendo direito porque Ruth, Maiara e Murilo ficavam em seus pés. Estava grávida e não podia se desleixar dessa forma com o bebê.

Era estranho perceber que estava grávida... Que tinha um ser dentro de si, crescendo e se tornando forte. Quando anunciou a gravidez para a sua família, e o fim do seu casamento foi um choque, principalmente para os seus pais, mas receberam a ideia de ter um neto com muita felicidade. Mas ficaram entristecidos por ela, e Maraisa. Ficaram entre á alegria e tristeza, porém, a alegria de um bebê ofuscou qualquer tristeza.

Um pouco de alegria para Ruth e Marília que estavam se recuperando do trauma. Foi desgastante ter que presenciar o Caio preso, e contando tudo que sabia da Lauana. Como tinham influência, o julgamento do Caio foi bem rápido. Como ajudou com a investigação, teve uma redução de dois anos de sua pena, porém, foi julgado por tentativa de assassinato. Cumpriria a sua pena na cadeia federal.

Enquanto, o Caio pagava a sua dívida com a sociedade, Lauana continuava foragida. A mulher tinha sumido. Bebeu água de sumiço. Ninguém sabia dela, e muito menos ouviu falar. Era como se nunca tivesse existido. Ruth percebeu muito tarde que as suas joias foram roubadas. Ficou triste, mas era um bem material, poderia ter outras. A única coisa que queria era a segurança de sua família. Tinha uma sensação de que Lauana estava muito próxima, apenas observando e esperando para dar o bote. Mário fez o que prometeu, contratou seguranças particulares. Isso causava um pouco de paz em Ruth.

Gustavo tinha se recuperado do seu pós-operatório e estava trabalhando. A sua agência de viagem estava no eixo. O seu casamento estava bem. Ao menos na vida dele, tudo estava na linha.

Maiara continuava morando com Marília. Mas como estava cursando a faculdade de filosofia na Federal, não tinha muito tempo de estar em casa. Achava péssimo por conta da sua irmã. Estava ficando com algumas meninas, mas vez ou outra.

Porém, o seu pensamento se prendia em Rô.. Achava um absurdo e sempre mudava de foco. Porém, era difícil de esquecer uma presença marcante.

Marília não sabia do dilema de sua irmã. Estava mais presa em seu dilema do que qualquer coisa. Queria sair desse poço que estava vivendo. Queria ter gosto novamente pela vida, mas parecia impossível. A cada respiração, o seu coração se rasgava mais.

Estava em seu escritório. Era uma sexta-feira, e o relógio marcava pouco mais de meio-dia. Rodava a caneta em sua mão esquerda, o seu olhar se prendeu em sua mão sem anel... Havia retirado á aliança. Mas estava a usando pendurado no pescoço com uma corrente. Usava as duas. Mas, como a corrente era longa, as alianças ficavam sempre escondidas por debaixo de suas blusas.

Queria voltar no tempo, iria fazer tudo diferente. Sentiu-se melancólica, não demorou muito para que as suas lágrimas escorressem. Buscou um lençol de papel para limpá-las. Não aguentava mais essa tristeza! Estava vivendo em um eterno luto. Escutou duas batidas na porta do seu escritório, limpou as lágrimas rapidamente e pediu para a pessoa entrar.

- Desculpe-me interrompê-la, Marília. - A sua secretária disse. - Mas chegou uma correspondência para você.

- Obrigada. - Marília respondeu ao pegar a correspondência.

Sua secretária saiu, deixando-a sozinha. Olhou para o envelope dourado. Parecia mais um convite. O abriu por curiosidade já que não tinha nenhum interesse de ir para nada. Fazia exatamente três meses que não saia para canto nenhum, a sua rotina era casa e trabalho. E ás vezes, a casa dos seus pais.

Leu o convite, mordeu o lábio inferior. Um misto de sensações lhe atingiu. Era um convite de Maraisa para o seu espaço que seria inaugurado essa noite... Finalmente Maraisa iria realizar o sonho de ter a sua clínica de designer de sobrancelhas. Infelizmente, Marília não fez parte da construção desse sonho, mas Rô sim... A costumeira sensação de perda latejou em seu peito.

Marília sufocou... Era surpreendente que Maraisa tivesse a convidado. Iria. Qualquer segundo perto do seu amor lhe deixaria feliz. Deu um sorriso triste, á que ponto chegou!

Estava na ruína sem nenhum sinal de rendição...


Só observo...

Autora ta apaixonando garela :(

Faz De ContaWhere stories live. Discover now