Levantei gentilmente as palmas de minhas mãos esperando que aquele Atokirina, escarlate como sangue, pousasse tranquilamente na mesma. Seu espirito era doce e gentil, mas estava assustado, pois sua vida acabara antes do tempo. Desde a chegada do Povo do Céu em Pandora, cenas assim se tornaram comuns no santuário. Porém, a alma desse Na'vi não devia estar ali.
— Senhora? — Ouvi a voz preocupada de Liö, minha fiel ajudante, logo atrás de mim. — Senhora, o que aconteceu com este Atokirina? Por que essa cor?
— Este Na'vi teve sua vida interrompida. Foi arrancado de sua família muito cedo. — Respondi-lhe sem desviar minha atenção.
— Oh, pobrezinho. Ele ficará em paz aqui conosco.
Liö se aproximou de mim e levantou suas mãos para que eu passasse o Atokirina para ela. Mas eu não fiz. Liö ficou confusa, pois era ela quem levava as almas recém chegadas para o Bosque, onde podiam descansar em paz.
— Liö, conhece este espirito?
— Não, senhora. Nunca vi um com essa cor antes. Me parece... Que está em agonia.
— Atokirinas escarlates são bem raros, concorda? Só há dois motivos para que façam a passagem com essa cor: em suas vidas foram alguém com o coração corrompido pelo ódio ou tenham tido uma morte brutal ou... Como no caso desse, tiveram suas vidas interrompidas antes do tempo e indevidamente, causando uma alteração no equilíbrio da linha do tempo.
— Acho que não entendi, senhora.
— Este Na'vi não devia estar morto. Quando este espirito foi criado, vi que teria uma vida maravilhosa, apesar dos pesares.
Mas com essa alteração, a morte dele se tornou importante para os acontecimentos que estão por vir.
— Mas isso está cada vez mais comum depois que o Povo do Céu veio para Pandora. — Comentou Liö.
— Sim, é verdade. Mas este Na'vi não é como qualquer outro. Ele é o primogênito de Jake Sully com Neytiri te Tskaha Mo'at'ite.
Liö chocou-se com a informação.
— Neteyam?
— Sim. Como filho mais velho, ele seria o próximo líder do clã Omatikaya.
Voltei minha atenção para a Árvore Sagrada. Em sua frente havia um pequeno lago, cuja água era tão cristalina que podia se ver os pequenos peixes nadarem por ela. Deixei o Atokirina com Liö e me ajoelhei perante o lago, colocando minhas mãos em forma de concha em suas águas calmas e levemente aquecidas. Quando as tirei, formei uma pequena bolha, do tamanho de minhas mãos, e vi como aquele pequeno Na'vi morreu. Um tiro em seu busto havia lhe tirado a vida. Sua família ficou devastada com sua morte, principalmente seu irmão. Pude sentir seus batimentos cardíacos cessarem em minhas mãos, como se eu mesma estivesse o segurando naquele momento.
— Que morte mais horrível — Liö disse com a voz levemente trêmula — Pobrezinho, deve ter ficado muito assustado.
Deixando que a bolha escorresse por meus dedos, olhei para a Árvore Sagrada limpando uma lágrima que escorrera. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios.
— Oi, Mãe.
A árvore balançou seus enorme galhos com o vento. Uma brisa suave tocou-me o rosto, como se estivesse me acariciando. Fechei os olhos por um breve momento, sentindo aquela sensação de calma e tranquilidade que minha mãe trazia.
— Viu o que aconteceu com este Na'vi, não viu? Tenho sua permissão para trazer seu corpo aqui?
— Senhora?! O que está fazendo?
Ignorei Liö.
— Quero ele aqui, Mãe. Seu espirito não está em paz como os outros e eu sei que ficando aqui, posso fazer com que ele fique. Sabe que ele merece. Ele é um garoto bom.
Todo o ambiente estava quieto. Não havia o trotar dos Pa'li ou o canto dos Syaksyuk. Havia apenas o silêncio. A Grande Árvore estava quieta, nem mesmo suas folhas ousavam cair. Ter meu pedido negado era algo raro, mas quando acontecia, sabia que não devia insistir.
— Eu entendo, Mãe. Eu pedi muito, não foi? Por favor, me perdoe. Liö, pode levá-lo ao Bosque, sim?
Esperei que a mesma se afastasse, mas não ouvi seus passos perto de mim. Liö encarava algo a alguns metros de onde estávamos e, olhando na mesma direção, percebi que havia algo azul em meio as raízes da Árvore Sagrada. Era um corpo Na'vi. Agradecida, corri até o corpo, acompanhada de Liö.
O corpo era jovem. Em seu busto havia uma marca pequena e arredondada, já cicatrizada. Era ele, eu sabia. Meu pedido fora atendido.
— Esse é o...?
— Neteyam. — Sorri.
Pegando cuidadosamente o Atokirina de Liö, coloquei-o sobre o corpo inerte, rodeado de pequeninas raízes incandescentes, que grudavam em sua pele. O pequeno espirito pairou sobre o peito de Neteyam e pousou seus pequeninos tentáculos em cima do mesmo. Após alguns longos minutos, depois que a luz do Atokirina se apagou, Neteyam estava diante de nós com um olhar confuso e assustado. Sua mão fora involuntariamente para o lugar onde estava a cicatriz e vendo que não havia qualquer gota de sangue, se assustou mais ainda.
— Fique tranquilo. Está seguro aqui. — Falei calmamente.
— Que lugar é esse? Onde estou?
— É um pouco difícil de explicar... Você acordou agora, deve estar confuso. Por favor, fique calmo.
— Isso é óbvio. Quem são vocês? — Ele olha diretamente para mim — Quem é você?
— ... Eu sou Zaya. Filha de Eywa.
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Zaya - Princesa De Pandora
FanfictionZaya é descendente direta da Grande Eywa e governante do Mundo Espiritual, um lugar tão incrível que mortal ou Na'Vi nenhum jamais viu. Em um dia como qualquer outro, Zaya recebe em seu mundo um Atokirina diferente de qualquer outro que já tenha pas...