Zaya - Princesa De Pandora

Capítulo 43

— Por que seu bichinho não vem para fora, Zaya? Por acaso ele está com medo? — Zombou um dos guerreiros Ash, passando em frente a minha porta.

Furiosa, peguei uma faca e atirei em sua direção, acertando uma espécie de palmeira ao seu lado. O idiota riu, pegando a faca que estava presa na árvore.

— Achei que sua pontaria fosse melhor!

— Isso foi apenas um aviso, babaca!

— Aprendeu direitinho com o Sr. Sully. — Comentou Spider.

Ele estava confinado em minha tenda até que fosse seguro para ele, Jake e Kiri pegarem os Ikran e saírem da ilha. Por sorte, Tonowari interveio em minha discussão com Varang sobre Spider e conseguiu que o mesmo sobrevivesse, embora eu soubesse que se Spider colocasse um dedo para fora de minha casa, algum Ash o atacaria sem hesitar.

— Eles estão me irritando de um jeito que eu não consigo me controlar.

— É o quê eles querem. — Respondeu Neteyam — Não importa se terão mais uma tribo aliada ou mais uma que tenha sido subjugada por eles. Se o casamento não der certo, é provável que matem o nosso olo'eyktan e sua família. E ainda irão oprimir aqueles que não tenham como se defender.

— Querem acabar com os humanos, passando por cima de sua própria espécie... — Observou Spider — Sabe, até que Na'vi e humanos não são tão diferentes. Quantos não morreram com aquele ataque da RDA?

— Essa coisa toda vai acabar aqui. Nem que para isso eu tenha que... — Percebi minha voz falhar quando vi os olhares confusos de Spider e Neteyam.

Irritada, afastei-me deles e fiquei na porta de casa observando qualquer Ash que ousasse se aproximar. Neteyam se aproximou de mim e segurou minha mão, pedindo para que eu me acalmasse.

— Eu nunca vi você desse jeito — Disse ele — Nem mesmo quando os humanos dizimaram parte da floresta. Lembra? Aquele dia em que estávamos nos recifes, no Mundo Espiritual.

— Como esquecer? Eu juro que não entendo, Ma'teyam. Como podem? Somos do mesmo sangue e mesmo assim, nos tratam como se fossemos nada. Eu quero pará-los, antes que façam alguma vítima.

— E o que está pensando?

— Que talvez seja a hora de conhecerem o verdadeiro poder de Eywa.

Neteyam assustou-se com essa informação.

— Disse que não tem permissão para usá-los aqui. Que não poderia mostrar seus poderes frente aos nativos.

— E não posso. Mas se eu não fizer algo, como vou poder proteger vocês? Eu não quero vê-lo como Atokirina de novo, Ma'teyam. Sua família e nenhum membro do Clã Metkayina merece passar por outro funeral.

Neteyam ficou calado, de repente. Sua expressão era de pura surpresa. Perguntei o que havia acontecido, mas o mesmo estavam tão estático que nem respondera. Olhei para Spider em busca de respostas.

— O que você quis dizer com Ma'teyam? — Perguntou ele.

Um sorriso começava a se formar no rosto de Neteyam, me deixando completamente sem jeito.

— Você nunca me chamou assim.

— Ah, só... Saiu.

— Aí, lembrem que eu tô preso aqui com vocês. Não quero ficar de vela. — Resmungou Spider.

Neteyam riu fraco, deixando um beijo casto em meus lábios.

Pouco tempo depois, Jake aparecera com Kiri e Neytiri ao seu lado, para buscar Spider. Neyetam e eu os acompanhamos até os Ikran, para garantir a segurança de Spider. Nos despedimos brevemente e eles alçaram voo. Neteyam iria dormir em minha casa, já que Ao'nung decidira voltar para a casa de seus pais, mas no meio do caminho, fomos abordados por Alev, Tsahìk do Clã Ash.

— Olá, família Sully. Está uma noite agradável, não? — Disse ela, calmamente.

Não parecia querer nos confrontar. Neteyam fez um pequeno gesto de cabeça, cumprimentando-a e Neytiri levantou seu queixo, com um olhar desafiador.

— O que quer, Alev? — Perguntei impaciente.

— Ah, nada demais. Estava tomando um ar fresco quando vi vocês. Eu só queria dizer oi.

— Hum... Oi.

Tentamos tomar o rumo de volta, mas Alev nos impediu.

— Zaya, gostaria de esclarecer uma coisa com você. Desde nossa chegada a nossa ilha, tenho notado algo diferente em você. Algo... Familiar.

— Sim, chama-se ódio.

Alev riu.

— É, pode até ser. Sabe, quando a vi pela primeira vez, achei que já tinha a visto antes.

— Deve ter me confundido com alguma Na'vi que já tenham matado antes.

— Não, Zaya. Sua energia é bem parecida com a energia que emana de Árvores das Almas. Será que você não está treinando para ser uma Tsahìk? Mesmo que em segredo.

— Os únicos treinamento que Zaya possui, são de combate. — Respondeu Neytiri, secamente.

Alec recuou um pouco.

— É, claro. Você nem mesmo vai a Árvore das Almas, não é? Acho que estou enganada. Bom, devo voltar a minha tenda.

Após dizer isso, Alev se afastou de nós. Neytiri soltou um de seus suspiros irritados, mostrando suas presas.

— Ela está bem de olho em você. — Comentou Neteyam.

— E como não estaria? A energia de Zaya é diferente de qualquer Metkayina dessa ilha. — Respondeu Neytiri, pegando a mim e Neteyam de surpresa.

— Mãe, a senhora também sente?

— Sou aprendiz de Tsahìk. Conheço energia de Eywa, mesma energia que Zaya possui. Mas não entendo como pode ser possível. Após sua morte, eu e seu pai paramos de nos conectar com Árvore das Almas, por você e por Kiri. Grande Mãe deve estar tão insatisfeita comigo e com minha família.

Tentando lhe trazer conforto, toquei gentilmente o braço de Neytiri. Ela não aceitou de início, mas permitiu quando viu que eu tinha alho para falar.

— Você é uma mãe maravilhosa, Neytiri. É uma ótima professora e guerreira melhor ainda. Você perdeu tanto em sua vida, é natural que tenha se afastado um pouco. Mas saiba que Eywa não está insatisfeita com você ou com sua família.

— Como poderia saber?

— ... Eu sou filha dela. Filha direta da Grande Eywa. Por isso, vocês Tsahìk, podem sentir minha energia.

Neytiri arregalou os olhos, como se processasse aquela informação. Neteyam tocou-lhe seu outro braço, perguntando se ela estava bem e Neytiri caiu de joelhos perante a mim, com seus olhos marejados.

— Não, Sra. Sully! Não precisa fazer isso!

— Me perdoe! Me perdoe!

— Mas perdoar pelo o quê? Por favor, se levante!

Neteyam me ajudou a colocar Neytiri de pé.

— Sra. Sully, não tem que pedir perdão por nada. Além disso, sou só filha de Eywa. E mesmo que a própria estivesse aqui presente, ela também não gostaria que se ajoelhasse.

— Mas... Vocês nos criaram.

— Para cuidarem de Pandora. Não para serem nossos servos.

— Diferente de algumas tribos. — Murmurou Neteyam.

— Farei de tudo para que eles saiam dessa ilha e nunca mais voltem e para isso precisarei de todo apoio possível, está bem?

Neytiri assentiu, sem dizer nada.

— Ótimo. Começaremos tirando mulheres e crianças dessa ilha e deixando elas temporariamente nas ilhas vizinhas. O resto será provavelmente uma guerra contra eles, por isso precisarei dos melhores guerreiros comigo.

Neytiri arrumou sua postura, dizendo que estava comigo.