Capítulo 59

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Toda a tribo Omaticaya estava ao nosso redor, nos dando às boas vindas. Moa't, líder espiritual, recebeu Neteyam de braços abertos, agradecendo a Eywa pela vida do rapaz. Observei esse reencontro lindo um pouco mais afastada e enquanto ouvia Neteyam conversar com sua avó, senti alguém cutucar minhas costas. Olhei em direção a quem me chamara, vendo uma menininha sorrir para mim e me estender suas mãos, segurando seu brinquedo. O objeto nada mais era do que um Ikran feito de madeira.

Abaixei-me ficando na ponta dos pés e segurei o brinquedo com cuidado, deixando-o sobre as palmas de minhas mãos. Utilizando do vento, fiz com ele voasse a alguns centímetros de minhas mão, fazendo a menininha sorrir. Correspondia ao seu sorriso e fiz o brinquedo voar por entre as árvores, vendo ela correr e rir alto tentando pegá-lo. Ela era muito linda e tinha o coração puro.

Quando ela conseguiu pegar o Ikran, percebi Moa't,  Neteyam e Kiri se aproximarem. Nervosa, ajeitei meu cabelo e deixei minha postura mais ereta possível, abrindo um sorriso tímido.

— Então, está é a garota de quem me falou. — Disse Moa't, me olhando curiosamente.

— Isso. Esta é Zaya, minha companheira. — Sorriu Neteyam.

Moa't colocou suas mãos em meus ombros e me olhou de cima a baixo, me analisando minuciosamente.

— Sinto grande poder de Eywa em você, Zaya.

— Bom, eu... Ai!

Quando me dei conta, Moa't me furou com um pedaço fino de madeira e provou de meu sangue. Suas orelhas se ergueram e suas pupilas dilataram quando a mesma sentiu o gosto. Neteyam ficou confuso e perguntou o que estava acontecendo, sem resposta. Moa't voltara a olhar para mim.

— Aproveite a estadia, Zaya, filha de Eywa.

Neteyam olhou para mim e depois para a sua vó, e depois para mim de novo, confuso. Após esse estranho encontro, Neteyam me apresentou alguns membros Omaticayas. Tarsem nos guiou até o campo, onde ficavam os Pali e permitiu que usássemos dois deles para passaermos. Percebi alguns olhares estranhos dos homens Omaticayas para Neteyam, e mais alguns estranhos das mulheres para mim. Kiri parecia não se importar e pegou as rédeas de um Pali que estava preso ali perto, trazendo-o para nós.
Fiz um carinho em seu focinho, pedindo permissão para montar nele. Após recebê-la, fiz o tsaheylu e o montei calmamente, ajudando Kiri a subir também.

— Geralmente nossos homens acabam caindo na primeira que tentam fazer a primeira ligação — Comentou Tarsem, líder do clã — Você foi bem tranquila.

— Podemos dizer que os animais me adoram. — Brinquei, vendo algumas meninas revirarem os olhos e até bufarem para mim.

Neteyam pegou um outro Pali e passeamos pelas florestas, até chegarmos ao pé das Montanhas Hallellujah. Hell's Gate ficava instalado na montanha ao lado, sem interferir na flutuação das outras montanhas. Neteyam e eu prendemos os Pali em uma árvore próxima e subimos as montanhas, desviando de pedaços em falso e cipós soltos. Após pularmos alguns troncos e nos pendurado em algumas rochas, finalmente chegamos ao habitat dos famosos Ikran.

Todos muitos lindos e temerosos com nossas presenças. Alguns eram azuis, outros verdes. Mas o que mais me chamou a atenção fora um Ikran albino com manchas rosas. Era tão lindo e majestoso que eu não conseguia tirar meus olhos dele. Neteyam aproximou-se um pouco, chamando por nós. Enquanto  caminhávamos sorrateiramente, percebi o Ikran branco olhar-me atentamente. Sua cabeça movia, mas seus olhos estavam fixos em mim.

Kiri, com uma corda em mãos, se aproximou e tentou fazer ligação com algum deles, mas sem sucesso. Sempre que se aproximava, Ikrans voavam para longe.

— Talvez hoje não seja um bom dia para pegarmos eles. — Comentou Kiri.

— Não. Hoje não é o seu dia. Zaya, essa sua chance. — Disse Neteyam.

— O q...?

— A Ikran branca. Ela te escolheu.

Voltei a olhar para ela. A única que não voara para longe, mas também não permitira que Kiri se aproximasse. Kiri jogou a corda para mim e eu a segurei firmemente, caminhando lentamente até o animal. Ela não tentou me atacar, mas ficou na defensiva.

— Qual é, Zaya! Não vale usar seus poderes! — Reclamou Kiri.

— Eu não... Eu não estou usando eles.

— Está nos dizendo que eles simplesmente permitem o tsaheylu?

— ... Sim.

Não ouvi uma resposta de Kiri, mas presumi que a mesma estava atônita com a informação. Dando mais alguns passos para frente, notei que estava encurralando a Ikran femea contra o penhasco, então, fiquei imóvel, permitindo que a mesma voltasse para o lado seguro da montanha. Eu sentia que conhecia a alma daquela Ikran e olhando mais atentamente para seus olhos, pude reconhecer seu espírito doce e corajoso do qual eu tive o prazer de receber em meu santuário de Atokirinas há vinte anos.

— Seze. — Sorri.

— A Ikran de nossa mãe? — Perguntou Neteyam, olhando chocado para Kiri.

— Não mais. Parece que ela retornou e escolheu sua nova parceira. — Respondeu ela, calmamente.

— Seze sempre será irmã de alma de Neytiri — Comentei baixinho — Mas ela está me escolhendo por algum motivo.

Curiosa, aproximei-me cautelosamente de Seze e toquei seu focinho. Ela estava calma e bem tranquila com aquela situação. Peguei em seu Queue e fiz o tsaheylu sem nenhum problema.

— Conseguiu descobrir o motivo? — Indagou Ma'teyam.

— Não. Ela só quer que eu fique com ela, mas não disse o porquê.

— Descobriremos depois, então. Agora... Está na hora de voar.

Senti um súbito entusiasmos surgir dentro de mim. Montando rapidamente em Seze, chamei Neteyam para me que acompanhasse nesse primeiro voo e ele aceitou prontamente, subindo em Seze e segurando firmemente minha cintura.
Seze andou até a borda do penhasco e caiu em quadra livre, deixando suas asas coladas ao corpo. Chegando próximo às árvores lá embaixo, Seze abriu suas asas e planou acima da floresta. O vento balançava nossos cabelos. O coração de Seze batia rápido e compassado, eu podia sentir. Nada podia ser comparado ao primeiro voo com seu Ikran.

Disso eu tinha certeza.

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now