Capítulo 39

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Após mais um dia de treinamento intenso com os guerreiros da guarda pessoal e logo em seguida com Neytiri, decidi andar um pouco pela vila. Alguns me cumprimentavam, mas não puxavam conversas. Ao me embrenhar mais para dentro, notei que uma mulher precisava de ajuda com alguns cestos de frutas pois estes estavam bem pesados. Ajudei-a carregar de volta a praia, onde colocamos juntos com outros cestos repletos de comidas.

— Isso tudo seria para o Festival da Pesca? — Indaguei olhando vagamente por aquela imensidão de peixes, frutas e demais alimentos.

— Ah, sim. Geralmente não preparamos tanto, mas como temos visitantes, o número de bocas para alimentar aumentou.

— Visitantes? Estão mais para invasores.

— Senhora...

— Por favor, me chama de Zaya, apenas.

A mulher pareceu um pouco sem graça, mas concordou com meu pedido.

— Está bem. Zaya... Eu não sei se estou fazendo certo comunicando isto a você antes de nosso olo'eyktan, mas esses... Guerreiros, devem sair da ilha o quanto antes. Há anos seguimos uma rotina rígida de caça e pesca e sempre soubemos o quanto deveríamos retirar da água e da natureza. Um equilíbrio, sabe? Mas com eles aqui, tivemos que pegar bem mais e se continuar nesse ritmo, não teremos mais comida e... Seremos obrigados a sair dos recifes. E todo mundo sabe que além dos recifes, há alguns Akulas rondando aquelas águas.

— Oh... É verdade. — Respondi baixinho — "O que o mar dá e o mar tira".

— Sim. E estamos tirando muito do mar.

— Fez o certo em me contar, irei informar Tonowari sobre essa questão. Muito obrigada.

— Será uma ótima líder, Zaya. - Ela sorri.

Lembrei-me de minha falsa posição de noiva de Ao'nung, sentindo-me estranha. Aquela sensação de me sentir presa a algo estava voltando a dominar, como quando Neteyam pediu para que eu saísse do Mundo Espiritual com ele e eu não sabia o que fazer. Tentando deixar meus pensamentos de lado, caminhei rumo a casa de Tonowari. Passei por alguns Ash enquanto andava e notei que eles conversavam baixinho e olhavam para os lados, como se estivessem conspirando. Aquilo realmente me incomodou a ponto de querer revelar o plano que eu e os outros elaboramos para Tonowari. Chegando em sua tenda, vi que o mesmo não estava sozinho, pois seus dois filhos, Varang, Alev e Ronal estavam com ele. Pareciam estar discutindo algo, mas pararam quando eu adentrei em sua tenda.

— Zaya? Aconteceu algo? — Perguntou Tonowari.

— Perdão, não queria interrompê-los. Posso voltar mais tarde para...

— Imagine. Do que precisa?

Todos olharam Tonowari com expressões confusas, mas o mesmo não parecia se importar. Tonowari saiu da tenda apressado, me levando consigo.

Olo'eyktan... Está tudo bem?

— Não, Zaya. Não está. Não sabe o quanto eu estava pedindo a Eywa que algo interrompesse aquela reunião. Ainda bem que ela a guiou até minha casa.

— E do que falavam? Se é que eu posso saber, claro.

Tonowari parou de andar, vendo que já estávamos longe o suficiente.

— É sobre o casamento de Tsireya. Varang quer que adiantemos os preparativos por que a mesma pretende ir até o Clã Omaticaya.

— Não... Não, ela não poder fazer isso! Próximo ao Clã Omaticaya está um laboratório de humanos. A família adotiva do Spider vive lá!

— Eu sei, mas nada do que eu pense parece ser o certo. Cada ideia minha infelizmente terá como consequência vários de meus aldeões feridos e até mesmo mortos.

— Talvez... Eu e meus amigos tenhamos um plano.

Tonowari franziu o cenho, curioso.

— O que pensaram?

— Iremos sondar os Ash na noite do Festival de Pesca. Queremos saber se eles são resistentes a substância da syulan'rim, e se caso não forem, usaremos isso contra eles. O problema, líder Tonowari, é o motivo pelo qual eu vim falar com o senhor. Nossa comida está acabando, pois há mais bocas para alimentar do que normalmente. Logo ficaremos sem alimentos e isso, em partes, poderá prejudicar nosso plano.

— E do que precisam?

— Então, pensamos em retirar as mulheres e crianças da vila primeiramente. Deixá-las em segurança nas Ilhas próximas. Mas para isso, precisaríamos de uma distração e infelizmente... O casamento de Tsireya seria perfeito para isso, embora eu não quisesse de maneira alguma que ela se casasse com alguém daquela tribo.

— Se o plano que estão elaborando funcionar, Zaya, eu mesmo anularei esse casamento. Tudo o que eu quero é que os Ash saiam logo de minha ilha. Então, se puder me explicar no que estão pensando, eu ficarei agradecido.

Notei alguns Ash caminharem próximos a nós, como e quisessem ouvir nossa conversa.

— Se me permite, líder Tonowari — Falei baixinho — Aqui não é melhor lugar para falarmos disso. O senhor deve retornar para a reunião, assim não levantaremos tantas suspeitas.

— Sim, você está certa. Posso me ausentar por alguns momentos, mas preciso saber onde poderemos nos encontrar para discutir melhor sobre esse plano.

— Se tem um lugar que os Ash não costumam ir é para o centro de nossa mata. Eu e os outros costumamos nos encontrar lá. Neteyam pode indicar o caminho.

— Certo, me certificarei de que não estarei sendo seguido e nos encontramos lá.

Assenti, baixando levemente minha cabeça, como forma de respeito e me separei de Tonowari. Voltei para minha tenda, afim de descansar um pouco. Ao'nung estava sentado comendo algumas frutas e não se importou nem mesmo em olhar para mim. Sentei-me um pouco mais afastada, observando as marcas tribais em seu corpo. As marcas realizadas em seu rosto, pescoço e peito simbolizavam a segurança que ele trazia à ilha central em que o clã vive. Já as marcações nos ombros dele simbolizavam que ele estava apto para proteger os muros da tribo da água de todas as ameaças que pudessem surgir. Havia também aquelas que estavam em seu braço, mostrando que Ao'nung era um bom caçador. Questionei-me se ele estava confortável com aquelas marcas todas sem ao menos ter conquistado sua meta pessoal.

— Você está bem, Ao'nung?

— Estou ótimo. — Respondeu secamente — A propósito, poderia parar de se encontrar com o A'tanvi Makto?

— O q...

— Não quero que as duas lideres dos Ash pensem que além de péssimo guerreiro, ainda tenho uma noiva que não me respeita.

— Bom, é um pouco inevitável já q ambos somos da guarda pessoal de seu pai e treinamos juntos.

— A partir de hoje Neteyam treinará sozinho e você começará a participar das reuniões e eventos que eu for. Você é noiva do futuro líder do Clã Metkayina, deve agir como tal. Fui claro?

Estática com essa atitude de Ao'nung, mantive-me calada. Ele tá... Me dando ordens?

— Fui claro, Zaya? — Tornou a repetir, aparentando zanga.

Assenti sem dizer uma palavra e Ao'nung saiu de minha tenda.

Zaya - Princesa De PandoraKde žijí příběhy. Začni objevovat