Capítulo 19

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Todos comentavam sobre o quão gostoso o peixe cozido de Neteyam estava. O próprio estava sem jeito com os elogios, mas quando me olhou e viu que eu estava de braços cruzados, Neteyam acabou rindo. Aquela era a receita de Liö e ninguém mais além de nós dois sabia disso.

— Vamos, mano. Diz aí qual é a receita. — Pediu Lo'ak.

— Não mesmo. Essa aqui vai ficar comigo para sempre.

— Qual é, não é justo. Mãe!

Neytiriu deu um sorriso pequeno para seus filhos, mas não disse nada. Kiri me olhava de vez em quando. Eu sabia que uma hora ou outra teria que falar com ela, mas não iria apressar as coisas.  

— Teyam, olha o que eu fiz hoje. — Tuk lhe mostrou uma cesta feita com casca de árvore e decorada com algumas flores.

— Bom trabalho, Tuk. Ficou ótima!

Tuk sorriu, satisfeita. Então, é assim que é estar em família.

Achei que seria muito desafiador me adaptar aos nativos, mas a família de Neteyam não era difícil de se conviver. Jake me entendia em relação a se sentir um peixe fora d'água, pois o mesmo já esteve nessa mesma situação e Neteyam fazia questão de me incluir em tudo na rotina da família. A única coisa que me preocupava era Kiri. Eu não sabia como abordá-la para falar sobre o assunto, tão pouco saberia explicar minha origem e nossa ligação.

— Algum problema, Zaya? — Perguntou Jake, baixinho.

— Não é nada, Sr. Sully.

— Notei os olhares curiosos de Kiri em você.

— Ainda não tivemos a chance de conversar, então, ela deve estar bem curiosa a meu respeito.

— Eu estava pensando nisso hoje. Vocês tem essa coisa com Eywa. Você é a filha direta e ela sempre tem desmaios quando se conecta a Árvore das Almas.

— Ah... Bom. A Kiri... Meio que é minha irmã.

Jake arregalou os olhos, incrédulo. 

— Tá de brincadeira.

— Não, senhor. Neteyam pediu para que eu a ajudasse e eu estou pensando numa maneira de fazer isso.

— Faça o que puder para ajudá-la, Zaya.

Assenti, voltando minha atenção para Kiri, que, naquele momento ria de alguma piada entre Lo'ak e Neteyam.

*********************

Acordei cedo no dia seguinte. Neytiri e Tuk já tinham ido pegar alguns legumes e vegetais quando passei em sua tenda e Lo'ak e Neteyam já haviam ido treinar com Ao'nung e os outros. Pensei em falar com Tsireya, mas vi Kiri sentada na areia sozinha, olhando para o mar.

Pensei, pensei e tomei coragem para falar com ela. Aproximei-me devagar para não assustá-la e chamei por ela.

— Hã? Ah, oi, Zaya.

— Eu posso me sentar com você?

Kiri virou-se para mim e fez um sinal para que eu me sentasse a sua frente. Eu o fiz, embora sentar lado a lado teria me trazido um pouco mais de conforto.

— Desculpe adiar essa conversa, eu não sabia como começar.

— É, eu imaginei.

— Pois é. Uh... Kiri... Acho melhor te dizer de uma vez. 

Kiri parecia estar me dando total atenção, o que me deixou mais nervosa ainda.

— Nós somos irmãs.

— C-como?

— Eu sei, é loucura. Mas posso tentar explicar. Os Atokirinas são responsáveis por carregar almas de toda a Pandora para o Mundo Espiritual, que é o lugar de onde eu vim. Eles trazem almas puras e levam de volta as que se foram. E como regra, almas humanas não podem retornar como Atokirinas puros, então, na tentativa de salvar a Dra. Grace, nossa mãe teve que fazer uma junção de almas. Ela juntou a alma da Dra. Grace com uma alma totalmente nova e depositou essa nova vida no corpo Avatar de Grace.

Kiri me olhava, estática. Seus olhos piscaram algumas vezes antes de voltar a realidade.

— Então, eu sou metade Eywa e metade Dra. Grace?

— Há mais de Eywa em você, do que da Dra. Grace. Por isso sofre desmaios quando tenta se conectar com ela.

— Acho que essa parte não entendi.

— Tudo bem, eu explico. Sempre que tenta se conectar com a Árvore das Almas, parte do poder de nossa mãe percorre seu corpo. É uma quantidade grande, por isso não aguenta tanto. Com ajuda e um pouco de paciência, conseguiremos resolver isso.

Kiri desviou seu olhar do meu. Era nítido sua confusão.

— Então... A Dra.Grace não é minha mãe? — Perguntou receosa.

— Claro que é. Dra. Grace, Eywa, Neytiri... Todas elas são parte de você.

— Quando tento me conectar com a Árvore das Almas, sempre vejo Grace. Ainda continuarei a vê-la se eu optar por esse "treinamento"?

— Acredito que sim.

Kiri olhou para suas mãos, pensativa. Sua cauda abanava de um lado para o outro, mostrando-me sua inquietação.

— Kiri, eu vou te ajudar. Vai dar tudo certo.

Kiri voltou a me olhar, dessa vez com um sorriso pequeno em seu rosto.

— Eu sei. Neteyam me disse que eu devia acreditar em você. E eu confio no meu irmão.

Sorri meio sem jeito.

— Ele é um bobo. — Comentei baixinho.

— Sabe, eu nunca o vi assim. Jake sempre exigia demais dele e Neteyam sempre foi mais fechado. Mas desde que ele voltou, eu o vejo mais feliz. Acho que devo isso a você.

— Não, eu não mereço todo o crédito. Eu tenho uma irmã, de alma. Ela me ajudou a cuidar dele. Ela vivia comigo no Mundo Espiritual e quando eu decidi vir para, ela me apoiou.

— Ela parece ser bem legal. E o que te fez vir para cá?

— ... Ele.

O sorriso de Kiri se abriu mais e a própria parecia bem empolgada.

— Sabia! Eu vi como vocês dois se olham! Uau... Isso é tão legal!

Soltei uma risada fraca, desviando meu olhar. Kiri deitou-se na areia e ficou olhando para o céu. Depois de nossa conversa, eu senti que o clima entre nós duas havia melhorado bastante.

— Kiri, onde está Spider?

— Ele voltou para a floresta Omatikaya. Lá tem uma base dos humanos do qual somos aliados, onde a família adotiva dele está. Ele vai retornar em alguns dias. Bom, eu acho.

— Ele volta, sim. Pelo pouco que vi do Spider no Mundo Espiritual, ele se identifica mais como Na'vi do que como humano.

— Ah, mas isso é porque fomos criados juntos.

— Também.

Kiri me olha confusa.

— "Também"? Como assim "também"?

E quando abri minha boca para responder-lhe, alguém chamou por Kiri.

— Rotxo? 

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now