Capítulo 3

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Por muitos dias eu não via muito Neteyam. No primeiro dia, eu não o vi. Liö me informou que o mesmo não queria conversar com ninguém. Respeitei seu pedido. No segundo dia, vi Neteyam sentado sobre as raízes da Árvore Sagrada conversando com a mesma, enquanto uma de suas mãos tocava o tronco áspero. Não o incomodei naquele momento. No terceiro dia, vi ele ajudando Liö no pomar, pegando algumas frutas e se divertindo com ela. Fiquei feliz em ver que ele estava sorrindo, mesmo que ainda não estivesse preparado para falar comigo.

Os dias foram passando e cada vez mais eu via Neteyam se aproximar de Liö. Sempre estavam juntos por onde quer que fossem e eu confesso que não gostava muito.

Eu não queria incomodá-los, mas aquela situação não me parecia certa.

Confusa, fui até a Árvore Sagrada. Como todas as vezes, o ambiente ao redor estava tranquilo. Sentei-me em suas raízes e toquei-lhe o tronco, sentindo a áspera madeira em meus dedos. O pequeno lago situado a sua frente também estava calmo, com alguns Atokirinas recém-formados pairando a sua volta.

— Oi, Mãe. Como está?

Uma brisa suave balançou alguns fios de cabelo meu.

— Preciso de orientação. Neteyam tem estado bem distante de mim e muito próximo de Liö. Não gosto de sentir esses sentimentos ruins, então,  como faço para eles sumirem? Talvez se eu me mantiver afastada, esses sentimentos irão embora ou...

— ...Ou se juntando a nós.

Tomei um susto ao ver Neteyam ali, próximo a mim. Seus olhos amarelados estavam fixos nos meus e eu não sabia dizer qual expressão era aquela em seu rosto. 

— Neteyam? Há quanto tempo está aí?

— Não muito. Desculpe por ouvir o que estava dizendo.

— ... Tudo bem.

Abracei meus joelhos, desviando meu olhar do seu. Neteyam também se sentou em cima das raízes, olhando para o pequeno lago a nossa frente. Os peixinhos pareciam dançar enquanto nadavam, o que me distraiu por um momento.

— Disse que estava sentindo sentimentos ruins. — Comentou ele — Quais sentimentos? 

— Uh... Eu não sei.

Neteyam me olhou confuso.

— Como não?

— Eu conheço tudo sobre Pandora e seus habitantes, mas eu não sei muito sobre emoções. Nunca soube lidar com elas. Até porque... Fui criada apenas para manter Pandora em equilíbrio e segurança.— Admiti baixinho.

Neteyam ficou em silêncio depois disso. Observei alguns traços seus, achando-o muito bonito. Seus olhos estavam fixos no lago, como se estivesse pensando em algo. Sua calda balançava lentamente de um lado para o outro, pergunto-me o que estava o deixando preocupado.  

— Sinto muito que tenha se sentido sozinha — Disse sem me olhar — Tudo é muito novo para mim e eu também não sei lidar com o que sinto.

— Ah... Tudo bem.

— Não. Como eu, um simples Na'vi, pude ignorar a filha de Eywa? Que me trouxe de volta e foi tão boa para mim.

— Pode referir-se a mim como uma amiga, Neteyam. Afinal, é isso o que somos, certo?

Neteyam me olhou por alguns segundos, mas logo desviou seu olhar novamente.

— Isso. Amigos.

Um vento forte passou por nós, me assustando. Era muito raro isso acontecer, por isso, num ato involuntário, levantei-me e olhei para Árvore Sagrada.

— Mãe? O que foi?

Outra rajada de vento. Tão forte que me desequilibrou, fazendo com que Neteyam me segurasse para eu não cair. Sem jeito, logo arrumei minha postura sem olhar para ele. Toquei a madeira novamente. Já entendi, mãe. Ele é minha responsabilidade, mas não precisa me jogar literalmente em cima dele.

— 'Tá acontecendo alguma coisa? — Perguntou Neteyam.

— Não, fique tranquilo. Bom... Vou te ensinar o que Liö não pôde. Onde vocês pararam?

Neteyam sorriu fraco.

— Ela não me ensinou quase nada.

— Nesse tempo todo? 

— Ela queria. Mas eu não permiti.

— Por que?

— Eu... Queria aprender com você.

Eu estava confusa. Se não estava aprendendo com Liö sobre este lugar, o que estavam fazendo?. Vi Liö colhendo alguns cogumelos a poucos metros e parecia não se importar com nossa presença. Parecia bem atenta a sua tarefa, para ser sincera. Quando recolheu o último cogumelo, ela nos olhou com um sorriso radiante e acenou para nós. Parecia feliz.

Deixando minhas dúvidas de lado, levei Neteyam até o nosso campo. Ele e Liö precisariam de lenha se quisessem se aquecer a noite.

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now