Capítulo 18

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Tonowari me observava atentamente. Não só ele, Jake Sully e Ao'nung também estavam. Neteyam estava ao meu lado dando o apoio que eu precisava. Ambos estávamos montados em nossos Tsurak e prontos para pescar.

— Será como no Mundo Espiritual. — Dizia ele quase que sussurrando — É só pensar que eles não estão aqui.

— É um pouco difícil.

— Vamos fazer assim, que tal uma aposta?

— Uma aposta?

— Quem pegar menos peixes, ficará responsável pela janta.

— Ah, para. Você sabe como Liö faz um peixe delicioso. Queria que você o fizesse.

Neteyam sorriu sem jeito.

— Certo, você me pegou. Mas temos que pensar em algo.

— Se eu ganhar, quero que me leve a Árvore das Almas dos Metkayinas. Quero falar com Eywa.

Neteyam assentiu.

Fazendo um último carinho em meu Tsurak, Neteyam e eu fomos até os limites dos Recifes. Coloquei uma de minhas mãos embaixo d'água para sentir melhor cada criatura marítima residente da ilha. Havia um cardume a poucos metros e mostrei para Neteyam onde estavam. Respirando fundo, mergulhei com Tsurak indo calmamente para perto dos peixes; uma vez próxima, abri minha rede e fiz com que meu Tsurak pegasse velocidade em direção àquele cardume. A criatura mergulhou por entre os peixes e logo subiu a superfície. Minha rede estava cheia.

Assim que os peixes se aglomeraram novamente, fora a vez de Neteyam. Mas o azulado conseguiram pegar mais peixes do que eu.

— Acho que isso me faz o vencedor. — Ele diz com uma expressão convencida.

— Você não me disse o que gostaria de ganhar.

— Te direi em algum momento. Vamos?

Assenti, tomando o rumo de volta para a praia. Jake viu as redes com os peixes pegos, mas fora Tonowari que ficara me observando enquanto eu fazia carinho em meu Tsurak.

— Pegaram uma boa quantidade, hein — Disse Jake — Qual será nosso jantar de hoje? Zaya, alguma ideia? 

— Na verdade, Sr. Sully, Neteyam que fará nosso jantar hoje.

— O Neteyam? Ah... Tá bom. Se você diz.

Tonowari se aproximou de mim e olhou para meu Tsurak.

— Realmente você sabe como montar neles, mas eu gostaria de vê-la em combate algum dia. Seria algo novo.

— Coloque-a nos treinos com os meninos. — Recomendou Jake.

Ao'nung se incomodou.

— Uma menina conosco? Desde quando mulheres lutam?

Tonowari e Jake se entreolharam.

— Não deixa a Neytiri ouvir isso. — Murmurou Jake.

— Não, é só fingir que não ouviu. Zaya, o que acha?

— Ah, por mim, tudo bem.

— Homens na cozinha e mulheres nos treinos. Foi só esses dois chegarem que estamos virando do avesso! — Ao'nung reclamou dando as costas e indo embora.

Neteyam e eu rimos. Tonowari despediu-se de nós e se afastou também. Neteyam chamara por Jake.

— Pai, podemos conversar?

Jake franziu o cenho, preocupado.

— O que foi?

— O senhor disse mais cedo que reconhecia uma forasteira de longe e que por isso queria que conversássemos com a mamãe. Então, antes disso, quero que saiba de uma coisa.

Neteyam virou-se para mim, de repente.

— Conte a ele, Zaya.

O que? Aqui? Agora? Achei que não iríamos contar tão cedo!

— Mas...

— Confie em mim.

Ai, minha Eywa! Tudo bem, ele deve saber o que está fazendo.

Olhei diretamente para Jake.

— Sr. Sully, eu... Eu sou filha de Eywa. 

— E todo mundo não é?

Baixei meus ombros, derrotada.

— Tal pai, tal filho. — Murmurei.

— Não pai, ela descende direto da própria Eywa. Ela me trouxe de volta e cuidou de mim.

Jake ficou calados por alguns segundos. E depois riu, pegando a mim e Neteyam de surpresa.

— É uma brincadeira, não é? Claro que é. Vamos, Zaya, diz logo de onde é.

— ... Do Mundo Espiritual.

Jake parecia ainda não acreditar. Na verdade, parecia que ele queria, mas não o faria sem uma prova. Por isso, fui até os Tsurak e pedi para que voassem o mais alto que podiam. Sem tocar-lhes ou sem fazer a ligação. Jake os observou de boca aberta. Quando pousaram, fiz com que nadassem em círculos por alguns minutos.

— Viu, pai? Qual Metkayina consegue fazer isso?

— ... Ela pode ter estudado sobre eles...

Soltando um suspiro fraco, retornei para perto deles e certificando-me que não havia ninguém por perto, mostrei-lhe por pouquíssimos segundos minha verdadeira forma. Com o susto, Jake caiu na areia e Neteyam abaixou-se para ajudar seu pai. Fiz o mesmo.

— Zaya... O que...

— Eu sei que é bem chocante saber de tudo isso, Sr. Sully. Mas peço-lhe que não conte a ninguém. Seu filho me convenceu a vir para o mundo dos nativos com ele e eu quero continuar aqui, mas para isso tenho que manter minha verdadeira forma em segredo. O senhor compreende?

Jake assentiu.

Neteyam fora pegar um pouco de água para seu pai, deixando nós dois a sós.

— Por que quis vir para cá, Zaya? — Indagou Jake — Você é praticamente uma deusa, não tem motivos para estar aqui. Ou tem?

— Sr. Sully, eu vou ser sincera. Eu me apaixonei pelo seu filho. Eu existo desde que Pandora fora criada e em nenhum momento eu tive vontade ou curiosidade de sair do Mundo Espiritual para viver entre os nativos. Mas com a chegada do seu filho, tudo isso mudou. Sei que sempre fora exigente com Neteyam e por isso, enquanto ele esteve lá, fiz com que ele continuasse seus treinos. Neteyam é um homem feito agora e espero que o senhor veja isso.

Jake ainda parecia assimilar tudo o que lhe fora dito.

— Além disso, Sr. Sully, eu não o trouxe de volta nesses quatros, pois a morte dele era o gatilho que vocês precisavam para vencer o Quaritch. E não precisa se preocupar, ele não voltará nunca mais. Eu... Destruí seu espírito. — Mostrei-lhe a marca do Atokirina em minhas mãos.

Seus olhos foram da marca em minhas mãos para o meu rosto.

— Nunca mais?

— Nunca mais. — Confirmei.

— Ainda bem. — Ele sorri,aliviado. — Zaya...

— Sim, Sr. Sully?

— Ao'nung gosta de você.

— O quê?

— Filhinha, ele não para de te olhar. Se gosta tanto do meu filho como diz, então fique longe dele.

Jake riu, me fazendo rir também.

— Não se preocupe, Sr. Sully. Seu filho é o único que me interessa. 

Zaya - Princesa De PandoraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora