Capítulo 32

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Tnowari convocou seus filhos e sua guarda pessoal para uma reunião repentina. Todos estávamos aflitos, ainda mais por que o próprio Tonowari não disfarçava sua preocupação em relação aos nossos visitantes.

— Guerreiros, o Clã Ash virá nos visitar daqui a três dias. Em nosso território estarão os guerreiros mais fortes e habilidosos, sua Tsahik Alev e sua líder, Varang. Preciso que estejam preparados, pois os Ash não são um povo amigável. Eles são conhecidos por sua hostilidade com outros clãs.

— Então, porque os receberemos em nossa tribo? — Perguntou Lo'ak.

— Seu mensageiro me informou que sua líder pretende formar uma aliança conosco. Segundo ela, o Povo do Céu ainda retornará para nos atacar.

Senti meu estomago embrulhar. Percebi os olhares de Ao'nung sobre mim, mas os ignorei. Após Tonowari nos dispensar, pedi ao mesmo algumas respostas. Para o meu azar, Ao'nung também queria falar com seu pai.

— Senhor, eu estou preocupada quanto a essa visita. — Iniciei nossa conversa.

— Confesso que eu também, Zaya. Visitar outros clãs fora uma prática perdida no tempo e para ser sincero, eu não me importaria que ela voltasse, contanto que não fossem os Ash a nos visitar.

— Os Ash sempre foram muito hostis com outros clãs — Informou Ao'nung — Há anos eles vivem isolados próximos aos vulcões ativos de Pandora e sua forma de viver é... No mínimo, bizarra.

— Como assim?

— Eles não possuem rotinas como as nossas, eles praticamente passam a vida deles se preparando para batalhas. A diversão ali é praticamente nula.

— É por isso... — Tonowari chamara minha atenção — Que eu preciso que estejam preparados. Além de hostis, os Ash são bem mais fortes e violentos. Qualquer palavra mal interpretada pode acarretar em um conflito. Temos poucos guerreiros em nosso clã, comparado ao clã deles, então, por favor, pensem antes de falar ou agir.

— Sim, senhor. —Ao'nung e eu respondemos em uníssono.

Ao'nung percebeu que eu ainda queria falar com seu pai e por isso se afastou um pouco. Era visível o receio no rosto de nosso olo'eyktan. Apesar de sempre zelar pelo Mundo Exterior, os Ash fora a única tribo pela qual eu não sentia necessidade de cuidar, pois os mesmos eram afastados de quaisquer outras tribos e sempre resolviam seus problemas entre eles eles, sem necessidade de envolver terceiros. Mas agora aquele povo estranho estava vindo para nossa casa formar uma aliança. E eu não podia me sentir mais assustada.

— Senhor, eu andei conversando com Tsireya e gostaria que tivesse algumas respostas.

— Pois não, Zaya. Prossiga.

Tonowari parecia atento.

— Sua filha me contou que futuros líderes devem apresentar alguma parceira quando ocorre essas visitas, pois , segundo ela, os outros clãs podem ver isso como uma incapacidade do próximo olo'eyktan. E como sabemos... Ao'nung não tem alguém que possa apresentar formalmente.

Tonowari desviou seu olhar de meu rosto para seu filho, que estava a poucos metros de nós. Ao'nung parecia perdido em pensamentos, mas eu estava desconfiada do que poderia ser.

— Tsireya está certa — Respondeu Tonowari em um tom baixo de voz — Mesmo tendo completado seus ritos de passagens, Ao'nung se recusa a fazer suas marcas. E não há ninguém que ele possa apresentar como futura esposa. Isso pode causar algum desentendimento entre nós e o Povo das Cinzas.

Tonowari soltou um suspiro fraco.

— Gostaria que fosse você a pessoa que Ao'nung apresentaria como futura esposa, Zaya. — Confessou ele — Você é esforçada nos treinos e é muito esperta também. Vejo que meu filho possui algum apreço por você. Mas eu não sou cego, sei que você e Neteyam possuem um vínculo e eu respeito isso. Eu só preciso que Ao'nung faça logo suas marcas para amenizar essa situação.

— Eu falo com ele, senhor. Me certificarei que sua guarda pessoal esteja pronta. E seu filho também.

Tonowari me agradeceu com um aceno de cabeça e afastou-se, tomando o rumo para a vila. Ao'nung acompanhou seu pai com o olhar, preocupado, enquanto o mesmo sumia por entre as tendas. Cautelosa, fui ao seu encontro.

— Ei, vai dar tudo certo. — Comentei baixinho.

— Não. Por minha causa, não serei reconhecido como o próximo olo'eyktan. Isso vai acabar com meu pai.

— Ao'nung, precisa receber suas marcas. Você já completou todos os ritos de passagem necessários, deve fazer isso logo.

Ainda sem me olhar, Ao'nung baixou sua cabeça, visivelmente atormentado.

— Talvez se virem suas marcas, os Ash possam te reconhecer como futuro líder. Agora, ficar de cabeça baixa não ajuda em nada. Vou fazer com que nossos guerreiros estejam prontos, mas você também precisa fazer sua parte.

Ao'nung não me respondeu. Olhei para as três embarcações no horizonte. Eram completamente negras, sendo a do meio mais alta e robusta. Engolindo qualquer sensação ruim que estava sentindo, tomei o rumo para a vila. 

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— Cabeça dura, crianção, não escuta os outros... — Ouvi Tsireya resmungar enquanto trançava a lateral de meu cabelo.

Tsi estava chateada por seu irmão não ter feito suas marcas e, aparentemente, queria descarregar sua raiva em meu cabelo.

— Tsi, eu apoio que você extravase sua raiva, mas devo lembrá-la que é o meu cabelo que está puxando.

— Perdão, Zaya. Vou pegar mais leve.

Observei Kiri mexer em meus protetores de braço com um olhar distante. Ela, que sempre tinha algo a falar, manteve-se quieta ao longo do dia.

— Kiri, o que foi? — Indaguei.

— Eu tô preocupada com o Spider. — Admitiu baixinho.

— Também estou  — Respondeu Tsireya — Os Ash estão querendo formar uma aliança conosco contra os humanos. E ele é um deles. Por Eywa... Não consigo imaginar como você está se sentindo, Kiri.

— Temos que mantê-lo seguro em algum lugar. Só até os Ash irem embora. — Sugeri.

— Spider cresceu com a gente na mata — Disse Kiri — Ele vai ficar bem por lá. O que me preocupa é que ele ficará boa parte do tempo sozinho.

— Faremos algumas visitas enquanto isso. Só temos que aguentar enquanto os Ash estão aqui.

— Que não demorem e vão embora logo! — Kiri revirou os olhos, irritada.

Zaya - Princesa De PandoraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora