Capítulo 9

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Notei o olhar distante e melancólico de Neteyam percorrer por toda a ilha. Dando passos cautelosos ele se aproximava cada vez mais do que parecia ter sido sua nova casa no clã Metkayina. Observei-o por um tempo, até que o mesmo retornou para perto de mim.

— Eu não sei porque ainda te peço para ver esses lugares. — Comentou baixinho.

— O que há de errado?

Neteyam levantou seu olhar de encontro ao meu rosto.

— Não é a mesma coisa sem eles. Eu sinto muita falta, sabe? Até mesmo do Aonung — Ele ri fraco — Ele me perturbava, mas tinha o coração bom. Queria que eles pudessem me ver de alguma forma.

Com um sorriso enfraquecido, segurei sua mãos com ambas as minhas.

— Eu vejo você, Neteyam.

Seus olhos amarelos, de repente, estavam com um brilho estranho. Neteyam levou uma de minhas mãos até seus lábios, onde deixou um beijo delicado. Uns barulhinhos indistintos vindos da água nos chamou a atenção. Eram dois Ilu. Criaturas aquáticas que os Metkayinas tinham uma profunda ligação e eram usados como transportes, por serem rápidos e ágeis na água.

— Estranho... Não são animais-espíritos. — Comentou Neteyam.

— Não são, não. Não acha maravilhoso?

O sorriso de Neteyam se abriu mais e sem largar minha mão, Neteyam me puxou maré adentro até onde estavam os Ilu. O Ilu que o escolheu tinha a cor azul escuro e era extremamente dócil com o Na'Vi. Com muito cuidado, peguei gentilmente o Queue — Uma fila neural ligada diretamente ao sistema nervoso do Ilu, na parte detrás de sua cabeça. Cada Na'Vi, animal ou planta do planeta possui esse ligamento, pois era por ela que era feita o Tsaheylu, a ligação espiritual.

Mostrei o Queue do Ilu a Neteyam, indicando que deveria o fazer. Neteyam o segurou com todo o cuidado do mundo com uma de suas mãos e com a outra segurava sua trança, deixando a mostra suas pequenas e rosadas gavinhas.

— Tsaheylu, Neteyam. — Pedi baixinho.

Neteyam conectou os dois Queue. As pupilas de ambos dilataram, com o Ilu estremecendo. Sorri com tal feito. Neteyam também sorrira com seus olhos brilhando.

— O nome dela é Kulkün.

— Dela?

— É... Kulkün é uma jovem femêa, a mais rápida de seu grupo, não é, Kulkün?

O Ilu levantou levemente sua cabeça, como que concordando.

Nari si, Kulkün. (Cuidado, Kulkün).

Após fazer-lhe um carinho no topo de sua cabeça, pedi para que Neteyam subisse. O mesmo o fez, pedindo permissão ao Ilu e recebendo-a. Uma vez em suas costas, pedi para que ele segurasse firmemente no Queue de Kulkün e pedisse para o Ilu nadar com ele, devagar e calmamente.

— Mas e você? — Perguntou ele.

Apontei para o Ilu atrás de mim.

— Estarei contigo logo atrás com o Kodo.

Neteyam assentiu. 

Fiz a ligação com meu Ilu e fui para perto de Neteyam, incentivando-o a mergulhar. Receoso, ele fez o que pedi. Nossos Ilu começaram um passeio bem calmo pelos Recifes, nos permitindo ver as várias espécies de peixes que habitavam os corais. Cada peixe ou criatura marítima que víamos era único e belo, e Neteyam parecia mais encantado a cada coral que visitávamos. Quando emergimos novamente, o Sol começava a se pôr. Neteyam e eu voltamos para a ilha e nos acomodamos onde teria sido sua casa no clã Metkayina. Comemos algumas frutas que trouxemos da viagem e logo Neteyam adormecera.

Observei-o enquanto dormia por um tempo, até decidir sair para passear um pouco. Sendo uma extensão do Mundo Espiritual e praticamente uma Deusa, eu não precisava suprir minhas necessidades físicas como comer ou dormir, mas o fazia para que Neteyam se sentisse mais a vontade. Mas se eu fosse para o Mundo Exterior, teria queme preocupar com isso e logo meu pensamento fora para as palavras de Liö. Em todos esses milhares de anos eu nunca havia pensado na possibilidade de deixar este lugar para viver em meio aos nativos, nem mesmo quando Liö voltava de suas escapadas e me contava suas histórias. Eu as ouvia com carinho, mas nunca me imaginava no lugar dela.

E agora... Com Neteyam aqui... Isso mudou.

Pensativa, caminhei até a maré da praia. Deixei que a água do mar tocassem meus pés enquanto sentia a brisa gélida vinda do oceano. Eu estava com medo do que poderia acontecer se eu deixasse minhas responsabilidades com Liö e fossem embora Neteyam. Estava com medo da Grande Eywa não me permitir sair. Mas mais ainda... Medo de que quando chegar esse dia, eu ter que dizer adeus à ele.

Zaya - Princesa De PandoraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora