Depois de um tempo, Ao'nung e eu voltamos a nos falar. Não conversamos sobre casamento ou algo do tipo, mas estávamos tranquilos com relação a este assunto. Tsireya, vez ou outra, promovia encontros secretos entre mim, ela e os dois irmãos com quem nos relacionávamos. Ela amava ir até as cascatas mergulhar, aproveitando-se da luminosidade de algas marinhas submersas e de algumas plantas nas margens do rio. Sempre ficávamos conversando e rindo com nossos parceiros, mas tudo sempre no sigilo. Até que em um desses encontros, fomos surpreendidos por Spider, que ouviu nossas conversas enquanto caminhava.
— O quê que vocês tão fazendo aqui? — Perguntou ele, tentando segurar o sorriso que se formava em seu rosto.
— Spider, não é nada! — Respondeu Tsi, nervosa — É só uma reunião de amigos.
— Sei. Eu não sou bobo, sabia? Sei que estão em um encontro.
— Cara, não conta a ninguém, tá? — Pediu Lo'ak.
— Óbvio que não vou contar. Não sou estraga-prazeres. Para ser sincero, fico feliz que vocês conseguem tirar um tempo para se curtirem, mesmo com a rotina pesada de vocês. É... Bem legal.
Neteyam e eu nos entreolhamos e sorrimos um para o outro.
— Spider, chama a Kiri para vir para cá da próxima vez. — Disse Neteyam, fazendo todo mundo ali nos olhar.
— É sério? Mas isso é um encontro de casais...
— E daí? Você gosta dela...
— ... E ela gosta de você. — Completei.
Spider estava visivelmente tímido.
— Acham que ela vai gostar do convite?
— Ah, com certeza! — Deixei escapar, fazendo Neteyam rir e Lo'ak me olhar incrédulo.
— Tá bem, então.
— Depois te falo quando será o próximo encontro, cara. — Informou Neteyam — E obrigado por guardar esse segredo.
— Não tem o que agradecer. Vou deixá-los a vontade agora.
Spider se despediu de nós e sumiu por entre as árvores. Lo'ak e Tsireya nos olhavam com uma expressão receosa.
— Foi uma boa ideia? — Perguntou ela — Eu não me importo de abrirmos nosso grupinho, mas é que Spider é um humano. Seria um pouco estranho se ele e Kiri namorassem.
— Ele é mais Na'vi do que nós todos juntos. Acredito que Kiri fora a primeira a ver isso. — Comentei.
— Ah, mas isso se deve a criação dele — Respondeu Lo'ak — Spider cresceu com a gente, mas não acho que seria a mesma coisa se ele fosse criado por seus semelhantes.
— Eu concordo com a Zaya — Acrescentou Neteyam — Mesmo que Spider tivesse crescido com outros humanos, ainda assim, parte dele pertenceria a Pandora. Como a Dra. Grace Augustine. O amor dela por nossa casa era genuíno e puro.
— Assim como do Spider. — Comentei baixinho.
— Além disso, não é culpa dele ter nascido diferente de nós.
— Por que não fazem o corpo de Avatar para ele, como fizeram para o pai de vocês? — Indagou Tsireya.
— Levaria cinco anos. — Respondeu Lo'ak — Acredito que tenham feito, apesar de nunca termos visto. O que acha, mano?
— Acho que Spider teria nos dito algo. Talvez tenham feito e estão mantendo em segredo, ou talvez o corpo nem exista. É uma coisa que só saberemos com o tempo.
— Deve ser bem doloroso para ele nos ver fazendo o Tsaheylu e não poder fazer parte disso. — Comentei mais para mim mesma, do que para os outros.
Como uma pequena parte do poder de Eywa, eu não poderia "fabricar' um corpo de Avatar para Spider, nem fazê-lo retornar como um Atokirina híbrido, assim como Kiri. Levaria anos e os dois não ficariam juntos. O jeito era esperar que seus semelhantes tivessem a bondade de fabricar o tal corpo.
Após alguns minutos, decidimos voltar para casa. Minha tenda ficava ao lado da tenda de Neteyam, então o mesmo me acompanhou o caminho todo. No meio de nosso trajeto, avistamos Tonowari conversar com alguém lá longe na praia, bem próximos a maré baixa. Não conseguimos ver o sujeito, nem ele nos viu, então resolvemos deixar de lado já que era algo particular do olo'eyktan.
No dia seguinte, vi o líder caminhar pela praia pensativo. Perguntei-me o que havia de errado para deixar Tonowari daquele jeito. Ele andava de um lado para o outro de cabeça baixa e por vezes o via observando o mar. Teria algo relacionado ao encontro dele com aquele desconhecido?
Estava bem curiosa.
— Zaya! — Ouvi Kiri chamar-me, enquanto a mesma se aproximava.
— Oi, Kiri. Já decidiu se iremos a Árvore das Almas dos Metkayina?
— Ainda não me sinto pronta. — Respondeu ela juntando seus braços ao seu corpo, numa espécie de abraço.
— Tudo bem. — Toquei-lhe o ombro — No seu tempo. Então, do que precisa?
— Eu...Estou com um pressentimento ruim.
— Como assim?
— Eu não sei explicar. Estou sentindo isso desde ontem a noite. Achei que soubesse o que significaria.
Franzi o cenho, desconfiada. Foi ontem a noite que vi Tonowari conversar com aquele desconhecido e agora ele estava daquele jeito, pensei. E desde ontem Kiri está sentindo essa sensação ruim. Será que tem ligação?
Voltei a olhar Tonowari. Ao'nung se aproximara dele.
Não posso me deixar de lado os sentimentos de Kiri, afinal, somos irmãs. Alguma coisa está acontecendo.
Voltei minha atenção para ela.
— Kiri, preciso que se concentre nessa sensação. Consegue distinguir para mim o que seria? Sensação se perigo, alguém pode se machucar...
Seus olhos amarelos denunciavam sua preocupação.
— Como se algo ruim estivesse chegando.
Me alarmei. Algo ruim? Será... O Povo do Céu?!
— Não é tão ruim. É como se... Alguém que não devia estar aqui estivesse para chegar, entende?
— Se forem os humanos novamente, acho que vou ter um "treco".
— Não... Na verdade, parece ser bem familiar. — Respondeu ela.
— Isso está ficando específico, Kiri. Como sabe que é familiar?
— Eu só... Estou sentindo.
Kiri fechou os olhos, provavelmente para poder "sentir" melhor. Canalizar melhor suas sensações.
— Familiar, você quer dizer, da sua antiga tribo? Dos Omatikayas? — Indaguei.
— Zaya... — Olha volta a olhar para mim, repentinamente.
— O que? O que foi?
— Você pode fazer aquela bolha de água que você faz quando quer ver além do que podemos enxergar? Eu tenho um palpite, mas queria confirmar antes.
Apreensivas, fomos até a ponta da praia, onde a areia se encontrava com a água do mar. Me certificando que ninguém mais estava vendo, abaixei-me e peguei um pouco de água com minhas mãos, formando a bolha. Além dos Recifes, três embarcações estavam se aproximando. Não pareciam ser de guerra, mas ainda assim, eram de alguma tribo Na'vi. Assustada, desfiz a bolha e olhei para o horizonte, sentindo meu coração se apertar, lembrando-me das palavras de Tsireya "Era imprescindível que o filho mais velho tivesse um parceiro". "Ao'nung não seria reconhecido como olo'eyktan e eles poderiam impor soberania sobre nós."
— Kiri...
— ... Sim?
— Acho que teremos um casamento em breve.
BINABASA MO ANG
Zaya - Princesa De Pandora
FanfictionZaya é descendente direta da Grande Eywa e governante do Mundo Espiritual, um lugar tão incrível que mortal ou Na'Vi nenhum jamais viu. Em um dia como qualquer outro, Zaya recebe em seu mundo um Atokirina diferente de qualquer outro que já tenha pas...