Capítulo 31

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Depois de um tempo, Ao'nung e eu voltamos a nos falar. Não conversamos sobre casamento ou algo do tipo, mas estávamos tranquilos com relação a este assunto. Tsireya, vez ou outra, promovia encontros secretos entre mim, ela e os dois irmãos com quem nos relacionávamos. Ela amava ir até as cascatas mergulhar, aproveitando-se da luminosidade de algas marinhas submersas e de algumas plantas nas margens do rio. Sempre ficávamos conversando e rindo com nossos parceiros, mas tudo sempre no sigilo. Até que em um desses encontros, fomos surpreendidos por Spider, que ouviu nossas conversas enquanto caminhava.

— O quê que vocês tão fazendo aqui? — Perguntou ele, tentando segurar o sorriso que se formava em seu rosto.

— Spider, não é nada! — Respondeu Tsi, nervosa — É só uma reunião de amigos.

— Sei. Eu não sou bobo, sabia? Sei que estão em um encontro.

— Cara, não conta a ninguém, tá? — Pediu Lo'ak.

— Óbvio que não vou contar. Não sou estraga-prazeres. Para ser sincero, fico feliz que vocês conseguem tirar um tempo para se curtirem, mesmo com a rotina pesada de vocês. É... Bem legal.

Neteyam e eu nos entreolhamos e sorrimos um para o outro.

— Spider, chama a Kiri para vir para cá da próxima vez. — Disse Neteyam, fazendo todo mundo ali nos olhar.

— É sério? Mas isso é um encontro de casais...

— E daí? Você gosta dela...

— ... E ela gosta de você. — Completei.

Spider estava visivelmente tímido.

— Acham que ela vai gostar do convite?

— Ah, com certeza! — Deixei escapar, fazendo Neteyam rir e Lo'ak me olhar incrédulo.

— Tá bem, então.

— Depois te falo quando será o próximo encontro, cara. — Informou Neteyam — E obrigado por guardar esse segredo.

— Não tem o que agradecer. Vou deixá-los a vontade agora.

Spider se despediu de nós e sumiu por entre as árvores. Lo'ak e Tsireya nos olhavam com uma expressão receosa.

— Foi uma boa ideia? — Perguntou ela — Eu não me importo de abrirmos nosso grupinho, mas é que Spider é um humano. Seria um pouco estranho se ele e Kiri namorassem.

— Ele é mais Na'vi do que nós todos juntos. Acredito que Kiri fora a primeira a ver isso. — Comentei.

— Ah, mas isso se deve a criação dele — Respondeu Lo'ak — Spider cresceu com a gente, mas não acho que seria a mesma coisa se ele fosse criado por seus semelhantes.

— Eu concordo com a Zaya — Acrescentou Neteyam — Mesmo que Spider tivesse crescido com outros humanos, ainda assim, parte dele pertenceria a Pandora. Como a Dra. Grace Augustine. O amor dela por nossa casa era genuíno e puro.

— Assim como do Spider. — Comentei baixinho.

— Além disso, não é culpa dele ter nascido diferente de nós.

— Por que não fazem o corpo de Avatar para ele, como fizeram para o pai de vocês? — Indagou Tsireya.

— Levaria cinco anos. — Respondeu Lo'ak — Acredito que tenham feito, apesar de nunca termos visto. O que acha, mano?

— Acho que Spider teria nos dito algo. Talvez tenham feito e estão mantendo em segredo, ou talvez o corpo nem exista. É uma coisa que só saberemos com o tempo.

— Deve ser bem doloroso para ele nos ver fazendo o Tsaheylu e não poder fazer parte disso. — Comentei mais para mim mesma, do que para os outros.

Como uma pequena parte do poder de Eywa, eu não poderia "fabricar' um corpo de Avatar para Spider, nem fazê-lo retornar como um Atokirina híbrido, assim como Kiri. Levaria anos e os dois não ficariam juntos. O jeito era esperar que seus semelhantes tivessem a bondade de fabricar o tal corpo.

Após alguns minutos, decidimos voltar para casa. Minha tenda ficava ao lado da tenda de Neteyam, então o mesmo me acompanhou o caminho todo. No meio de nosso trajeto, avistamos Tonowari conversar com alguém lá longe na praia, bem próximos a maré baixa. Não conseguimos ver o sujeito, nem ele nos viu, então resolvemos deixar de lado já que era algo particular do olo'eyktan.

No dia seguinte, vi o líder caminhar pela praia pensativo. Perguntei-me o que havia de errado para deixar Tonowari daquele jeito. Ele andava de um lado para o outro de cabeça baixa e por vezes o via observando o mar. Teria algo relacionado ao encontro dele com aquele desconhecido?

Estava bem curiosa.

— Zaya! — Ouvi Kiri chamar-me, enquanto a mesma se aproximava.

— Oi, Kiri. Já decidiu se iremos a Árvore das Almas dos Metkayina?

— Ainda não me sinto pronta. — Respondeu ela juntando seus braços ao seu corpo, numa espécie de abraço. 

— Tudo bem. — Toquei-lhe o ombro — No seu tempo. Então, do que precisa?

— Eu...Estou com um pressentimento ruim.

— Como assim?

— Eu não sei explicar. Estou sentindo isso desde ontem a noite. Achei que soubesse o que significaria.

Franzi o cenho, desconfiada. Foi ontem a noite que vi Tonowari conversar com aquele desconhecido e agora ele estava daquele jeito, pensei. E desde ontem Kiri está sentindo essa sensação ruim. Será que tem ligação?

Voltei a olhar Tonowari. Ao'nung se aproximara dele.

Não posso me deixar de lado os sentimentos de Kiri, afinal, somos irmãs. Alguma coisa está acontecendo.

Voltei minha atenção para ela.

— Kiri, preciso que se concentre nessa sensação. Consegue distinguir para mim o que seria? Sensação se perigo, alguém pode se machucar...

Seus olhos amarelos denunciavam sua preocupação.

— Como se algo ruim estivesse chegando.

Me alarmei. Algo ruim? Será... O Povo do Céu?!

— Não é tão ruim. É como se... Alguém que não devia estar aqui estivesse para chegar, entende?

— Se forem os humanos novamente, acho que vou ter um "treco".

— Não... Na verdade, parece ser bem familiar. — Respondeu ela.

— Isso está ficando específico, Kiri. Como sabe que é familiar?

— Eu só... Estou sentindo. 

Kiri fechou os olhos, provavelmente para poder "sentir" melhor. Canalizar melhor suas sensações.

— Familiar, você quer dizer, da sua antiga tribo? Dos Omatikayas? — Indaguei.

— Zaya... — Olha volta a olhar para mim, repentinamente.

— O que? O que foi?

— Você pode fazer aquela bolha de água que você faz quando quer ver além do que podemos enxergar? Eu tenho um palpite, mas queria confirmar antes.

Apreensivas, fomos até a ponta da praia, onde a areia se encontrava com a água do mar. Me certificando que ninguém mais estava vendo, abaixei-me e peguei um pouco de água com minhas mãos, formando a bolha. Além dos Recifes, três embarcações estavam se aproximando. Não pareciam ser de guerra, mas ainda assim, eram de alguma tribo Na'vi. Assustada, desfiz a bolha e olhei para o horizonte, sentindo meu coração se apertar, lembrando-me das palavras de Tsireya "Era imprescindível que o filho mais velho tivesse um parceiro". "Ao'nung não seria reconhecido como olo'eyktan e eles poderiam impor soberania sobre nós."

— Kiri...

— ... Sim?

— Acho que teremos um casamento em breve.

Zaya - Princesa De PandoraTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon