Capítulo 12

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O Bosque das Almas estava repleto de Atokirinas, a maioria eram de animais que perderam suas vidas tentando escapar da crueldade humana. Liö e Neteyam estavam me ajudando com os recém chegados que caiam do céu sem parar. Mal conseguíamos ver as água do lago, pois o número de Atokirinas era absurdamente alto.

Ainda afetada pelo o que aconteceu, caminhei até a Árvore Sagrada e sentei-me sobre suas raízes. O estrago feito pelo Povo do Céu fora tão grande que a Grande Árvore não estava produzindo Atokirinas, pois minha mãe teve que usar toda sua energia e poder para recuperar o que foi tirado de Pandora. Enquanto o Bosque das Almas estava cheio de Atokirinas, a Árvore Sagrada estava completamente vazia. Olhei para seus galhos e cipós imóveis.

Nenhuma folha ousava cair.

Os peixinhos que nadavam tranquilamente no pequeno lago, agora estavam escondidos em algum lugar, pois desde que eu chegara, não havia visto nenhum. Nem um animal-espírito também.

— Queria que estivesse aqui, Mãe. — Pedi baixinho — Tá tudo muito estranho. Meu corpo tá estranho, minha cabeça tá estranha. Eu só queria que estivesse aqui para me dizer o que fazer, como quando criou Pandora. Sinto saudades.

Esperei algum tipo de resposta. Nada.

Um Atokirina dos recém chegados se aproximou lentamente de mim, estava tão sereno que por um momento eu havia esquecido que metade dos Atokirinas do Bosque haviam feito uma passagem pós-vida conturbada. Quando o segurei em minhas mãos ainda trêmulas, pude ver que aquele Atokirina pertencia a um Syaksyuk espertinho que adorava brincar com seus irmãos sobre as copas das árvores. Este teve uma morte tranquila, causada pela velhice. Sua família estava com ele até seu último suspiro.

— Oi, amiguinho. Bem-vindo a sua nova casa. — Eu disse com um sorriso fraco.

— Temos um Atokirina sossegado hoje? — Perguntou Liö, sentando-se ao meu lado. — Ah, veja como está tão tranquilo, senhora. Deve ter tido uma vida maravilhosa.

— Melhor impossível.

— Nem tudo está perdido, Zaya. Eywa cuidará de nós, independente de quantos ataques sofrermos.

— Eu sei. É que me assusta vê-la assim... Quieta.

— O golpe foi bem doloroso, mas ela vai se recuperar e recuperar a parte da floresta que fora dizimada. Quanto aos recém chegados, logo estarão em paz. E você também ficará bem.

— Como consegue se manter firme depois de tudo isso?

Liö sorriu fraco, passando um de seus braços em volta de meu corpo numa espécie de abraço.

— Eu preciso. Por nós duas. Eu não consigo imaginar em como você está se sentindo agora, Zaya. Se eu que não consigo senti-los estou sem chão, imagine você que consegue. Por Eywa, não sei o que teria feito se Neteyam não estivesse com você.

— ... Eu queria matá-los. — Admiti baixinho. 

Liö me lançou um olhar de compreensão.

— Eu quis esmagá-los, como estavam fazendo com os nossos. Eu estava perdendo a cabeça, Liö.

— Por isso acho que você devia ir com ele para o Mundo Exterior. Neteyam te faz bem, te faz querer viver. Algo que em anos eu nunca havia visto em você. Me conta... Vocês conversaram? Chegaram a algum acordo?

— Eu disse a ele que queria ir com ele, mas que não tinha certeza.

— Certo, já é meio caminho andado. E ele?

— Disse que esperaria até eu ter certeza.

Liö abriu mais seu sorriso, colocando sua cabeça em meu ombro.

 — Ele gosta mesmo de você, Zaya. Espero que saiba dar valor.

— Sabe, nunca te contei... Mas eu fiquei incomodada quando vocês se aproximaram assim que ele chegou.

— Eu sei — Ela ri — Você não sabe disfarçar. Mas só para deixar claro, ele mais me perguntava de você, do que sobre outras coisas.

— Como o quê?

— Ah, minha irmã. Isso é conversa para outro dia. Deixa eu levar esse carinha para o lugar dele agora.

Liö pegou o Atokirina de minhas mãos e o levou embora, me deixando a sós e com dúvidas.

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Alguns dias depois tudo parecia ter voltado ao normal. A Grande Árvore voltara a produzir Atokirinas e o Bosque estava mais calmo. Liö e Neteyam estavam no pomar recolhendo alguns vegetais para comerem mais tarde, com Riro brincando ao redor deles. Observei-os por um tempo, tentando fazer com que aquela cena a minha frente se tornasse uma memória feliz. 

Notei que alguns peixinhos pulavam sobre o lago que ficava entre as raízes da Árvore Sagrada, coisa que era bem incomum e por isso chamara minha atenção. Aproximei-me dele a passos largos e debrucei-me para ver o que estava acontecendo.

Uma figura de aparência luminescente estava sobre a superfície, me olhando com um sorriso. Seu cabelo comprido brilhava, assim como seus olhos. Eu conhecia aquele ser, mas não esperava vê-la tão cedo.

— ... Mamãe? 

Zaya - Princesa De PandoraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora