Capítulo 30

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DIA SEGUINTE...


Faltei aos treinos. Minha cabeça estava uma bagunça desde o dia anterior e tudo porque Jake revelou os planos de Ao'nung e seus pais. E aquela conversa com Ronal me deixara um tanto preocupada, pois a mesma pediu que eu não descartasse a possibilidade, mas seu tom não fora uma súplica amigável, mas sim, uma ameaça. Inquieta e sedenta por respostas, esperei por Tsireya próxima ao local de treinamento infantil, onde crianças de toda a tribo treinavam todos os dias. Era um treinamento leve, mas muito importante para que desde cedo todos os Metkayina soubessem ao menos se defender.

Observei Tuk enquanto aguardava. Era boa de mira, assim como Neteyam. Mesmo em um local sério como aquele, Tuk sempre sorria para seus amigos. Tsireya ajudava algumas crianças com dificuldade e ao final do treinamento, veio ao meu encontro.

— Zaya, o que faz aqui? E seu treino? 

— Não pude ir. Podemos conversar a sós?

Tsireya me olhou, preocupada. Fomos até o final da cachoeira, onde sentamos em uma enorme pedra. O som da água caindo abafaria nossas vozes, o que seria útil para que ninguém nos ouvisse.

— O que está te preocupando? — Perguntou ela.

— Tsi... Ao'nung te disse algo sobre mim?

— Tipo o quê?

— Uh... Casamento, talvez.

— Uau. Nossa. Então... Sobre casamento, não. Mas ele admitiu para mim que gosta de você. Disse que chamou a atenção dele desde o primeiro momento e gostou da forma como o desafiou. Mas por que está perguntando isso?

— Jake disse que como futuro líder, Ao'nung deve escolher uma esposa. E sua mãe pediu que eu não descartasse a possibilidade, mas você sabe. Neteyam e eu...

— Entendi aonde quer chegar. — Tsi chegou mais perto — Não é bem uma regra... Mas, aparentemente, meu pai ainda quer segui-la. Guerreiros da guarda pessoal não podem se comprometer enquanto o olo'eyktan não tiver desposado. Segundo ele, outras tribos podem interpretar isso como um demonstrativo de que o líder não tem capacidade nenhuma, nem mesmo de conseguir uma parceira digna. E sobre minha mãe, acredito que ela não a forçará a ficar com Ao'nung. Apesar de tudo, ela respeitará sua decisão, embora eu aconselharia a não contrariá-la e pelo menos tentar se aproximar de meu irmão.

Caramba...

— Mas eu e o Neteyam...

— Vocês estão em um relacionamento?

— ... Não sei.

Tsireya deixou sua cabeça pender para o lado, aparentando confusão. Deixei um suspiro fraco sair ao ver que teria que lhe explicar a situação.

— Bom.. Durante a festa, Lo'ak deixou um clima tenso entre eu e Neteyam sobre esse assunto. E ele, Neteyam, confessou que já havia escolhido sua parceira e queria saber se também tivera sido escolhido. E eu... Admiti.

— Ah, que coisa fofa!

Sorri, um pouco sem jeito.

— Mas aí sua mãe me chamou para conversar e desde então não nos falamos mais.

— Me parece que vocês estão juntos agora, já que confessaram seus sentimentos. Mas eu aconselho a falar com ele e deixar tudo claro.

— Sim. Acho que farei isso.

— Sabe o que eu acho? — Indagou ela — Se ainda estivessem no Clã Omaticaya e Neteyam pudesse de alguma forma domar algum Toruk, não haveria problemas em vocês se tornarem parceiros. Afinal, ele é filho de um líder.

— Imagine só... — Sorri um pouco descrente — Há alguma chance de eu ser obrigada a me casar com seu irmão?

Tsireya pareceu pensativa por alguns instantes.

— Não vou mentir, Zaya. Tem sim. É uma pratica antiga, mas... Quando os líderes de outras tribos nos visitavam, era imprescindível que o filho ou filha mais velha tivesse um parceiro. Ou que, pelo menos, estivesse em um relacionamento sólido. Se eles decidissem fazer isso atualmente, Ao'nung teria que apresentar alguém.

— ... Ou? — Incentivei, sentindo um nó em meu estomago.

— Ou Ao'nung não seria reconhecido como olo'eyktan perante os outros líderes e, assim, eles poderiam impor sua soberania sobre nós.  

— O q....

— Imagine, só. Tudo o que meu pai construiu para nós, reduzidos a nada por um motivo bobo. Como líder eu não me importaria em ficar sozinha, mas essa é uma prática milenar. Passada por gerações.

Senti me tonta com tanta informação.

— Por isso, Tonowari e Ronal ficam pedindo para que Ao'nung receba logo suas marcas. Por Eywa...

— Mas não precisa se preocupar, Zaya. Há anos não somos visitados. Os Sully foram os primeiros em uns duzentos anos ou mais. Ou seja, é uma chance bem remota. Meu irmãozinho terá que arranjar outra parceira.

Passei minhas mãos pelos meus cabelos, tentando me acalmar. Se minha cabeça estava bem bagunçada, agora estava me sentindo bem zonza. Enquanto tentava organizar meus pensamentos, vi Neytiri se aproximar com seu arco em mãos. Parecia bem confiante.

— Se quer mais um conselho, eu diria para não faltar ao treino de Neytiri. — Cochichou Tsireya — Além de uma guerreira altamente perigosa, ela é sua sogra agora.

Dirigi uma expressão amarga para Tsireya, o que fez a azulada rir. 

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Mais tarde naquele mesmo dia, procurei por Neteyam. Vi o Na'vi próximo a A'tanvi, então, sem cerimônia nenhuma, me aproximei rapidamente do mesmo.

— Oi...

Neteyam me olhou surpreso.

— ... Oi.

— Queria falar contigo sobre ontem.

Neteyam assentiu, se afastando um pouco de A'tanvi.

— Fiquei sabendo que o último pelo qual Ronan te chamou ontem, fora para vocês duas conversarem sobre Ao'nung — Comentou ele — Se mudar de ideia, eu vou entender.

— Não te aturei por quatro anos para mudar de ideia agora. — Sorri.

Suas orelhas e cauda levantaram-se subitamente, demonstrando que ele estava surpreso e animado com minha resposta. Sua boca abriu em um sorriso largo e suas mãos seguraram meu rosto com delicadeza. Pensei que Neteyam me beijaria, mas o Omatikaya apenas beijou minha testa. Confusa, olhei para seu rosto e vi que o mesmo olhava para algo atrás de mim. Então, percebi que não estávamos sozinhos. Rotxo estava vindo com uma cesta em mãos, provavelmente para alimentar seu Tsurak.

Afastei-me de Neteyam, ficando a sua frente.

— Te vejo nos treinos, A'tanvi Makto.

— Estarei esperando, Ma'amira.  (Minha princesa).

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now