Capítulo 5

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Ao cair da noite, levei Neteyam para a colina mais alta que havia no Mundo Espiritual. Lá se podia ver quase tudo, até mesmo os limites de nosso mundo. Neteyam pareceu sem reação quando viu uma árvore, idêntica a qual os Omatikayas viviam. Suas mãos tremiam e eu pude ouvir como seu coração batia rápido. 

— ... Minha casa? — Perguntou em um tom baixo, quase que sussurrando. 

Vi seus olhos amarelos se encherem de lágrimas, enquanto seus lábios tremiam. Neteyam deu um passo a frente, mas eu o impedi segurando seu braço. Neteyam olhou em meus olhos, confuso e irritado.

— Não é a sua casa, de fato. — Pronunciei, com a voz levemente embargada.

Neteyam puxou seu braço para si e ficou a minha frente.

— Então, porque se parece tanto?

— O Mundo Espiritual é um reflexo do Mundo Exterior. Tudo aqui é idêntico ao que você conhece, até mesmo... Seu lar.

— Por que nos trouxe aqui?

Olhei-o, confusa.

— Você... Queria ver as auroras boreais. Não era?

Neteyam pareceu-se lembrar de nossa conversa mais cedo. Como de costume, ele tomou aquela postura de soldado que eu particularmente não gostava. Sem ânimo algum, sentei-me na grama fofinha e esperei que minha companhia fizesse o mesmo. Assim que as auroras apareceram, Neteyam pareceu completamente encantado pelo show de luzes. Seus olhos, minutos antes sombrios, agora estavam arregalados, vendo cada mudança de cor; sua calda não parava quieta  e sua boca estava contorcida em um sorriso largo. Aquele sim, era o Neteyam que eu gostava de ter ao meu lado.

Observei seu rosto por um tempo, como se fosse decorar cada pintinha luminescente sua. Seu cabelo estava ficando um pouco maior, visto que em sua raiz não havia mais o inicio de suas tranças. E apesar de estar aqui há pouco tempo, era notável que seu corpo continuava se desenvolvendo, visto que seus músculos estavam ficando mais aparentes e sua estatura ficando relativamente mais alta. Por mais que seja o seu pai a ser mais duro com você, Neteyam, é a sua mãe a quem você está cada vez mais parecido. Sorri involuntariamente.

— Por que isso não existe no mundo exterior? É tão bonito! — Exclamou Neteyam, sem tirar os olhos do céu.

Balancei minha cabeça, tentando organizar meus pensamentos.

— Uh... Sim. Lembre-se de que esse plano é um reflexo do seu. Então, quando você voltar, saberá onde poderá olhá-las e quando olhar.

Neteyam baixou sua cabeça, parecendo pensativo.

— Quando eu voltar... — Sussurrou.

— O que foi?

— Quando eu voltar... Estou imaginando quando isso ocorrerá. Zaya, quando tudo isso irá acabar? Estou com saudades deles.

— Eu sei. — Segurei sua mão — Mas a vitória deles depende de você continuar... Morto.

— Mas eu andei praticando, você sabe. Estou melhor. Eu sei que posso ajudá-los! Imagine, Zaya!

Em minha mente veio a cena de Neteyam morrendo nos braços de seus pais. Seus olhos sem vida me assombravam toda vez que Neteyam mencionava sua volta antes do tempo. Eu não podia fazer isso com ele ou com sua família.

Eu... Não podia perder ele.

— ... Não dá! 

Foi tudo o que consegui dizer.

Neteyam soltou minha mão, mas segurou meu rosto logo em seguida. Sua expressão me era um pouco estranha. Ele estava preocupado... Comigo?

— Eu não queria, eu... Por favor, me perdoe! Eu não vou mais pedir algo do tipo novamente. Confio no seu julgamento.

Neteyam estava tão próximo que  eu mal podia respirar. Não sabia se o coração que estava batendo tão forte era o meu ou o dele, mas sabia que não queria parar. Me afastar dele se tornara impossível. Seus olhos oscilavam entre os meus e minha boca. Seus lábios estavam entreabertos, convidando-me a me aproximar mais. Parecia hesitante, como se estivesse se questionando se era o certo a se fazer. Mas eu não queria pensar, pois não queria que aquela sensação terminasse ali. Inclinei meu corpo timidamente para a frente, tocando seus lábios com os meus. Neteyam  também parecia um pouco retraído no início, mas logo suas mãos tomaram meu corpo, acabando com o pouco espaço que havia entre nós. Seus lábios eram macios e sua língua parecia gostar de brincar com a minha. Suas mãos apertaram minha cintura de tal forma que um som abafado e levemente agudo saíra de minha boca. Em contrapartida, minhas mãos enlaçaram seu pescoço, permitindo-me perceber que sua pele estava arrepiada, assim como a minha.

Mas então, Neteyam me afastou de repente. Suas pupilas estavam dilatadas e suas respiração irregular. 

— Aconteceu algo? — Indaguei confusa — Eu fiz algo que não devia?

— 'Tá brincando? O que estamos fazendo?

Mesmo confuso, ela ainda sorria.

— Eu não entendi...

— Um Na'Vi e uma deusa? Isso é... Loucura!

— Eu concordo, mas...

Neteyam desviou seu olhar do meu mantendo seu sorriso.

— Você está me deixando confusa!

— Perdão. É só que... Me sinto como se estivesse nas nuvens! — Ele se deita sobre a grama com os braços abertos.

Senti meu rosto esquentar. Eu também me sentia assim. Era normal? Eu nunca havia chegado tão perto de outra pessoa antes, com exceção de Liö. Mas no caso dela eram somente abraços. 

Segurei minha calda que insistia em balançar-se irritante e repetidamente.

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now