Capítulo 63

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Ninat cantava lindamente uma canção Na'vi escrita para adorar Eywa e seus feitos por seu povo. Nela também pedia-se bênçãos a Grande Mãe, como prosperidade e proteção.
Todos os Omaticayas estavam presentes para vê-la cantar, fazendo um círculo a sua volta. Neteyam estava ao meu lado, assim como Spider e Kiri. Ethan e Levi estavam um pouco mais afastados, pois Moa't não permitia que se aproximassem tanto. Levi parecia fascinado, mas a expressão de Ethan era difícil de descrever.

Após a canção de Ninat, os Omaticayas fizeram seu sagrado ritual de conectar-se a Árvore das Almas. Kiri ficou inquieta com tal cena e puxou-me para perto, pedindo ajuda.

— Acha que conseguirei fazer depois de ter falado com nossa Mãe?

— Claro que sim, por que não conseguiria? Estou aqui do seu lado e cuidarei para que tudo dê certo, está bem?

Temerosa, Kiri assentiu.  Ela pegou gentilmente seu Queue e o conectou as raízes da Árvore das Almas, fechando os olhos logo em seguida. Fiquei alguns minutos a observando para ver se nada acontecia, e percebi Spider a olhando também. Seu rosto era pura preocupação.

— Spider?

— ... Ela vai ficar bem?

— Vai, sim. Não se preocupe. — Sorri fracamente.

— Imagino como é estar conectado com toda a tribo e com Eywa. Mas acho que para mim seria diferente, não é? Eu nasci em Pandora, mas não sou Na'vi.

Ao ouvir isso, Neteyam colocou sua mão no ombro de seu amigo e lhe dirigiu um sorriso encorajador.

— Diferente de muitos por aí, a Grande Eywa não faz distinção entre os povos, meu amigo. Você é nosso irmão de alma e logo conhecerá essa nossa ligação.

Sorri para Neteyam. Ele finalmente conhecera minha mãe, assim como eu a conhecia.

Conectando meu Queue às raízes da Árvore das Almas, deixei que essa conexão me levasse até o Bosque. Estava tranquilo como sempre, com seus animais-espirito andando pelas margens e os Atokirinas brancos pairando sobre suas águas. Eywa estava a minha espera próximo às margens, acariciando o rosto de um Nantang. Ela sorriu para mim, sem se mover.

— Oi, mãe.

— Zaya, minha pequena. Vejo que está usando seu cabelo natural.

Peguei uma mechinha de cabelo, vendo-o branco como um Atokirina.

— Agora eles sabem quem eu sou. Acha que eu fiz errado?

— Não sou mais eu quem decide. Você é livre agora. Pode tomar as decisões que quiser, estando sempre alerta de que independente de qual escolha tomar, sempre haverá consequências.

Baixei meus ombros, preocupada.

— Não vai me castigar?

Mamãe olhou-me sem sorrir, mas não parecia brava ou algo do tipo.

— Eu deveria?

— Eu matei muitos nativos e usei de meus poderes frente a eles, revelando minha verdadeira identidade. Eram duas de suas regras mais rígidas. Talvez eu mereça uma punição.

— Você quer uma punição apenas para se sentir melhor consigo mesma. Não irei castigá-la, Zaya, pois isto o que está sentindo chama-se culpa. E eu quero que aprenda com ela o que é certo e errado.

— ... Mas é tão difícil. — Murmurei baixinho.

Mamãe riu, deixando que o Nantang se afastasse de nós duas e corresse pelas margens do rio.

— Acha o livre árbitro difícil? — Indagou ela — Zaya, qual foi a primeira coisa que eu disse a você quando a criei?

— Cuide de Pandora. Estas foram suas primeiras palavras a mim.

— Em momento algum eu dissera que estava presa ao Reino Espiritual ou que não poderia usar seus dons. Eu apenas alertei-lhe para tomar cuidado quando fostes usá-los.

— Mas disse que eu não poderia de forma alguma ferir alguma criação sua.

— Bem, isto foi numa época em que não tinha controle sobre seus poderes. Lembra disso? Você transformava animais em Atokirinas só de tocá-los. Uma árvore que levaria anos para envelhecer, nas suas mãos, levava apenas minutos. Você não poderia andar ao lado dos Na'vi, Zaya.

Senti um aperto em meu coração ao ouvir tais palavras. Depois de conhecer Neteyam, eu jamais pensaria em sair de perto dele.

— Além disso — Mamãe continuou — Os Na'vi que hoje habitam Pandoram, são bem diferentes dos que habitavam no início. O coração deles se encheram de amargura e ódio contra seus semelhantes, ao ponto de machucarem inocentes. Eu não concordo de maneira alguma com violência, mas eles alteram drasticamente o equilíbrio quando subjugam outras nações. Eu não os criei para serem assim!

Notei a raiva de minha mãe quando a mesma moveu sua mão, fazendo com que as águas do rio se movessem rapidamente e com força para as margens, deixando alguns animais-espirito assustados.

— Mãe... Se acalme, por favor. — Pedi, um um pouco temerosa.

Eywa levantou levemente sua cabeça, como que respirando fundo e virou-se para mim com uma expressão fechada.

— Você sabe sua missão, Zaya. E tem minha permissão para usar seus poderes. Espero, que como filha minha, você saiba usá-los com sabedoria e zelar pela segurança e equilíbrio de Pandora. Você é vista como deusa pelos nativos, espero que saiba se portar como tal.

Engoli em seco. Nunca vira Eywa falar comigo daquele jeito. Assenti sem dizer mais nada.

— Talvez seja bom que Liö esteja com você a partir de hoje.

— ... Como?! — Perguntei confusa — Liö poderá... Ficar comigo?

— Se assim ela desejar.

— Mas ela pertenceu a uma das primeiras tribos existentes. Seu corpo já não existe mais.

Mamãe não me respondeu. E acho que não fora preciso. Por um momento me dei conta do real tamanho do poder de Eywa e questionei-me qual seria o real tamanho do meu. Mamãe me olhou com um pequeno sorriso se formando em seu rosto.

— Deve voltar, minha pequena. Já passou tempo demais aqui.

— Mas...

— Nos veremos em breve.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a  imagem a minha frente se tornou borrada e sem forma.

Fechei meus olhos com força e quando os abri novamente, estava sentada nas raízes da Árvore das Almas, com meu Queue ainda conectado a ela. Neteyam e Kiri me olhavam preocupados e perguntaram-me o que havia acontecido.

— Eu estava com minha mãe. — Respondi em um tom baixo de voz.

— E esta tudo bem? — Indagou Neteyam.

— Acho que sim. Ma'teyam, tenho uma ótima notícia. Liö ficará conosco!

Neteyam franziu o cenho, confuso.

— É possível? Achei que o corpo dele estaria meio que... Indisponível.

— Hoje eu percebi que não compreendo nada sobre os poderes de minha mãe. Mas devemos confiar nela. Vamos voltar aos Recifes o quanto antes para podermos recebê-la!

Neteyam assentiu com sorriso pequeno, mas Kiri não parecia ter gostado da ideia.

— Não gostou que Liö ficará conosco, Kiri? — Indaguei.

— Não, não é isso. É só que... Talvez eu queira ficar.

—  Mas nem por cima do meu cadáver. — Resmungou Neteyam entredentes, iniciando uma discussão fervorosa entre ele e Kiri.

Gente, mil perdões por não ter postado capítulo ontem. Cheguei bem cansada do trabalho e acabei dormindo. Logo mais trarei um capítulo bem melhor <3

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now