Capítulo 11

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Enquanto eu arrumava algumas cestas de frutas em nossa jangada, Neteyam me olhava calado. Observava tudo com atenção, para cada coisinha que eu fazia. Inquieta, deixei um vaso cair, o que fez o azulado vir correndo pegar o objeto e devolvê-lo para mim. Neteyam me olhava como se esperasse por alguma reação minha.

— Por que está me olhando desse jeito, Neteyam?

— Porque você está esquisita.

— Não, eu... Só estou pensativa.

— Pensando no que eu disse?

Coloquei o vaso onde estava e me afastei dele, afim de sair da jangada. Neteyam me seguiu. Caminhando a passos longos até as tendas, percebi que o mesmo não me deixaria sozinha até ter algumas respostas.

— Neteyam, não posso dar as respostas que tanto quer. — Falei sem olhá-lo nos olhos.

— Então, é um não?

— Eu nunca saí daqui, então, não sei o que pode acontecer se eu tentar.

— Liö sempre saía, não?

— Sim, mas ela não é a filha direta de Eywa, criada com o único objetivo de zelar pelas almas e pelo Mundo Espiritual.

Neteyam parou de andar, de repente. Virei-me para o mesmo e o vi olhando-me como se tivesse pensado em algo. Voltei para perto do mesmo e perguntei se estava tudo bem.

— Você está com medo. — Disse ele.

— ... O quê?

— Sim, você está. Como pode? Você é poderosa, filha da Grande Mãe. Do que tem tanto medo?

— Eu... Eu não sei...

Baixei minha cabeça visando não olhar mais para ele.

— Você sabe. Claro que sabe. Você sabe de tudo. Eu não vou pedir para que fale comigo, porque sei que não vai, mas preciso que saiba que não precisa esconder nada de mim. Depois de tanto tempo, acho que finalmente estou entendendo sobre esse mundo... E sobre você também.

Tomei coragem para olhá-lo nos olhos. Neteyam estava com um sorriso pequeno em seu rosto, como quem quisesse me trazer algum tipo de conforto.

— Eu quero ir com você, Neteyam. — Admiti, baixinho — Quero muito. Desde sua chegada eu tenho tido muitas dúvidas sobre o que realmente quero e o que eu devo fazer.

— Então, vou esperar até você ter certeza.

— Não. Você irá voltar para sua família, independente de minha decisão. Você... — De repente, senti que havia algo errado.

Minhas mãos começaram a tremer e meu estomago estava como se revirando todo. Havia um gosto estranho em minha boca, parecia ser de sangue.

 Algo na água chamara minha atenção.

Era Kulkün nadando de uma forma estranha e desengonçada. Voltando para a praia pude constatar que a mesma estava fazendo aquilo por vontade própria. Ela estava chamando por nós.

— O que há com a Kulkün? — Perguntou Neteyam, preocupado.

Aproximei-me rapidamente dela, tocando-lhe gentilmente seu rosto para que se acalmasse. Seus olhos estavam fixos no meu, amedrontados. Perguntei baixinho se estava machucada ou algo do tipo, mas ela continuava agitada. consegui reconhecer em seus grunhidos palavras como Tìska'a e Hay, que significavam destruição e próximo. E então, quando aquele ser se tranquilizou, eu percebi que não era nada relacionado a ela ou aos Recifes.

— Zaya? O que tá acontecendo?

Ignorando Neteyam, peguei um pouco de água com as minhas mãos em forma de concha e tentei procurar. O Mundo Espiritual estava bem, mas eu não poderia dizer o mesmo do Mundo Exterior. Máquinas do Povo do Céu estavam devastando partes da floresta onde os Omatikayas residiam. Por sorte, a devastação estava um pouco distante, mas perto o suficiente para deixá-los em alerta. Com o rosto coberto por lágrimas, mostrei o que vi a Neteyam. 

— Isso é... Perto de meu povo?

— Eles não serão atacados. Mas... Olhe. Milhares de vidas perdidas. Ikran, Pali... Grande Eywa, os Yerik! Eles são indefesos, não merecem isso!

Vimos o momento em que uma das naves jogou fogo contra um bando de Yerik, que tentavam correr por suas vidas. Senti minha garganta queimar, como se eu estivesse ali junto com eles. Me sufocando como eles. Neteyam, num ato impulsivo, segurou minhas mãos fazendo com que a bolha d'água escorresse para nossos pés.

— Não olhe para isso!

— C-como eles podem? Eywa... Q-quando isso acaba? ... Eu não aguento!

— Zaya...

— É por isso que não quero que volte agora, Neteyam. Essa guerra tem que acabar pra você voltar pra sua família. Eu não quero que você vivencie nada disso, eu...

— Ei — Ele me puxa mais para perto, fazendo com que nossos olharem se encontrassem. — Eu não vou a lugar nenhum, tá bom? Agora, se acalme.

Assenti respirando fundo o máximo de vezes que eu podia. Neteyam limpou um pouco se sangue que escorrera de meu nariz. Quando Pandora era atacada violentamente, eu podia sentir como se estivessem atacando a mim. Toda a maldade que faziam contra aquele Mundo, refletia em meu corpo e eu levava muito tempo para me recuperar. Aprendi isso da pior forma possível e agora Neteyam também sabia disso.

— Vamos voltar. Talvez Liö esteja precisando de nós.

— ... Sim.

Neteyam largou minhas mãos e começou a organizar a jangada para nossa partida.

Zaya - Princesa De PandoraHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin