Capítulo 10

1.3K 171 5
                                    

Neteyam observava atentamente o peixe nadar pelas tranquilas águas no interior da ilha. Suas mãos seguravam firmemente o arco e a flecha e sua respiração estava controlada. Percebi seu porte de caçador e em como ele mostrava que sabia o que estava fazendo. Mas havia um porém: caçar peixes com arco e flecha não era tão simples assim. E ele estava prestes a descobrir.

Neteyam atirou a flecha e por pouco não acertara o peixe. Ele suspirou frustrado e pegou outra flecha, se preparando para outro ataque.

— Ei — Chamei sua atenção — Posso dar algumas dicas?

— Eu sei como caçar. Só preciso de tempo.

— Não, você precisa é de ajuda.

Neteyam virou-se para mim com um sorriso descrente.

— Tá bem. O que estou fazendo de errado?

Me aproximei a passos curtos deles e fiquei a sua frente. Seu olhar atento seguia cada movimento meu, o que, particularmente, me deixava um pouco nervosa.

Ajustei seus dois braços, o esquerdo segurando o arco e o direito puxando a flecha para trás. Logo após, empurrei levemente sua barriga para dentro, mostrando-lhe que deveria ficar com a postura mais ereta possível.

— Isso não era o que eu estava fazendo? — Indagou ele, confuso.

— Aqui vai minha dica, espertão. Puxei mais o arco, até não poder mais. Quando a flecha toca na água, ela perde velocidade, então você tem que compensar isso com sua força. Por mais que pareça, o peixe não está próximo a superfície, esse é outro ponto que precisa compensar.

— Entendi.

— Você consegue.

Neteyam sorriu para mim e logo formou sua pose. Mirando em um peixe laranja que se aproximava, Neteyam puxou mais a flecha para trás e deixou sua postura mais ereta. E quando o peixe estava em sua mira, Neteyam soltou a flecha, acertando o pequeno ser marítimo em cheio.

Comemorei enquanto ele pegava sua pesca.

— Sabia que ia conseguir.

— Hoje teremos peixe assado! Obrigada pelas dicas, Zaya.

— Imagina.

Tomamos o rumo para a praia. Neteyam parecia orgulhoso de seu feito. Parecia feliz.

— Me conta sobre sua família. Você raramente fala deles. — Pedi.

— Você já os conhece.

— Não do seu ponto de vista.

Neteyam me olhou surpreso. Um pequeno sorriso se formara em seus lábios.

— Tá bem. Acho que vou começar pela Tuk, minha irmã caçula. Ela é... Incrível. Mesmo bem jovem ela é bem corajosa. Ela tá sempre se metendo em furadas com a Kiri, o Loak e o Spider. Quando eu fui atrás dos Ikran, ela e os outros foram atrás de mim. Eu sabia que eles eram ferozes e não queria meus irmãos por perto enquanto eu tentava fazer a ligação. Mas eles me seguiram mesmo assim. E ela quase caiu do penhasco tentando atravessar — Ele solta um riso fraco — Mas ela estava lá... Torcendo por mim. Ela foi a primeira a quem eu dei carona no meu Ikran, acredita? E eu... Eu amei que ela estava lá comigo.

— Você era muito apegado à ela, não era?

— Sim. Imagino que ela deva estar um pouco mais alta agora, mas com o mesmo sorriso e alegria de sempre.

Sorriso nem tanto. Por causa de sua falta. Pensar nisso fez-me sentir um pouco mal, por isso pedi a Neteyam que falasse sobre Lo'ak.  

— O que posso dizer sobre o Lo'ak... Impulsivo, cabeça-dura e nunca me escuta. Ele sempre estava desafiando a mim e ao nosso pai. Mas... Quando eu precisava, ele estava lá. Lembro-me dele tentando fazer a ligação com um Pali. Aquilo foi vergonhoso, com certeza — Ele riu, desviando de uma enorme pedra — Ele caiu de cara no chão. Várias e várias vezes. Mas o mais engraçado, é que ele não desistia. Eu sempre admirei isso no Lo'ak. Sua persistência. Acho que não consigo imaginar como ele deve estar agora.

— Acredite ou não, ele está mais maduro agora. Ainda um cabeça-dura, é claro.

Neteyam sorriu.

— Que bom. Espero que ele e Tsireya estejam bem.

— Estão, sim. Não se preocupe.

Chegamos a praia. Neteyam armou uma fogueira com alguns gravetos e ficou assando nosso peixe. Sentei-me ao seu lado e fiquei o observando.

— Zaya...

— Sim?

— Se eram apenas você e Liö antes de me trazer de volta, isso significa que você nunca se apaixonou?

Aquela perguntou havia me pegado completamente de surpresa. Eu não havia... até o momento em que ele aparecera por entre aquelas raízes. Mas eu não podia dizer isso à ele. Não queria que nada atrapalhasse sua decisão de voltar a sua família quando a guerra entre o Povo do Céu e Pandora terminasse. Ainda mais se o motivo fosse eu.

— ... Não. — Respondi baixinho.

— E não sente vontade? Claro, imagino que a vida aqui no Mundo Espiritual seja muito boa. Mas há coisas que somente sendo uma Na'Vi você poderia sentir. Como... Como o frio na barriga que sentimos quando subimos as Montanhas Allelujah, para fazer a primeira ligação com os Ikran. Ou o medo ao ficar frente a frente com um Palulukan. Mas a melhor sensação mesmo, é sentir parte de algo. Foi difícil, mas eu consegui me sentir parte do clã Metkayina no fim. Você não gostaria, Zaya?

Não respondi. Como poderia? Neteyam me fazia querer ir contra todos os meus princípios.

— Cuidado para não queimar o peixe. — Murmurei me afastando do azulado. 

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now