Zaya - Princesa De Pandora

Capítulo 21

Observei A'tanvi enquanto preparava Atan, meu Tsurak, para a corrida. A'tanvi estava adormecido profundamente sobre uma pedra, com alguns Tsurak menores ao seu redor; nenhum Metkayina ousava se aproximar dele. Ao'nung estava a pouco metros e perto de seu Tsurak. Ele, ao contrário de mim, estava focado nos Ikran, dos quais Neteyam também olhava com certa irritação.

— Ele não vai conseguir nenhum Ikran, Neteyam. Eu garanto.

— Eu sei. — Respondeu-me sem me olhar — Mas só de imaginar que ele está fazendo isso para se aparecer e não por que realmente gosta deles, me dá tanta raiva.

— Se ele ganhar, ele vai ter que cuidar. — Disse Kiri.

Atan balançou sua cabeça, fazendo-me voltar minha atenção para o que estava fazendo. Passado alguns minutos, Tonowari chegou. Ronal estava ao seu lado, e como sempre, com cara de poucos amigos. Eu e os outros paramos nossas atividades e ficamos de frente para os dois líderes.

— Zaya, fiquei sabendo que haverá uma disputa entre você e meu filho. Posso saber o motivo disso?

— Ele me coagiu, senhor. Disse que se ganhasse, ficaria com um dos Ikran para ele.

— Ao'nung nunca demonstrou interesse por essas criaturas aladas — Comentou Ronal — Porque isso agora?

— Ele estava provocando Neteyam. — Respondeu Kiri — Zaya apenas tentou contornar a situação.

— E uma corrida de Tsurak seria a solução? — Indagou Tonowari.

— Seu filho ditou as regras. Estou apenas obedecendo, afinal, ele é o futuro líder, não?

Tonowari o olhou por cima do ombro. Ao'nung também havia parado suas atividades para ver o que estava acontecendo, mas não se aproximara. Tonowari não parecia zangado, mas ainda assim sua expressão demonstrava certa inquietação sobre o assunto.

— Meu filho é um tanto ambicioso — Disse ele — Ao'nung possui ligação com quase todas as criaturas dóceis da ilha. Um Ikran certamente lhe traria mais... Notoriedade. Mas e você, Zaya? O que quer em troca?

Apontei para A'tanvi, o que fez com que Tonowari e Ronal se entreolhassem estupefatos.

— Você quer o A'tanvi? Zaya, ninguém nunca conseguiu chegar perto dele.

— O que te faz pensar que conseguirá? — Indagou Ronal.

— Acredito que conseguirei ganhar de Ao'nung na corrida. Pretendo presentear A'tanvi para Neteyam.

— Para o Neteyam? Por quê?

— Com todo o respeito, senhor. Devo-lhes lembrar que o pai de Neteyam, Jake Sully, fora o grande Toruk Makto na tribo Omatikaya. Isso depois de muito tempo desde o último Toruk Makto. E ele era apenas um forasteiro. Nada mais justo que seu filho também seja.

— Pelo amor de Eywa, um Omatikaya sendo um A'tanvi Makto? Isso é... Eu nem tenho palavra para isso. — Reclamou Ronal.

— Eu entendo perfeitamente no que isso implica. Mas o manto de A'tanvi Makto não tirará o cargo de futuro líder de Ao'nung. Além disso, talvez no futuro, ele e Neteyam possam ser a proteção que a Ilha Metkayina precisa.

Tonowari me lançou um sorriso fraco.

— Me pergunto se não há mais dos Sully em você do que já possui, Zaya.

Sorri um pouco envergonhada.

— Permitirei que a corrida aconteça, mas será com as minhas regras. Ela ocorrerá amanhã com o sol no meio do céu. Esteja pronta.

— Sim, senhor.

Tonowari se despediu com um aceno de sua cabeça e se afastou de nós, juntamente com sua esposa. Kiri puxou-me para perto dela e me sacudiu com suas mãos em meus ombros, me perguntando qual o plano.

— Se acalme. Eu só preciso de um pouco de Txumpaywll. (Lê-se "tumpaiwill") 

— Mas essa flor é venenosa. — Inteirou Neteyam.

— Não para os Tsurak. Eles são imunes ao veneno e a flor ainda serve de energizantes para eles.

— Pode deixar, eu busco. Sempre estou indo para lá com Neytiri, Ao'nung não vai suspeitar. — Disse Kiri.

— Certo. Vou terminar algumas coisas por aqui e vejo você à noite.

Kiri assentiu e tomou seu rumo para as tendas, encontrar com Neytiri. Neteyam ficou comigo para me ajudar, mas era nítido seu descontentamento.

— Ainda preocupado com A'tanvi?

— O que você acha?

— Ele será seu.

— Zaya, guerreiros não conseguiram. Porque eu conseguiria?

— ... Por que eu estou com você. Eywa também. Não tem que ter medo.

— Tem ideia da responsabilidade que jogou no meu colo? "A'tanvi Makto"... Por Eywa, há dois dias eu estava morto para eles! Zaya, porque está fazendo isso? Eu não preciso provar para eles que eu sou um guerreiro.

Deixei de arrumar a alça de segurança de Atan e virei-me para Neteyam, segurando sua mão.

— Estou fazendo isso pelo Neteyam de quatro anos atrás. Estou fazendo isso por aquele pequeno Na'vi que queria a todo custo provar seu valor para seu pai e que se não fosse pelo Povo do Céu, ainda estaria em sua terra natal e... Provavelmente teria se tornado um líder maravilhoso. É por este carinha que estou fazendo isso.

Tocado, Neteyam beijou docemente minha mão.

— Como posso te retribuir por tanto? Nada do que eu penso me parece ser suficiente. Zaya, eu não mereço.

— Merece. Claro que merece, Neteyam. Você era só um garoto quando foi arrancado de sua família a força. Eu preciso reparar isso.

— ... Foi por isso que veio comigo?

Fiz que não com a cabeça. Neteyam tentou uma aproximação, mas fomos surpreendidos quando Atan se mexeu e jogou água em nós. No fundo eu agradeci, pois Ao'nung ainda estava por perto.

Perceberam que a linguagem de amor do Neteyam é Tempo de Qualidade e Palavras de Afirmação, enquanto que da Zaya são atos de serviço? :-D