Capítulo 15

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Alguns dias depois, quando a Grande Árvore voltara a produzir Atokirinas, conversei com Neteyam a respeito de seu retorno. Ele pareceu bem empolgado com a notícia, mas logo se viu preocupado comigo.

— Não iremos até que esteja melhor. — Disse ele.

— Já estou melhor, sim. A Árvore Sagrada está novamente criando novas almas e parece que está tudo certo no Mundo Exterior. Sua família está bem e eles vão adorar ter você de volta.

— Tem certeza, Zaya? Não quero causar nenhum incômodo.

Sorri fraco.

— Está tudo bem, Neteyam. Não tem que se preocupar com nada.

Neteyam voltara a ficar empolgado. Sua cauda não parava quieta e seu sorriso estava de orelha a orelha. Liö parecia feliz por ele. Concordamos que iríamos naquele dia mesmo.
Revisei as tarefas de Liö com a mesma e deixei Riro aos seus cuidados, para que ela não ficasse totalmente sozinha.
Mais tarde naquele mesmo dia, nos encontramos em frente ao lago da Árvore Sagrada. Liö se despediu de Neteyam com um abraço apertado, dizendo para ele se cuidar e cuidar de mim também. Neteyam prometeu que nada aconteceria comigo, embora eu soubesse que seria mais fácil eu protegê-lo.

Quando foi minha vez, demorei um pouco para soltá-la. Liö esteve comigo em praticamente todos os momentos e ter que me separar dela realmente estava sendo difícil.

— Sabe que não pode ir grudada comigo, não é? — Brincou.

— Eu não queria me separar de ti.

— Oh, eu sei. Vou sentir sua falta também. Mas, ei, não será a última vez que nos veremos, então, nada de choro, hein. Vamos, limpe esse rosto e coloque um sorriso, porque agora... Você terá novas aventuras.

Soltei-me dela e limpei algumas lágrimas que caira.

— Obrigada, Liö. Por tudo.

— Não tem que me agradecer em nada. Agora vá. E cuide do nosso menino, está bem?

— Pode deixar.

Fiquei ao lado de Neteyam, de frente para o pequeno riacho. Os peixinhos que antes nadavam, agora deviam estar escondidos. Neteyam parecia assustado.

— Como fazemos isso?

— Apenas entre na água e vá em direção ao fundo. Feche os olhos. Sentirá que está chegando ao fim, mas na verdade, estará emergindo no Mundo Exterior.  Mantenha os olhos fechados até que sinta a superfície.

— Nossa. Ainda bem que aprendi a segurar o fôlego com a Tsireya e o Aonung.

— Quando estiver pronto, está bem?

Neteyam respirou algumas vezes e pulou dentro d'água. Dando um último adeus à Liö, Neteyam mergulhou lago a dentro. Já eu... Demorei um pouco. Adentrei a água, mas não tive coragem de mergulhar. Liö me deu o incentivo que precisava.

— Pode ir, Zaya. Vai ser feliz.

— ... Vou sim. Te vejo em breve, minha irmã.

Liö sorrira pra mim.

— Que Eywa te proteja e te guie, minha irmã.

Tomando fôlego, mergulhei lago a dentro. Geralmente eu não precisaria me preocupar com o oxigênio, mas quanto mais eu nada em direção ao Mundo Exterior, mais eu sentia que precisava respirar. Batia meus pés com mais velocidade e as braçadas com mais força, até que senti o sol sobre meu rosto. Meus pulmões se encheram de ar, me fazendo tossir um pouco. Quando abri meus olhos, vi os Recifes atrás de mim e a Ilha Metkayina a minha frente. Neteyam havia chegado na praia e estava recuperando seu fôlego.

Percebi quando Aonung se aproximou do mesmo com uma expressão de espanto. Sem pensar muito, nadei até ficar atrás de uma enorme pedra. Aonung pareceu não acreditar ao ver Neteyam em sua frente. Ele tocou o braço de seu amigo para ter certeza e o abraçou, quando percebeu que não era uma alucinação de sua cabeça.

Acho que seria melhor me misturar com o Povo da Água. Pensando nisso, mudei minha aparência. Mudei minha pele de azul escuro, para o mesmo tom de azul que os Metkayina possuíam. Meus cabelos brancos, agora eram negros e minha cauda havia se tornado mais grossa. Apenas mantive meu rosto para que Neteyam reconhecesse.

Tsireya foi a segunda a ver Neteyam. Ela o abraçou tão fortemente que quase o fez cair na areia. Ri quando o mesmo teve que colocar um pé atrás para manter o equilíbrio.

— Uh... Olá? — Ouvi alguém dizer atrás de mim.

Sobressaltada, olhei em direção a voz.

— Tuk?

— Sabe quem sou eu?

— Uh... Sim. Eu sou... Amiga do Neteyam.

Tuk me olhou estranhamente, até ouvir Aonung e Tsireya conversarem com Neteyam. Quando seus olhos viram seu irmão ali, Tuk correu para abraçá-lo.

— Neteyam! — Gritava ela com os braços abertos.

Neteyam a segurou e rodopiou no ar, eufórico. Após alguns minutos de conversa, Tuk apontou para onde eu estava, fazendo com que os três me vissem. Neteyam correu até mim e segurou minha mão, puxando-me para a areia.

— Porque mudou sua aparência?

— Para não termos problemas.

— Ah, tudo bem, então. Vem, você vai amar conhecer eles!

Aonung, Tsireya e Tuk vieram ao meu encontro. Tsireya pareceu mais receptiva, Tuk estava bem curiosa e Aonung não parava de encarar.

— Qual é o seu nome? — Indagou Tsireya.

— Zaya.

— É um prazer recebê-la em nossa ilha. De qual tribo pertence?

Neteyam me olhou assustado. E agora?

— Eu não... Eu não sei.

— Só falta ela ter sido devolvida como o Neteyam. — Disse Aonung, ainda sem tirar os olhos de mim.

— Isso — Respondeu Neteyam — Ela não se lembra de nada. Espero que a tratem bem e cuidem dela.

— Então, ela se lembra do próprio nome, mas não lembra de nada mais? — Aonung perguntou novamente, aparentando desconfiança.

— Isso, Aonung. Algum problema? — Neteyam fechou sua expressão, fazendo Aonung recuar com as palmas das mãos levantadas em sinal de rendição.

— Não seja chato, Aonung. Zaya, eu lhe mostrarei a ilha e ensinarei nossas rotinas. — Disse Tsireya, dando alguns pulinhos enquanto batia suas mãos freneticamente.

Sorri involuntariamente. Ela era mesmo muito doce.

— Onde estão Lo'ak e Kiri? E meus pais? Onde estão? — Neteyam perguntou, olhando em volta.

— Kiri deve estar ajudando sua mãe com a pesca. Neytiri consegue pegar uma boa quantidade de peixes e Kiri a ajuda a carregar. — Informou Tsireya.

— É, é o Lo'ak agora é um dos nossos guerreiros. Ele e minha irmãzinha aqui estão juntos finalmente.

Tsireya pareceu sem jeitos com as palavras de seu irmão.

— Lo'ak sendo um guerreiro... É, por essa eu não esperava.

— Muita coisa mudou após sua partida. O papai... Não soube lidar muito bem. — Tuk disse, com a expressão um pouco tristonha.

Neteyam passou o braço em volta de seu pescoço, lhe dirigindo um sorriso doce.

— Mas eu tô aqui agora. E não pretendo ir embora. Vamos, eu quero ver todo mundo!

Tuk sorriu, voltando a ficar alegre. Ela segurou a mão de seu irmão e o puxou ilha adentro. Aonung foi logo atrás.

— Será que seus pais vão me permitir ficar?

— Claro que sim — Respondeu Tsireya — Minha mãe é um pouco cismada, mas ela concordará em deixá-la conosco. Você prefere ficar com os Sully ou com a gente?

— Acho que com os Sully.

— Tudo bem. Vou te apresentar a tribo.

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now