Capítulo 4

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Ensinei muita coisa a Neteyam com o passar dos dias. Permiti que caçasse, pois como o mesmo retornaria para sua família quando a guerra terminasse, seria melhor que ele mantivesse suas habilidades de guerreiro. Então, Liö trazia alguns animais, com exceção dos Palulukans. Neteyam ainda não estava preparado para enfrentar estes predadores.

Após um dia inteiro no Bosque, cuidando dos Atokirinas recém-chegados, Neteyam veio ao meu encontro. Parecia ter se divertido com Liö.

— Como foi com os Angtsìk? 

— Foi incrível! — Disse ele com um sorriso de orelha a orelha — Eles são dóceis, quando não nos aproximamos dos filhotes. Você sabia que eles usam aquele leque de folhas acima de suas cabeças para se abanar? 

Ri, me distraindo um pouco de meus afazeres.

— Ah, acho que eu tinha vaga ideia.

— Claro que sabia, você é filha de Eywa! E eu sou muito grato por tudo isso.

Senti meu sorriso diminuir a medida que meu coração batia mais rápido. Neteyam se aproximou, mas fora impedido quando Riro, seu Nantang de estimação, pulou em seu colo quase o derrubando. Liö o trouxera para que Neteyam o caçasse, mas acabou que ambos se tornaram amigos.

— Calma aí, amigão! — Neteyam ria, enquanto Riro tentava lamber seu rosto.

— Ele gostou mesmo de você.

— Só é um pouco grudento. Aqui — Ele pegou um pequeno graveto do chão, jogando-o longe — Vá pegar, garoto!

Riro correu, se afastando cada vez mais.  

— Ele é bem rápido. — Observei.

— Sim. Zaya... Eu gostaria de saber...

— Sim?

Neteyam parecia hesitante, pois notei como sua cauda balançava de um jeito incomum. Aproximei-me calmamente dele e lhe entreguei um Atokirina, mostrando-lhe que devia levá-lo até as margens do rio, localizado no centro do Bosque. Meio inseguro, Neteyam caminhou lentamente na direção do rio, comigo ao seu lado.

— O que queria me perguntar? — Indaguei.

— Liö me disse que teremos o solstício de inverno a partir de hoje.

— Ah, sim. Desde que você chegou tenho feito algumas mudanças para que se sinta a vontade. Liö já se acostumou, mas você não será um residente permanente aqui.

— Não precisava se incomodar... Mas obrigado — Neteyam passou sua mão pelos cabelos, um tanto sem jeito — Bom, ela me disse também que poderíamos ver alguma aurora boreal.

— ... É possível. Claro, se quiser eu posso...

— A gente, sei lá, poderíamos ver, né? — Ele me interrompe.

Surpresa, acabei não respondendo Neteyam, que ficou mais atrapalhado.

— Tudo bem se estiver ocupada. É que nunca vi uma e eu queria ver com você.

— ... Comigo?

— O que eu quero dizer é que seria bom que você viesse, já que conhece esse lugar melhor que eu. — Ele sorri, um pouco forçado.

Parecia bem nervoso. O Atokirina em sua mão não conseguia ficar parado, pois o mesmo não conseguia mantê-la imóvel.

— Claro. Eu adoraria. — Sorri docemente.

Neteyam retribuiu o sorriso, soltando o pequeno ser luminescente sobre o rio. Observamos ele se misturar aos demais, enquanto Riro retornava com seu graveto. Neteyam se afastou de mim e foi brincar com seu amigo. Olhei para os Atokirinas, tentando assimilar o que acabara de acontecer. Liö apareceu alguns minutos depois, perguntando por Neteyam.

— O Nantang dele faz uma bagunça no pomar e ele some. Ora! Quando ele voltar, vai ser só. — Ele cruza os braços, parecendo aborrecida.

— Liö...

— Precisa de algo, senhora? Parece pensativa.

— Sim. Preciso. — Virei-me para ela — Neteyam me chamou para ver as auroras boreais.

Liö desfez sua cara de chateada e me dirigiu um sorriso doce.

 — Finalmente!

Franzi o  cenho. "Finalmente?"

Liö pegou em minha mão e começou a me levar para longe do Bosque, indo em direção a Árvpre Sagrada.

— Liö, o que você...?

— Venha comigo, senhora.

Liö me puxou para o pequeno lago em frente a Grande Árvore, onde ficou recolhendo algumas flores. Olhei as trepadeiras cheias de flores rosáceas caírem por seus galhos. Algumas folhas caíam e antes mesmo que tocassem o chão, uma luz pequenina surgia e logo em seguida podia se ver o Atokirina puro voar por entre os galhos e folhas caindo. Eu podia ficar horas vendo aquele processo tão bonito, mas Liö sempre me lembrava de meus afazeres. 

Mas hoje, pelo o que se via, seria diferente.

Com algumas flores em mãos, Liö fez um penteado semi-preso em meu cabelo e colocou as flores que havia pego. Parecia estar bem animada, pois cantarolava uma canção enquanto fazia. Sua voz era realmente muito bonita. Liö era muito bonita, sendo uma Na'Vi relativamente alta e bem esbelta. Seus cabelo era sempre mantido preso por uma trança que ia até seus quadris. Era boa na caça e também preparando refeições, o que era útil para que encontrasse um parceiro, mas a mesma dizia não precisar disso e que estava feliz aqui no Mundo Espirital — Mesmo dando algumas escapadas para o mundo dos nativos.

— Pronto, senhora. Está ainda mais bonita. — Ela disse, olhando com um sorriso doce para o penteado que fizera. 

— Liö, por que você disse "finalmente"?

— Ah, senhora, não percebeu? Neteyam gosta de você.

— Não, ele...

— Está muito agradecido, eu sei. Mas eu vejo como ele te olha. Ele é um garoto bom. E sabe, acredito que a Grande Mãe concorde comigo. Todo mundo é digno do amor, senhora. Por que não tenta?

— Uma divindade e um Na'Vi? Não me parece boa ideia.

— Vamos senhora, não é nada demais. A senhora ama tudo e todos, mas não consegue deixar que um simples Na'Vi goste da senhora? Por que é tão dura consigo mesma?

Abri a boca para responder-lhe, mas percebi que não havia resposta alguma.

— Além disso — Continuou ela — Um dia ele retornará para sua família e voltaremos a ser só nós duas aqui. Eu gostaria muito que você deixasse suas tarefas que vem fazendo há milênios com tanta dedicação de lado e se divertisse um pouco com ele. Eu já tive uma vida ótima. Está na hora de viver a sua, não acha?

Zaya - Princesa De PandoraWhere stories live. Discover now