Zaya - Princesa De Pandora

Capítulo 25

Observei aquela multidão em volta de Neteyam, enquanto Tonowari anunciava seu A'tanvi Makto. Algumas garotas o olhavam um pouco animadas, já os rapazes estavam o parabenizando-o e incluindo-o em seus respectivos grupos de treinos, pesca, caça e afins. Kiri e eu estávamos um pouco mais afastadas, próximas as nossas tendas.

— Parece que Neteyam ganhou alguns fãs. — Comentou ela.

— Estão eufóricos porque alguém finalmente domou A'tanvi.

— Zaya... Eu falava das garotas.

Ah... Elas.

Dei de ombros e Kiri revirou os olhos. Alguns minutos depois Tsireya veio ao nosso encontro. Estava feliz, embora parecia que algo a incomodava.

— Tsi, o que foi? — Indaguei.

— Vocês não acham que essa atenção que Neteyam está recebendo seja um pouco... Excessiva? Quero dizer, acho legal que os meninos estejam incluindo ele em tudo, mas as garotas...

— Eu disse. — Comentou Kiri.

Por um momento senti-me mal. Era difícil dizer, parecia ser um misto angústia e medo. Céus, eu estava ficando insegura! Tsireya percebeu meu estado e lançou-me um sorriso doce, dizendo que tudo iria ficar bem.

— Só por hoje vamos deixá-lo se divertir. Verá que amanhã tudo voltará ao normal. — Disse ela.

— É... Talvez tenha razão.

— Zaya, será que eu posso mexer no seu cabelo?

— É o quê?

— Ele está lindo assim solto, mas acho que ele ficará mais se tivesse uma ou duas trancinhas. O que acha?

— Melhor deixar ela fazer, se não ela não vai parar de pedir. — Informou Kiri.

— Ah... Tudo bem. Pode fazer.

Tsireya dei alguns pulinhos de alegria e começou a trançar meu cabelo. Sendo ela a única filha mulher, Tsireya acabava passando mais de seu tempo em companhia de Kiri e Tuk, mas com a minha chegada e nossa nova amizade, eu tinha certeza de que cenas assim começariam a ser rotineiras.

Passado alguns minutos, Spider chegara. Sempre que me via, Spider me lançava olhares curiosos e um tanto fascinados, mas não ousava falar algo. Olhei para Kiri em busca de resposta, mas a mesma se fez de desentendida.

— Kiri te Suli Kireysì'ite.

— Hum?

— O que você contou ao Spider?

— Nada. Só que você e Neteyam foram encontrados juntos na praia e que você é minha... Irmã.

— Como é?

— Desculpa, eu acabei soltando que você irá ajudar minha ligação com Eywa. Ele sabe que não consigo fazer sem desmaiar e ficou confuso quando eu disse que você poderia resolver meu problema. 

— Ma'Eywa... Por isso ele está me olhando daquele jeito. Kiri, não é pra sair espalhando!

— Foi só ele pra quem eu contei, eu juro. Além disso, ele não contará a ninguém. Não é, Spider?

Spider estava com um peixe assado em sua boca e arregalou os olhos quando percebeu que falávamos com ele. Spider apenas assentiu. Em meio a multidão, vi Ao'nung e Rotxo vindo em nossa direção. Ao'nung segurava dois pequenos copos de barro, do qual me ofereceu um assim que chegou. Senti um cheiro forte da syulan'rim, uma flor pequenina amarela, que, se ingerida em altas quantidades, poderia causar sonolência, euforia e, em casos mais graves, a perda da memória recente. 

Receosa, peguei o copo, mas não bebi do liquido.

— Parabéns pela sua vitória, Zaya. Lo'ak te falou sobre meus truques, não é?

— ... Não.

Ao'nung riu.

— Pode admitir. Parecia muito que você conhecia o percurso.

— Ao'nung, não seja um mau perdedor. — Reclamou Tsireya.

— Não estou sendo. Reconheço que Zaya fez bom uso das informações que conseguira, isso é uma habilidade de uma boa guerreira.

Kiri, Spider e Tsireya me olharam esperando minha resposta. Eu realmente não sabia o que dizer, mas optei por agradecê-lo.

— Sabe, Zaya, estive pensando. Acho que começamos com o pé esquerdo. O que acha de uma trégua?

O quê?

— ... Uma trégua?

— Isso. Sem competições, provocações ou qualquer coisa do tipo. Apenas uma boa e simples amizade. O que me diz?

 — Qual é a pegadinha? — Indagou Spider.

— Não tem pegadinha. — Ao'nung sorriu — Vai ser bom ter alguém como a Zaya em nosso grupo de guerreiros. E como é nossa nova residente, seria legal se nos déssemos bem.

— Se for verdade o que diz, Ao'nung, então fico feliz de sermos amigos.

Ao'nung levantou levemente seu copo e bebeu do liquido. Rotxo fez o mesmo. A contragosto também o fiz, me surpreendendo com o gosto incrivelmente doce da bebida. Ao'nung viu que eu gostara e foi pegar mais para mim. 

— Aí, Tsi — Chamou Kiri — Neteyam está vindo. Acabou aí?

Foi só então que percebi que Neteyam havia se desapegado da multidão e vinha em nossa direção. Tsireya terminou sua última trança e colocou-se ao meu lado, com um sorriso ensaiado em seu rosto.

— Não vão aproveitar a festa? — Perguntou ele.

— Já estamos. —Respondeu Kiri.

— Digo, com outros...

— Ah, logo iremos. — Disse Tsireya.

Neteyam me olhou desconfiado, mas não disse nada. Ao'nung voltou com a minha bebida, da qual me devolveu sem nenhuma cerimônia. Neteyam a pegou de minhas mãos e cheirou, sentindo o aroma da flor.

— Syulan'rim?

— Qual o problema? — Indagou Ao'nung.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Só estamos comemorando sua conquista... A'tanvi Makto.

Neteyam me devolvera o copo, um pouco a contragosto.

— Só não abusem. Amanhã começam os treinos.

 Eu odiava quando Neteyam falava como um soldado, pois me remetia ao tempo em que o mesmo era tratado assim por Jake, fazendo-o se sentir preso e pouco suficiente. Neteyam sabia disso, mas não se preocupou em mudar sua postura. Irritada, bebi toda a bebida daquele copo. Ambos Na'vi me observavam quietos.

De repente, uma menina se aproximou de nosso grupo. Era uma Metkayina linda, de estatura um pouco mais baixa que Neteyam e muito, muito educada. Seus cabelos estavam trançados em uma única trança longa, decorada com pequenas pérolas, a qual ela deixava na parte da frente do seu corpo.

— Desculpe atrapalhar vocês, mas eu precisava falar com o Neteyam. — Disse ela timidamente.

—Ta'lèa, o que quer? — Perguntou Tsireya visivelmente incomodada.

— Só vim devolver a viseira de Neteyam. Você a deixou cair. — Ela entrega o objeto para ele.

— Ah, obrigado.

— Sei que já ouviu muito isso hoje, mas você foi incrível! O modo como não desistiu de A'tanvi foi impressionante. Como conseguiu?

Não acredito.

Enraivecida, fiz um sinal para Ao'nung apontando para meu copo e ele rapidamente entendeu. Ao'nung apontou o caminho e eu o segui festa adentro.