Capítulo 7

1.4K 187 15
                                    

No dia seguinte, levei Neteyam até onde seria o reflexo da árvore Omatikaya. Segundo ele, tudo era muito igual... Cada galho, cipó e epífitas estava no lugar certo. Enquanto Neteyam olhava em volta, mantive-me quieta e atenta ao Na'Vi, sempre me mantendo distante. Neteyam não ousou escalar a árvore, mas fez questão de olhar tudo a sua volta.

Até que ele, em determinado momento, ficou imóvel com umas das mãos tocando o enorme tronco. Neteyam respirou fundo algumas vezes e encostou sua testa na árvore.

Parecia triste.

— Zaya...

— ... Sim?

— Nós podemos ir até os Recifes?

— Você quer ver a ilha onde os Metkayina residem, não é?

Neteyam dirigiu seu olhar a mim e assentiu, com a expressão firme. Aproximei-me a passos curtos, ficando a sua frente.

— Não posso ir com você, mas pedirei para que Liö o acompanhe, está bem?

— Porque não?

— Não posso sair de perto da Árvore Sagrada, pois não há outro ou outra além de mim capaz de cuidar das coisas se algo der errado.

— Mas em todos esses milhares de anos o Mundo Espiritual nunca esteve em perigo. Nem mesmo quando o Povo do Céu atacou Pandora há quinze anos.

Segurei a mão de Neteyam com um sorriso fraco.

— Eu preciso estar aqui. Sempre. Mas eu sei o quanto isso é importante para você, então, deixarei que Liö vá com você até os Recifes.

— Queria que fosse você. — Admitiu baixinho.

Eu não gostava de vê-lo assim, mas desobedecer uma ordem direta e antiga de minha mãe não era algo que eu faria em sã consciência. Depois de olhar mais um pouco, Neteyam decidiu que estava na hora de voltar. Ficamos o caminho todo em silêncio, mas pelo menos Neteyam não me parecia mais melancólico. Quando chegamos, Neteyam foi recebido por Riro, que não parava de colocar suas patas no abdômen do Na'Vi, tentando lamber seu rosto.

— Obrigada por me levar lá. — Disse ele — Acho que ver minha antiga casa me fez bem.

— Imagine, não foi nada.

— Pra ser sincero, você me faz bem.

— Neteyam, eu...

— Você tem um propósito aqui, eu sei. Mas Zaya, você já imaginou se um dia pudesse sair daqui? Viver entre nós?

Viver... Entre os nativos?

— Sabe, acho que meus pais iriam gostar de você. A Tsireya tentaria ser como uma irmã pra você e a Kiri...

De repente, Neteyam parecia ter pensado em algo. Curioso, ele perguntou:

— Minha irmã Kiri tem algum tipo de ligação com toda Pandora. Quando ela se conecta com a nossa Árvore Sagrada, sempre têm convulsões. Por quê?

— Estava esperando que você perguntasse. Kiri é um caso muito raro de junção de almas. A Dra. Grace Augustine não poderia retornar como um Atokirina, pois tanto seu corpo original, como o corpo de Avatar, não nasceram em Pandora. Então, a Grande Eywa depositou parte de seu espírito em um Atokirina já recém-formado, juntamente com o espírito puro que iria para o pequenino corpo Na'Vi, que começara a se formar dentro do Avatar de Grace. 

— Por isso ela tem conexão com praticamente tudo.

— Bem, digamos que no processo minha mãe teve que usar uma grande parte de seu poder. Aparentemente mexer com almas de outros mundos requer um pouco mais poder e força. Então, acabou que Kiri herdou um pouco.

Neteyam arregalou os olhos, incrédulo.

— A sua irmã tem um pouco da Dra. Grace dentro de si e um pouco da Grande Eywa também. Mas ela não sabe, ela só... Sente.

— Isso é muito confuso. Poderíamos dizer que ela é como uma meia irmã sua?

— Sim.

— Mas e as convulsões?

— É algo que ela tem que aprender a controlar. Kiri, assim como eu, temos a nossa ligação com a Grande Eywa um pouco mais complexa. Por que... Basicamente, somos um só espírito. A cada vez que Kiri tenta se conectar, o seu corpo recebe um pouco mais de poder. E enquanto ela não souber controlar isso, seu corpo irá rejeitar nossa Mãe.

— Como controlar algo que não sabe?

Neteyam estava preocupado. Ao fundo, pude ver Liö se aproximar com uma tigela, provavelmente com frutas do pomar ou cogumelos.

— Tem que ensinar ela, Zaya. Por favor.

Neteyam segurou tão firme em minhas mãos que eu tive que soltá-las imediatamente.

— Não há como. Kiri não pode adentrar o Mundo Espiritual e eu não posso sair.

— Mas se conectar com a Grande Eywa faz parte de quem nós somos. Ela se sentirá sozinha quando fizermos nossas preces e rituais e...

— Chega, Neteyam. Eu queria muito, mas realmente não posso.

A preocupação em seu rosto sumirá, dando lugar a mágoa. Neteyam se afastou um pouco de mim, como se colocasse uma parede entre nós.

— Do que adianta ser a filha direta de Eywa e irmã dela, se não pode fazer nada?

Senti como se tivessem me golpeado.

— Neteyam, eu não...

— Tanto poder... E para que? Tem alguém lá fora precisando de você, Zaya. 

Não consegui responder. Senti minhas mãos trêmulas e meu estomago revirado. Netyeam virou as costas e se afastou cada vez mais. Riro ficou ao meu lado, mas olhava para seu amigo querendo que o mesmo voltasse. 

— Vocês demoraram. — Resmungou Liö, se aproximando — Onde está Neteyam? Preciso que ele corte alguns pedaços de lenha, logo irá anoitecer.

Ainda atordoada, juntei minhas mãos ao meu corpo, numa espécie de abraço, e tomei meu caminho para a Árvore Sagrada. O caminho, que antes era bem simples, agora não me parecia ser o certo.

— Senhora? — Liö chamou-me, largando a tigela e correndo até mim — O que aconteceu? Por que está assim?

— ... Ele quer ir até os Recifes. — Foi tudo o que consegui dizer.

— Ah... Então, tudo bem. É uma  viagem um tanto longa, mas vocês ficarão bem.

— Eu não vou.

— Por que não?

 "Tanto poder... E para que? Tem alguém lá fora precisando de você, Zaya." Balancei minha cabeça tentando afastar esses pensamentos que insistiam em me perturbar. "Do que adianta ser a filha direta de Eywa e irmã dela, se não pode fazer nada?".

— Senhora...?

— Eu tenho que ficar, Liö. Tenho que proteger a Árvore Sagrada.

— Mas proteger do que?

Liö de repente segurou minha mão e fez com que eu me virasse para ela.

— Se este for o motivo para ter deixado você desse jeito , então, sinto lhe dizer que está errada. Finalmente temos companhia depois de tanto tempo, e você, tem alguém que gosta de verdade de você, senhora. Mas conhecendo você, eu diria que tem algo a mais, então, pode falando. Vamos.

Levantei vagamente meu olhar para o rosto preocupado de Liö.

— Ele quer que eu saia para o mundo exterior. Para ajudar ela.

— ... Kiri?

Assenti. Liö finalmente entendera.

Zaya - Princesa De PandoraKde žijí příběhy. Začni objevovat