Tears and Rain

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Quinze dias se passaram desde que a garota nova chegou e já trouxeram mais 2, posso ouvir elas socarem a porta lá cima antes de alguém subir e jogar seus corpos longe um depois o outro 'bam … bam', tapo meus ouvidos mas ainda posso escutar tudo. A casa está em completo silêncio a não ser pelos barulhos de gritos e correntes lá em cima. 

Eles te soltam, então você acha que pode tentar algo, eles te prendem se novo ao poste no meio do cômodo que não é nada se não uma escuridão completa. Não dá pra saber se é dia ou noite, é desesperador. Depois eles te drogam com qualquer coisa e você apaga. Eu sei porque fiquei lá pelo que pensei ser uma eternidade e quando sai estava apavorada, machuca e faminta, sem qualquer dignidade ou esperança. E o que veio depois foi ainda pior. 

O barulho finalmente cessa. Me encolho no canto da minha cama, me cobrindo, tentando me aquecer do frio gélido no qual a casa toda está mergulhada. À 10 dias não temos aquecimento central, só quando os "clientes" chegam, nem  água quente e apenas uma refeição ao dia. Mas os socos, chutes e empurrões vem aos montes, meu corpo todo está dolorido tanto de tremer quando de apanhar, meu estômago dói de fome e tento não pensar na sopa rala que vão servir daqui a pouco, só o pensamento me faz querer vomitar. Eles chegaram a conclusão que estávamos precisamos de disciplina. Não que qualquer coisa tenha acontecido, é apenas a vontade suprema de humilhar ainda mais cada uma de nós. 

Choro mais um pouco, mesmo que minhas lágrimas tenham secado a dias. Só queria morrer, simplesmente queria que chegassem no meu quarto para servir sopa, ou me chamar para mais um banho frio, ou para descer e recepcionar meu estuprador da noite e encontrassem meu corpo frio e duro. Mas não morri, mais um dia. 

De repente a porta abre e bate na parede, me encolho mais de encontro a cabeceira. Um dos caras entra, ele é enorme, ruivo, com uma barba grande e despenteada, é um dos mais violentos. Trato de olhar para baixo antes que ele se irrite demais só porque olhei pra ele por tempo demais. 

- Aqui, coma. - fala em russo e estico a mão - coma e desça, rápido. Sem choro. 

Pego a tigela e começo a comer enquanto ele sai, tem carne e macarrão, talvez o castigo esteja chegando ao fim. Como devagar para não passar mal e tomar uma bela surra, já cometi esse erro antes. 

Quando termino deixo a tigela sobre a mesa no canto e saio de baixo das cobertas, observo meu corpo, estou muito magra e cheia de manchas roxas, verdes, amarelas e arranhões pelas pernas e braços. Dói. 

Então começo a me arrumar para a noite, já tomei banho frio,de novo, nesse momento ficaria tão feliz apenas com um banho quente mesmo que de caneca. Mas esqueço o desejo e volto a realidade, tiro a camiseta velha e toda furada que estou vestindo e troco por uma saia preta que acaba logo abaixo da minha bunda, uma blusa justa e decotada da mesma cor e visto o único casaco que tenho, cinza e que quase não esquenta mais. Nada disso fui eu que comprei ou escolhi, apenas recebi durante todos esses anos. 

Começo a agir no automático, me arrumo, desço, sou escolhida, subo. Desço de novo, sou escolhida, subo. Desço … e então o careca está lá sentado, sorrindo e bebendo, ele me puxa pela mão assim que entro. 

- Aí está você. - dou um sorriso forçado - pegue uma dessa aqui e vamos subir. 

Ele me entrega um copo com uma bebida vermelha, bebo de uma vez e deixo o líquido descer queimando. Já bebi tantos copos hoje que me sinto meio entorpecida, o que é bom. Por mais que eu odeie o álcool e que seja obrigada a beber, ele traz o entorpecimento certo. 

Ele me puxa escada acima, falando sem parar e não escuto uma palavra, primeiro porque não me importo com as merdas que ele diz, e segundo porque tudo roda. 

Stolen Life (Repost)Where stories live. Discover now