III

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A polícia procurava pela terceira garota desaparecida nas últimas três semanas. Ninguém lembrava-se de tê-las visto no último lugar em que estiveram, e a suspeita de um serial killer na pequena cidade começava a ganhar força na boca das pessoas. As garotas começaram a ficar assustadas, já que tudo indicava que elas eram o único alvo do misterioso assassino não-confirmado. Para piorar, não havia um padrão entre as desaparecidas, o que significava que qualquer uma poderia ser atacada e desaparecer. Da recepção do hotel, Simons acompanhava o noticiário, desdenhando das informações. Tinha esse emprego noturno no único hotel de Setville, entrando às 19:00h e saindo às 4:00h, bem antes do sol nascer. Sabia que nunca chegariam até ele ou mesmo encontrariam os corpos. Ele os deixara bem enterrados, em um local onde as pessoas que moravam ali não costumavam ir. E, mesmo que houvesse a mínima chance dele ser descoberto, quem poderia detê-lo? Não havia ninguém naquele lugar suficientemente capaz, poderia tentar quem quisesse. Apesar de não ter muito orgulho do que vinha fazendo, tinha se tornado um hábito incontrolável, como alguém que bebe água após um calor escaldante no deserto.

Não fazia muito tempo que Simons tinha experimentado sangue humano pela primeira vez. Alimentava-se apenas de sangue animal, uma vez por semana, abatendo um ou dois animais na floresta. Mas, três semanas atrás, as coisas mudaram. Algo dentro dele mudou, um lado maligno oculto e desconhecido despertou nele e tudo passou a ser diferente, insaciável. Era como se houvessem duas personalidades disputando sua mente, uma já conhecida e uma nova, querendo seu espaço. Ele tinha conhecido Clarice em uma festa, quase da mesma forma como havia sido com Sophia. Clarice era bonita, adornada de fascínios elegantes, um sorriso com covinhas delicadas e olhares cheios de charme, que Simons não deixou de notar. Os dois saíram à procura de um lugar mais reservado e Simons a levou para aquela mesma estrada. Tudo ia bem, Simons começou a beijá-la já com a mão em um de seus seios. Clarice procurou pelo zíper da calça dele e o sentiu duro, a desejando ardentemente. Simons tirou a camisa e Clarice se pôs a beijar o seu peito, conhecendo aquele corpo másculo com sua boca, descendo pela barriga dele até a calça, ela o provou até sentir todo o seu gosto na boca, sem deixar nada escorrer. Em seguida Simons a beijou de novo e depois desceu para seus seios, com a boca concentrada, arrancando de Clarice alguns gemidos. O clima estava esquentando bastante dentro do carro. Ela foi para cima dele. De saia, não haveria dificuldades. Ele a ajudou a remover sua peça íntima e depois se introduziu para dentro dela, deixando-a se movimentar com maestria em seu colo. Mas então Clarice se jogou demais para a frente e bateu a cabeça com força na porta do carro, abrindo um pequeno corte na testa, o filete de sangue desceu. Ela riu do acontecido, tentando parecer descontraída diante de sua pequena dor, dizendo que a bebida a tinha deixado mais desastrada que de costume. Mas não houve riso da parte de Simons, ele estava sério e imóvel, quase petrificado. Aquele cheiro era novo, muito convidativo. Simons perdeu a linha de raciocínio, como se fosse apenas um passageiro a bordo de seu próprio corpo, e Clarice se tornou sua primeira vítima humana. O sangue humano havia transformando-o e agora era tudo que podia saciá-lo.

Ícaro, o melhor amigo de Simons, apareceu no hotel por volta das 21:00h. Os dois tinham planejado assistir o jogo de futebol juntos, como já costumavam fazer todas as quartas-feiras. O que não seria problema o fazer na recepção, já que, em geral, não apareciam hóspedes na quarta, ou quase nunca apareciam. Simons pegou duas cervejas no expositor e deu uma para o amigo, sintonizou a Tv no canal que passaria o jogo, dispensando o noticiário. Ficaram jogando conversa fora enquanto não começava, Ícaro contando vantagens sobre as garotas que tinha ficado no fim de semana, entre um gole e outro de cerveja. Simons estava acostumado com as histórias do melhor amigo, mas imaginava que nem tudo era verdade.

Então um ônibus estacionou em frente ao hotel. Não podia ser possível, logo naquele dia, na hora do jogo e quando seu time favorito estava entrando em campo! "Droga, hóspedes agora não", pensou Simons. Ele observou do sofá e não tirou os olhos da porta, esperando para saber quem era o infeliz que desceria do ônibus. Ele suavizou quando viu a garota que desceu na entrada. Prontamente, ele ficou de pé e se dirigiu até a porta da recepção, enquanto o bagageiro deixava as malas da garota ali na calçada. Ele abriu a porta, fazendo soar o pequeno sino, típico de hotel de cidade pequena. A garota se virou para olhá-lo e Simons esboçou um sorriso cordial, se oferecendo para carregar as malas. Ele já tinha em mente sua próxima vítima.

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