XVIII

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Simons havia combinado de conversar com Érika no hotel quando chegasse a noite. Será que ele poderia confiar nela? Claro, ela poderia ter o matado se quisesse, mas isso provava o quê? Estava ansioso para encontrá-la. Não fazia ideia do que ela pretendia e sentia a extrema urgência de ter a resposta. Se ela não o matou e não iria entregá-lo, o que faria então? E a pergunta mais importante: Por quê? O que ela ganhava em se arriscar por ele? Ele havia tentado matá-la, e teria conseguido se não fosse a surpresa dela ser como ele. Bom, quase. Aquele monstro horrendo que ela se tornou o deixara enojado... e assustado, mas isso ele não confessaria. Mas se a imagem dela nua viesse à tona, ele até sentia uma certa excitação, o que era devidamente normal para um homem. Apesar de tudo, ela era incrivelmente bonita, dona de um charme peculiar.

Seja como fosse, ele cumpriria qualquer que fosse o acordo. Se ela queria os corpos, ele a levaria lá, diria onde havia enterrado cada uma. De repente, fazendo tudo o que ela dissesse, quem sabe ganhasse uns pontos. Estava curioso para saber mais sobre ela e o que era, afinal. Lobisomens não se transformavam apenas na lua cheia? Então o que foi aquilo? E por que o pelo dela era branco? Lobisomens não deviam ser... Espera, o que ela havia dito que era mesmo? Não era lobisomem. Wolfwoman! Ela era uma Wolfwoman. Deveria haver diferenças sutis, obviamente.

Ícaro havia telefonado perguntando se poderia passar no hotel, mas Simons inventou uma desculpa para ele. Ainda teria que inventar outra desculpa para o amigo, para explicar tudo o que aconteceu na noite anterior. Ele era capaz de imaginar o susto que o melhor amigo deve ter tomado ao ver a detetive. Ele mesmo se sentiu um criminoso comum quando ela revelou que era da polícia. Talvez Érika o ajudasse com isso também. Droga, não poderia ficar dependente dela. E falando em dependência, será que ela esqueceu da sede semanal que ele tinha? Ela devia saber que era incontrolável, ele mesmo disse isso para ela quando ela quase arrancou a cabeça dele. Massageou o pescoço, ainda sentindo-se um tanto quanto dolorido. Estava claro que ela não permitiria que ele matasse alguém de novo, então era bom ter uma solução para isso também. É claro que teria.

Saiu na calçada do hotel, na esperança de ver Érika chegando. Olhou para o carro e lembrou que teria que substituir o vidro quebrado que fora atingido pelo tiro. Ele não seria multado por isso, não em Setville, então poderia deixar isso para mais tarde. Sabia que isso iria gerar algumas perguntas, mas era algo bem mais fácil de inventar uma história que todo mundo comprasse. Ele sabia também que o mecânico da cidade havia viajado com a família e teria de esperar, seja como fosse.

Alguns minutos se passaram e um carro dobrou a esquina. Era o carro do delegado. Simons engoliu em seco. Teria ela mudado de ideia e agora eles estavam indo buscá-lo? Resolveu continuar parado ali mesmo onde estava, apreensivo, mas diminuindo as suspeitas. O carro estacionou bem na sua frente, ele quase deu um pulo para trás. O vidro escuro fumê foi descendo, revelando o delegado Martinez por trás do volante, com uma expressão séria estampada.

- Boa noite, sr. Vulkan. - cumprimentou-lhe o delegado amigavelmente.

- Delegado Martinez, que surpresa vê-lo por aqui. - respondeu Simons, escondendo o terrível medo na voz.

- Vim deixar uma hóspede. - ele deu uma piscadela. - Está cuidando bem dela?

- Fazemos bem nosso trabalho aqui em Setvill. O senhor sabe.

No mesmo instante, a porta do carona foi aberta e Érika saiu do veículo, olhando diretamente para Simons, que congelou. Ela se despediu do delegado e agradeceu pela carona. Ele foi embora, deixando Érika e Simons na calçada, afastados um do outro.

Os dois permaneceram calados, olhando o veículo sumir na rua seguinte.

Simons quebrou o silêncio.

- Como foi no trabalho?

- Acho que você não é apto a fazer essa pergunta. - ela o encarou com os olhos sérios.

- Desculpe.

- Não sabia que você conhecia o delegado. - ela mudou de assunto.

- Você não perguntou.

- E você é capaz de me dizer a verdade se eu perguntar sobre tudo o que tenho curiosidade?

- É a primeira vez que você chega na viatura. - dessa vez foi ele quem trocou de assunto.

Érika queria dizer que achava interessante ele ter observado esse detalhe, mas optou por abordar o assunto pendente.

- Entre. Temos que conversar. - ela disse seriamente.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now