XXV

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- Você disse lá em cima que já viu ela nua. Então quer dizer que vocês já... - Doralice não concluiu a frase.

Mas Simons entendeu o que ela quis dizer.

- Não... ainda não. - ele deixou escapar um sorrisinho sínico.

- Pelo que ela falou de você, achei que era mais fodão. - outro longo gole na vodka.

- Ela falou de mim para você? - havia surpresa e curiosidade na voz dele.

- Falou, mas não fica se achando, garoto vampiro. Ela disse que você tentou matá-la. Isso é verdade? - Doralice lhe lançou um olhar desafiador.

- Bom, eu...

- HaHaHa! - ela começou a gargalhar - Você é mesmo novo nisso. Há quanto tempo se tornou vampiro?

- Já fazem dois anos. - ele respondeu.

- Você é um brotinho. Como aconteceu?

- Foi um morcego.

- Um morcego? Que ironia. Me conta os detalhes, vai.

Então Simons lhe contou a mesma história que já havia contado para Érika anteriormente. Doralice ouvia a tudo concentrada, fazendo gestos de concordância de vez em quando, demonstrando que estava entendendo tudo.

- Que loucura! - foi tudo o que ela disse quando ele parou de falar, esvaziando a garrafa.

- A gente não deveria conversar sobre o que aconteceu com a detetive?

- Exatamente. Traz outra garrafinha dessa que a gente conversa.

Bruxas também ficavam bêbadas com álcool? Ou teria alguma poção mágica para isso? Simons fazia esses questionamentos internamente enquanto se levantava para ir buscar outra bebida.

Ao retornar, encontrou Doralice com uma expressão séria no rosto. Ela parecia fitar o vazio.



- Eu nunca pensei que iria ver a minha amiga nesse estado. Depois que ela me contou o que estava acontecendo nessa cidade e sobre você, se eu tivesse chegado e a encontrado assim sem você por perto, concluiria que teria sido você. - ela se voltou para os olhos dele - e o teria caçado até encontrá-lo.

Simons deixou escapar um suspiro preocupado. O clima de repente pareceu ficar tenso entre os dois.

Ela continuou.

- Você tentou matar a minha melhor amiga, mas foi muito amador nisso. Mas soube também que você levou uma surra merecida depois disso. - ela concluiu rindo e quebrando o momento de tensão.

Simons massageou o pescoço, lembrando-se do dia em que quase foi morto por Érika.

- Eu não sabia o que ela era.

- Claro que não, amador. Mas vem cá, você não sentiu seu ego ferido por apanhar de uma mulher? - ela o provocava.

- Até que sim. - ele confessou.

- E não tem vontade de se vingar dela?

- O jeito que eu quero acabar com ela é diferente. - ele se serviu de um pouco da vodka.

- Socando muito? - ela ironizou.

Ele entendeu o sentido da frase, impressionado por uma mulher o deixar desconcertado. Ele mudou de assunto.

- Se não fui eu que atacou a detetive e a deixei naquele estado, isso quer dizer que tem alguém igual a mim pela cidade.

- Devia mudar seu nome para "sr. Obviedade". Na verdade, talvez seja mais forte do que você. À menos que tenham feito alguma outra coisa sem antes ela perceber.

- Isso é possível?

Doralice revirou os olhos.

- Érika pode ser uma wolfwoman, mas não é muito atenta.

Isso era verdade e Simons sabia. Lembrou-se que ela só percebeu que ele era vampiro no último momento.

- A gente tem que descobrir quem fez isso com ela.

- Mais importante, se você achava que era o único, por que esse outro só apareceu agora? Érika cruzou com ele sem querer? Não vamos conseguir essas respostas com ela no momento. Vamos ter que assumir o lugar dela como detetives.

- Certo, estou com você nessa.

- Ora, ora. E aquele morceguinho amedrontado de agora pouco? - a pergunta saiu sarcástica.

- Eu estava brincando. - Simons lhe lançou uma piscadela.

- Claro que estava.

- Certo, mas agora eu preciso ir. - ele consultou o relógio - A gerente vai já chegar e eu tenho que ir para casa antes que o dia amanheça. É bom você subir e verificar como ela está. - ele se levantou e caminhou em direção a recepção.

- Espera aí. Você está me dizendo que não pode sair de dia porque vai morrer?

Ele se voltou para encará-la.

- É. É isso o que estou dizendo.

- Meu Deus, cara. É muito fácil matar você.

- Sua amiga detetive disse a mesma coisa. - ele riu.

- Quantas vezes você bebeu o sangue dela?

- Só uma. Por quê?

- Ah...

Ele caminhou de volta até o sofá, interessado na pergunta.

- Por quê? - ele insistiu.

- Tá legal. Eu sei que ela ofereceu o próprio sangue para deixar você controlado até encontrarem uma outra solução. Então, se você gosta mesmo dela, deve saber que ao fazer isso, irá enfraquecê-la. Mas é possível que isso também acabe com sua fraqueza ao sol e... - novamente ela não concluiu uma frase.

Dessa vez Simons não entendeu o sentido.

- E o quê? - ele franziu o cenho.

- Talvez fique até mais poderoso do que ela.

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