XVII

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O delegado Martinez chegou uma hora depois de Érika. Ela estava na sala dele, sentada por trás da escrivaninha que havia sido providenciada especificamente para ela. Estava com uma xícara de café em uma mão e um papel na outra. Parecia muito concentrada no que estava lendo. Eles não haviam tido contato desde a sexta-feira, o que significava que o delegado estava desatualizado sobre o andamento do caso.

- Bom dia, detetive.- cumprimentou-lhe o delegado.

- Olá, delegado. Sente-se, por favor. - ela pediu educadamente.

O delegado Martinez deixou sua pasta em cima da própria mesa e puxou uma cadeira, que incomodou os ouvidos da detetive ao ouvir o rangido da cadeira sendo arrastada pelo assoalho. Ele sentou-se em frente a mesa de Érika, cruzando as pernas em um movimento etiquetado.

- Como estamos com o caso, detetive? - ele perguntou.

- Estamos indo bem. - ela começou, mudando de assunto no mesmo instante - O que o senhor pode me dizer sobre o laboratório da cidade de Only Faster?

O delegado pareceu não entender a pergunta.


Érika continuou.

- Eu estava olhando uns arquivos antigos e notei um caso envolvendo sua cidade vizinha, Only Faster, no caso. - ela tinha achado o nome da cidade estranhamente patético - Alguém daqui garantiu que esteve em um laboratório naquela cidade, e voltou alegando ter sido vítima de experimentos bizarros por lá. Pelo que vi aqui, esse caso não teve andamento e não há o nome da suposta vítima em lugar nenhum. - ela concluiu.

- Qual a relação disso com o caso, detetive? - ele pareceu confuso.

- Talvez nenhuma. É só uma curiosidade. - ela comentou, naturalmente.

E era mesmo. Érika sempre teve uma tendência à curiosidade, cavar até saciar essa vontade que emanava de dentro dela.

- Esse caso já tem muito tempo. Eu nem mesmo era o delegado na época em que aconteceu. Mas eu sei que o rapaz que alegou tudo isso havia sido diagnosticado com transtornos mentais. Por isso, o caso precisou ser fechado. - ele tirou um lenço do bolso e passou na testa.

- E o rapaz?

- O que tem ele, detetive?

- Por onde ele anda? Ainda está aqui por Setville?

- Ninguém sabe. O garoto simplesmente desapareceu depois de uns meses.

- E a família?

- Ele não tinha família, pelo que sei. Foi deixado em um orfanato depois que nasceu.

- Hum, entendi. Bom, sobre o caso atual, eu tenho uma pista. Mas vamos ter que esperar até amanhã. - seu tom de voz saiu confiante e o delegado se animou.

- Uma pista! Então teve sucesso com as novas informações que colheu? - ele ficou eufórico.


Érika estendeu a mão, pedindo calma.

- Na verdade, está mais para um palpite - ela mentiu - Diga-me, delegado, seus policiais vasculharam mesmo toda a cidade?

- Sim, cada canto.

- E tem certeza que nenhuma garota saiu da cidade?

Ela já sabia a resposta.

- Não saíram. Há um registro de saída e entrada quando se chega na fronteira de Setville, quase como um check-in no hotel. Você não fez um quando passou na entrada da cidade? - ele piscou.

Ela não fora acordada para registrar sua entrada na cidade, o que não foi surpresa agora que sabia como funcionava a segurança daquele lugar.

- Neste caso, quero que vasculhem a cidade novamente. E dessa vez irei junto.

- Isso tem a ver com seu palpite? - o delegado perguntou curioso.

- Exatamente. - ela retribuiu a piscadela.

Estava claro para ela que aqueles policiais, e até mesmo o delegado, não tinham treinamento algum nesse tipo de operação. Por ser uma cidade pacata, Setville não cobrava esse tipo de coisa. Todos aqueles oficiais pareciam homens comuns que talvez não fizessem ideia do que fazer se tivessem em uma polícia de verdade, onde acontecia toda a ação. Apesar do narcisismo e da babaquice, Érika poderia considerar Edgar um policial mais preparado entre eles. Ou talvez os músculos ficassem apenas nos braços e pernas mesmo, e nada para se aproveitar do cérebro.

- Eu vou ter que ir agora. Preciso resolver outras pendências. - disse o delegado, lhe tirando dos seus pensamentos, levantando e indo em direção à porta.

Erika reparou que, pelo menos desde que ela chegara, o delegado Martinez parecia não ter o costume de ficar muito em seu local de trabalho. Aí estava uma das vantagens em ser o chefe. Ela chegou a comentar com o oficial Eliot à respeito disso, o abordando de um jeito casual para não parecer curiosa.

- Seu chefe se preocupa muito com a família, não é?

- Sim, ele tá sempre disposto toda vez que a esposa chama, não importa o que esteja fazendo. - respondeu Eliot.

- E como é a esposa dele?

- Na verdade, nunca vimos a família dele. Nós policiais nem sabemos o endereço do delegado. Acho até que moram na cidade vizinha, Only Faster.

Ela ficou surpresa. Como era possível, em uma cidade pequena como aquela, não saber onde uma autoridade morava?

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Érika precisava de um bom plano para fazê-los chegar a floresta sem levantar suspeitas. Ainda precisava combinar com Simons todos esses detalhes. Ela não queria acreditar que estava fazendo isso, mas Simons era igual a ela, mais fraco, mas era. Precisava ajudá-lo. E ela tinha um plano para que ele não precisasse mais matar ninguém. Se ela resolvesse o problema das garotas desaparecidas, então tudo poderia ficar bem. Ela era inteligente, ia encontrar uma solução. Mesmo com Simons ofuscando seus pensamentos o tempo inteiro.

A EscolhidaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon