XLIV

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Érika acordou desnorteada, com Doralice ao lado dela.

- Eu disse para você não vir sozinha, sua teimosa.

- Como chegou até aqui? - perguntou Érika, levando a mão à cabeça.

- Não interessa agora. Levanta, temos que parar o Simons.

- Ele assassinou outra garota.

- Eu tô sabendo.

- A culpa é minha. - disse, cabisbaixa.

- Sei disso também. Mas agora não é hora de ficar lamentando. Temos que acabar logo com isso.

Doralice ajudou Érika a chegar até o carro. A chuva caía torrencialmente, mas a bruxa lançou um feitiço que impediu que elas tivessem as roupas molhadas.

No carro, Érika voltou a questionar a amiga sobre como ela havia chegado ali.

- Eu telefonei para a Kalista. Lembra que ela pensa que sou você? Disse que fazia parte da investigação. Era óbvio que a gerente tinha o endereço dos funcionários.

- Isso foi muito esperto.

- Ora essa! - e caiu na gargalhada.

Mas Érika não riu.

- Desculpa. - pediu Doralice.

- Eu não entendo. - ela fez uma pausa - Como ele foi capaz?

- Amiga, isso é da natureza dele. Acho até que ele se segurou foi muito.

- Você está defendendo ele agora?

- Não, estou sendo realista.

- Pensando bem, tem algo estranho nessa história.

- Como assim? - questionou Doralice.

Érika checou o celular. Haviam inúmeras ligações do delegado. Olhou o relógio e viu que já passava das 3h da madrugada.

- Meu Deus, eu apaguei por horas!

- Você é mesmo uma Bela Adormecida e tanto. Mas explica, o que não faz sentido?

- Espera. - disse, estendendo a mão para a amiga em sinal de silêncio. Estava telefonando para alguém.

A pessoa atendeu.

- Detetive Green! Por onde é que você anda?! - esbravejou o delegado - Já coloquei Edgar atrás de você há horas.

- Desculpe delegado. Eu estava inconsciente.

- Como assim? Onde você está?

- Estou indo fechar este caso. - e encerrou a ligação.

🦇

- Aonde vamos? - perguntou Doralice.

- Você vai voltar para o hotel. Eu vou falar com o Simons.

- Nem pensar! Você não vai andar por aí sozinha de novo. Ainda não se recuperou, não tem lua cheia para você e o vampirão pode não te deixar viver dessa vez. Eu vou com você!

- Tudo bem. Mas me prometa que não vai fazer nada até eu dizer que pode.

- Palavra de escoteira.

- Certo, pegue a estrada. Nós vamos para a floresta. - Érika finalmente sorriu.

🦇

- Mas amiga, você disse que havia algo estranho nessa história toda.

- Sim. O que eu não entendo é como a polícia encontrou o corpo, se Simons sempre as levava para a floresta.

- Saiu no noticiário que o corpo foi deixado em frente à delegacia.

- Esse não é o estilo do Simons. Tem algo errado.

- Talvez a sede dele o tenha colocado em um momento de insanidade. - disse Doralice.

- Ou talvez tenha sido a mesma pessoa que me atacou na floresta. - observou Érika.

- Vamos descobrir assim que encontrarmos ele. - concluiu a amiga.

🦇

- Ícaro?! O que você faz aqui? - Simons perguntou sem entender.

- Não é óbvio? Essa é a minha casa.

Simons sentia-se ainda mais confuso. Focou a lanterna em direção ao amigo e notou que havia manchas de sangue pela roupa dele.

- Você está ferido?!

- Relaxa, maninho. Esse sangue não é meu. - e lançou uma piscadela - Aqui tem energia, sabia? - e apertou um interruptor por trás da porta, clareando o ambiente.

- E de quem é? - ele não escondeu a curiosidade estampada na cara.

- Ah, de uma velha conhecida nossa. Você deixou ela em casa mais cedo. - e sorriu.

- Eu não estou entendendo.

- Caramba, você é mesmo muito lerdo. Ainda bem que não vou mais ter que suportar essa sua cara idiota. - Simons não estava esperando aquela reação do amigo.

- Do que está falando?! - pigarreou.

- Puta merda, você se tornou mesmo um imbecil, cara. Só consegue ser esperto quando está com sede.

Foi nesse instante que Simons se tocou que Ícaro não apenas já sabia que ele era vampiro antes dele mesmo contar, como também entendia como isso funcionava.

- Desde quando você sabe?

- Desde que aconteceu, maninho. A P.S. Foundation me mandou ficar de olho em você.


Simons finalmente deixava a ficha cair.

- Então foi por isso que você veio para Setville? Por isso se tornou meu amigo?

- Ser seu amigo sempre foi um porre. Eu sou muito mais evoluído que você, meu caro. Mas, no final, você nos deu algo valioso. A detetive.

- O que ela tem a ver com isso?! - Simons sentiu a fúria tomando conta dele.

- Isso é muito maior do que você imagina, e eu não tenho tempo para explicar. Logo eles vão chegar e você deixará de ser um problema.

- Foi você esse tempo todo... - Simons deixou sair, como se estivesse falando consigo mesmo.

- Não, não, não. - levantou o dedo em posição de negação - Foi você. Deixamos que você ficasse vivo para saber como seria a experiência de um vampiro fora do laboratório. E você estava indo bem, enquanto se alimentava de animais daqui da floresta. Mas aí você começou a atacar humanos, e tivemos que entrar em cena. Não pode sair por aí mordendo as pessoas sem pensar no estrago que isso pode causar, maninho. E você foi esperto em esconder os corpos em lugares diferentes. Isso me deu muito trabalho. E é isso também que ainda está mantendo você vivo. Cadê o corpo de Sophia Dunan?

Simons já não ouvia mais. Um filme passava pela cabeça dele, pensando em tudo o que ele poderia ter sido antes de tudo ter acontecido, os sonhos que perdeu, estando preso naquela cidade, acreditando ter sido amaldiçoado por Deus e que estava sozinho. Mas tudo não passava de um experimento da P.S. Foundation, e eles sabiam o tempo todo, mas não o impediram.

- Você está morto! - gritou Simons.

- Não vamos pular para essa parte agora, maninho. Ainda tem mais. Simons, Simons... Quem diria que a detetive iria se apaixonar por você! E você com aquele papinho de "tô fora de forasteiras". HaHaHa! Eu tive que acompanhar cada passo de vocês, como se fosse a droga de uma babá. E quem diria que a grande detetive Érika Green iria encobrir os crimes de Vulkan Simons! Dois patéticos. Mas em uma coisa eu tenho que concordar, ela é mesmo um animal na cama. É, eu vi isso também. - e piscou.

Simons avançou à toda velocidade contra Ícaro, mas foi parado com um único golpe. Recuou.

- Isso vai ser interessante. - disse Ícaro, sorrindo e deixando os caninos aparecerem em seguida.

Nesse mesmo instante, alguém entrou pela porta.

A EscolhidaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant