XXIX

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Doralice chegou na delegacia às 9:00h da manhã. Vestia uma das roupas de Érika para não chamar tanto a atenção. Entrou pela porta e viu dois policiais comendo rosquinhas e tomando café. Não poderia existir cena mais clichê do que aquela à sua frente. Os policiais eram Edgar e Alan.

Edgar tomou a frente em abordá-la.

- Você se perdeu, docinho? - ele perguntou.

Doralice revirou os olhos sem que ele percebesse.

- O delegado, ele está?

- O delegado Martinez está em outra cidade no momento. Eu tô no comando aqui. Pode me dizer do que se trata, gracinha. - Edgar sorriu e lhe lançou uma piscadela, levantando-se e se aproximando.

- Foi mal aí, fortão, mas preciso falar diretamente com seu delegado. Mas pode dizer a ele que a detetive Érika não vai poder comparecer essa semana. Ela adoeceu.

Edgar mudou de expressão e recuou.

- Ah, é sobre ela. E quem é você?

- Sou a melhor amiga dela.

- Não sabia que ela tinha vindo acompanhada. - Edgar deixou escapar um sorrisinho zombeteiro - Não tem problema, a gente não tá precisando dela. - e voltou a sentar-se na cadeira e terminar sua rosquinha.

Doralice observava o band-aid no nariz dele.

- Ela fez isso com você? - perguntou ironicamente, apontando para o rosto do oficial.

- Não é da sua conta. Se não tem mais nada para fazer aqui, pode ir embora.

Alan tentou abafar um risto e Edgar lhe lançou um olhar furioso.

- Tá explicado o motivo. Obrigada por sua maravilhosa atenção, senhor policial. - e virou-se para ir embora.

Alan a acompanhou com os olhos.

🦇

Então só dois policiais ficavam de plantão, tirando o delegado. Doralice tinha avaliado bem o terreno antes de ir pegar os arquivos do caso. Entraria naquela delegacia nessa mesma noite e traria toda a papelada para o hotel. Se esbarrasse com algum dos policias, era só fazer ele dormir.


Doralice já sabia que o caso estava resolvido. Simons era o assassino das garotas. Mas não foi ele quem atacou Érika. Então poderia ser que nas anotações da amiga houvesse alguma pista de quem tinha feito isso. Ela encontraria o responsável por deixar Érika naquele estado, custe o que custasse.

Se aproximou da amiga na cama e viu que ela suava frio. Doralice colocou a mão em sua testa, Érika ardia em frebre. Colocou uma toalha úmida sobre a testa dela novamente, então começou a analisar o corpo da amiga em busca de alguma evidência que a tenha deixado enfraquecida daquela maneira. Não eram os ferimentos no rosto ou no peito, Érika teria se curado facilmente deles. Continuou procurando e bingo! Ali estava a prova. Em sua nuca havia uma pequena marca, uma perfuração muito fina, como uma picada de algum inseto com ferrão ou uma agulha, talvez. Seja o que fosse que tivesse sido introduzido em Érika, ainda estava dentro dela e isso a impedia de ficar logo curada. Doralice precisava remover o que estava no sangue dela.

Se pegou pensando em qual seria a magia certa para isso, quando alguém bateu na porta. Tinha certeza que não era Simons, porque ainda era dia e o morceguinho era "muito sensível à luz". Imaginou ser a gerente e que não seria legal ela encontrar duas Érika's no quarto, uma delas toda mutilada para piorar.

Entreabriu a porta, ocultando a visão da gerente para dentro do quarto.

- Que parte do não ser incomodada você não entendeu? - seu tom era rude.

- Desculpe, mas tem alguém lá embaixo chamando pela senhora.

"Lá embaixo? No inferno? Seria o Diabo a querendo de volta?"

- Quem é? - perguntou.

- O oficial Alan, senhora.

O que ele poderia querer?

Doralice desceu as escadas, acompanhando Kalista até a recepção. Como ela e Alan já tinham se encontrado na delegacia e ele sabia quem ela era, esperava que ele não perguntasse pela detetive na frente da gerente, para não deixá-la confusa, que continuava sob efeito do encantamento.

Ao chegarem até ele, Kalista ficou perambulando por perto para escutar a conversa.

- Vamos para o quarto. - Doralice disse ao policial.

Kalista correu para a cozinha, talvez para fofocar com a cozinheira que a "detetive" estava tendo um caso com um policial da cidade.

Alan seguiu Doralice pelo corredor, subindo as escadas em direção ao quarto. Na porta, ela o parou.

- Escuta só, o que vai encontrar talvez seja um pouco pesado para você. Então me diz, por que foi que você veio até aqui?

- Conheço o trabalho da detetive Green e, ao contrário do meu parceiro lá na delegacia, eu a admiro. Peço desculpas pelo comportamento dele. E eu fiquei preocupado com ela, de verdade.

- Hum... - ela concluiu que o rapaz estava era a fim dela.

Doralice pensou que mostrando os fatos sem precisar usar magia, também poderia acabar bem. Ela não gostava de ficar mexendo com a mente das pessoas. Talvez o policial bonitinho até ajudasse e ela não precisaria deixar Érika sozinha de novo para ter que invadir a delegacia.

Abriu a porta e a expressão de Alan que veio em seguida foi de horror. Entrou no quarto apressadamente, levando a mão à boca ao se deparar com Érika toda machucada. Imediatamente, o oficial pegou o telefone e começou a discar um número.

- O que você está fazendo? - perguntou Doralice.

- Ligando para a emergência. - Alan respondeu.

- Ela não vai a lugar nenhum, policial. Desliga esse telefone.

- E por quê?

- Porque ela não é humana. Não vão poder fazer nada por ela no hospital.

- O que você está dizendo? - Alan achou não ter ouvido direito.

- Certo... Revelatio! - ao pronunciar essa palavra, o quarto escureceu e as paredes pareceram ganhar vida, parecendo uma enorme tela. Inúmeros seres sobrenaturais começam a surgir, revelando-se a Alan.

Então Doralice continuou.

- Existe um mundo nesse mundo, escondido pelas sombras. Quem matou aquelas garotas não era humano, e quem fez isso com a detetive também não é. E eu preciso da sua ajuda.

- Aham. - disse o policial, maravilhado com o que via.

Então Doralice pronunciou "Ad Normalem" e o quarto voltou ao que era.

Alan piscou os olhos, adaptando-se de novo a luz. Ele olhou para Doralice e em seguida para Érika, ficando em silêncio por alguns minutos.

- O que eu posso fazer? - ele perguntou.

- Preciso que me traga o arquivo do caso em que a minha amiga estava investigando. Talvez tenha alguma coisa lá.

- Eu vou buscar agora mesmo. - saiu do quarto.

Doralice continua ali dentro, surpresa. Aquilo tinha sido até fácil demais.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now