XLIII

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Haviam lágrimas brotando nos olhos de Érika.

— Por quê, Simons? Só me diz... Por quê?

Ele notou a camisa em sua mão.

— Ei, calma. Eu posso explicar isso.

— Você me prometeu... — ela fungou o nariz — isso explica o motivo de tanta calma. Você já se alimentou, seu cretino! — a raiva ia ficando evidente em seu tom de voz.

— Não é nada disso que você está pensando. Foi um acidente!

— Um acidente? Como ousa? Deixar você vivo é que foi um acidente!

Érika avançou contra Simons, caindo sobre ele, esmurrando seu rosto repetidas vezes.

— Érika, para! — ele pediu.

Ela estava com tanta raiva, que nem mesmo percebeu que era a primeira vez que ele a chamava pelo nome.

— Eu nunca mais vou cometer um erro desses, seu monstro!

— Só me deixa explicar! — Simons continuou pedindo.

Mas ela não ouvia.

Érika se pôs de pé, pegou Simons pelo pescoço e o arremessou contra a parede. O impacto apenas o desequilibrou e ele caiu em pé, desajeitado. Simons notou que havia algo estranho, os golpes de Érika não estavam fazendo tanto efeito nele, mesmo com a raiva faiscando nos olhos dela. E ela também não havia se transformado. Então se tocou, estava chovendo forte e não havia lua cheia. Viu ela avançando outra vez contra ele, mas a segurou pelos braços. "Érika, não vou pedir de novo", advertiu. Sentiu a cabeça dela se chocando contra a sua. As garras dela surgiram e cortes profundos começaram a ser talhados em sua pele. Dessa vez ele sentiu a dor. Tentou segurá-la de novo, mas Érika o derrubou.

Aí foi Simons quem se transformou.

Érika viu aqueles dentes afiados e os olhos totalmente negros bem na sua frente. Lembrou-se da primeira vez que os vira, antes de ser jogada em um buraco. Sua raiva subiu mais ainda. "Aí está, o verdadeiro você!", e partiu em direção à ele, mas Simons a parou com um único golpe. Érika sentiu todo o ar fugir de seus pulmões e caiu no chão, desnorteada. Era óbvio que não poderia mais lutar contra ele, e parecia que ele também já sabia disso. Sentiu que iria desmaiar.

Viu Simons em cima dela.

— Desculpa por isso, mas não posso deixar você destruir minha casa de novo. Eu não matei mais ninguém, detetive. Tem que acreditar em mim.

— Acaba com isso e me mata logo. — a voz dela saiu fraca.

— Jamais tentaria isso de novo. Então, quando sua raiva passar, sabe onde pode me encontrar. — e a beijou delicadamente.

Mal sabiam que aquele seria o último beijo.

🦇

Simons seguiu pelas ruas de Setville, em direção à estrada. Estava pensando em como era difícil fazer uma mulher ouvir a razão. Ligou o rádio e sintonizou na estação local. Um informativo urgente era transmitido.

"Mais uma vítima foi encontrada morta hoje. A vítima, Brenda Case, foi deixada em frente a..."

Simons parou de ouvir no instante que ouviu o nome de Brenda. Não podia ser. Ele a deixara em casa horas antes e, mesmo com todo aquele sangue dela diante dele, pensar em Érika o ajudou a se conter. Não tinha sido ele, não dessa vez. Não, o que ele fez foi ir até a floresta e beber o sangue de todo animal que encontrou. Alguém queria incriminá-lo. Mas quem? Doralice! Acelerou o carro até o local da floresta por onde sempre entrava. Sabia que, se ela o encontrasse, ele estaria morto.

Simons caminhou pela floresta, em busca da cabana que ele e Érika tinham visto quando estiveram ali. Se guiava pela luz da lanterna, que não ajudava muito, visto que a chuva se intensificava. Mas finalmente encontrou a cabana. Esteve tantas vezes naquela floresta e nunca havia entrado naquele lugar. Ele entrou.

Focou ao redor e ficou surpreso ao ver que o local estava limpo, como se alguém estivesse estado por ali ultimamente. E mais, haviam móveis e utensílios, dando claro sinal que o lugar era habitado.

Foi então que ouviu uma voz atrás de si.

— Fala aí, maninho...

A EscolhidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora