XXI

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Érika olhou o relógio.

- Temos que ir. - ela disse.

- Alguém mais sabe... - Simons deixou sair.

- Como isso é possível? - Érika pareceu não acreditar nele.

- Eu não sei, tá legal? Estou tão no escuro quanto você.

- Isso não faz sentido, Simons. Como alguém mais pode saber o que você fez e não o ter entregado para a polícia? - ela o questionou.

- Você não entregou...

- Pensei que você soubesse a diferença.

- Não, detetive, eu não sei. Mas se outra pessoa sabe o que eu fiz, talvez não tenha me entregado por ter medo de mim. - Simons foi ficando mais calmo.

- Duvido que seja medo. Do contrário, os corpos não teriam sumido.

Simons ficou em silêncio.

- Temos que ir, o dia está quase amanhecendo. - ela disse.

Simons apenas assentiu.

Os dois caminharam apressadamente em direção ao carro. Simons não fez piada nem foi sarcástico, e Érika percebeu que ele nunca tinha agido assim desde que ela chegara. Queria acreditar nele e em sua inocência, pelo menos nesse caso. Ao se aproximarem do veículo, Érika o pressionou contra a porta do carro. Ela o encarou fixamente nos olhos, e então desviou o olhar para a boca dele, fitando seus lábios. Os dois estavam muito próximos. Simons sentiu o calor emanando dela.

- O que foi? - ele perguntou.

- Você precisa me prometer que nunca mais vai matar ninguém. - ela disse, ainda fitando a boca dele.

- Eu prometo.

Ela voltou a encará-lo nos olhos.

- Ótimo. - e então Érika se afastou.

- O que vai fazer?

- Eu vou resolver isso.

🦇

Os dois seguiram de volta para a cidade. Não trocaram palavras durante todo o trajeto e Simons sabia que ela estava perdida em seus próprios pensamentos. Talvez ela estivesse tentando encontrar uma explicação para o que acabara de acontecer, era o mesmo que ele estava fazendo. Não estava convencido de que ela tinha acreditado totalmente nele, mas o que poderia fazer? Nem mesmo ele estava acreditando. Ficou tão em pânico que nem foi conferir se o terceiro corpo também havia desaparecido, e pela primeira vez pensou no peso que Érika estava carregando por causa dele. Se arrependeu sinceramente e disse para si mesmo que não voltaria a cometer aqueles atos. Ainda não sabia como Érika solucionaria todo aquele enorme problema, mas sabia que podia confiar nela. Tudo ficaria bem e suas maldades seriam apenas mais um fantasma do passado.

Chegaram no início da estrada. O amanhecer já dava seus primeiros sinais de claridade. Érika ordenou que Simons fosse diretamente para casa e dali ela seguiria para a delegacia. Combinaram de conversar quando a noite chegasse novamente.

🦇

Ao chegar na delegacia, todos os policiais já esperavam por ela, incluindo o próprio delegado, que ela quase não via por ali. Edgar e Ramires com o costumeiro ar de superioridade ao olhá-la, ao passo que Alan e Eliot a tratavam respeitosamente; talvez por serem policiais mais jovens. O delegado Martinez tomou a frente em recebê-la.

- Bom dia, detetive. Estamos todos ansiosos para trabalhar com você hoje.

- É mesmo? - ela lançou um olhar na direção de Edgar e Ramires.

- Claro. Quanto mais rápido resolvermos este caso, mais mortes evitaremos.

Ela não notou que o delegado havia deixado de tratar o caso como sendo de desparecimento. O band-aid no nariz de Edgar acabou chamando-lhe a atenção.

- Como está esse nariz, oficial? - ela perguntou, sustentando o olhar sobre ele.

- Vai bem, senhora. Foi só uma queda boba.


Então ele mentiu para o delegado.

- Quem diria, hein! - o delegado tomou a palavra - Um homem desse tamanho caindo.


Eliot e Ramires caíram na gargalhada, mas Alan apenas abaixou a cabeça.

- Antes de irmos, podemos conversar em particular um minuto, delegado? - ela se direcionou a ele.

- Claro detetive. Na minha sala.

Érika seguiu o delegado Martinez para a sala dele. Ao entrar, observou que tudo continuava exatamente igual deixara no domingo; o quadro com o caso em andamento, os arquivos e anotações em cima da mesa improvisada.

- Então, detetive, algum problema?

Ela ficou em silêncio, lendo as anotações no quadro, de costas para o delegado.

- Detetive? - ela a chamou.

- Já trabalhou com a hipótese de que talvez as garotas nunca sejam encontradas? - ela fez uma pausa - E talvez nem o assassino?

O delegado Martinez pareceu ficar em choque com a pergunta.

- Sim, detetive Green. E foi por isso que chamei você. Você sempre resolveu todos os seus casos, até mesmo os mais complicados. Sua fama vai longe. Tenho certeza de que esse caso também vai ser resolvido, se você continuar nele.

"Talvez eu não queira resolvê-lo", ela pensou.

- Tudo bem. Então vamos lá.

Érika sabia que, sem saber a localização dos corpos, seria bem difícil encontrá-los de verdade. Poderia farejá-los se estivesse transformada, mas era óbvio que não faria isso na frente de humanos. Os dois saíram da sala e chamaram os policiais, dividindo-se em três grupos de dois. Érika escolheu Edgar como parceiro, o que surpreendeu o policial.

Ela também sabia que todos voltariam para a delegacia de mãos abanando no fim do dia. Então decidiu que iria de novo na floresta naquela madrugada... dessa vez sozinha.


A EscolhidaΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα