XIV

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Simons estacionou na sorveteria da pracinha. Os dois saíram do veículo e foram em direção ao estabelecimento. Ela sentou-se em uma das mesas e ele foi até o balcão comprar os sorvetes. Érika notou que não haviam outras pessoas por ali naquela noite e constatou que a cidade estava sempre tão vazia. Teria sido um plano de Simons? Colocou a bolsa mais perto de si.

Simons retornou com dois sorvetes de casquinha, entregando um para ela, de baunilha, como ela havia pedido quando saíram do carro. O dele era de chocolate.

— Então, de onde você veio? — ele perguntou, puxando assunto enquanto sentava de frente para ela.

— Eu vim de Holden City. Conhece?

— Nunca ouvi falar. — ele respondeu, em seguida abocanhou o sorvete.

— Então sempre morou aqui em Setville?

— Sempre. Mas e você, por que está aqui? Não é uma cidade comum de se fazer turismo.

— É, já me disseram isso. Estou fazendo uma pesquisa. — ela disse.

— Que tipo de pesquisa?

— Sobre pessoas. Você nunca saiu daqui? — ela cortou o assunto.

— Só fui até umas cidadezinhas mais próximas. Diz aí, o sorvete é bom ou não é?

— É o melhor que já provei em toda a minha vida. — e realmente era. Érika pensou que, no fim das contas, Setville tinha lá seus encantos.

A conversa fluía naturalmente entre os dois. Era como se eles se conhecessem há muito tempo. Érika não lembrava quando tinha sido a última vez que havia ficado tão empolgada assim com alguém. Era fácil gostar dele, ele lhe arrancava sorrisos de verdade. Simons também já não tinha tanta pressa em acabar com aquilo, sua sede estava até mais controlada. Dizia para si mesmo que era devido ao sangue que bebera mais cedo, mas não, aquela garota ali na sua frente tinha algum poder sobre ele. A conversa dela era agradável e ele percebeu que ela não era tão ranzinza assim. Conversaram sobre a vida deles e até sobre planos para o futuro, mas Érika manteve oculto que era detetive.

Saíram da sorveteria e Simons a levou para conhecer Setville melhor. Passaram pela prefeitura, que tinha uma belíssima arquitetura, foram em uma outra praça que tinha um estilo arcaico e lindos jardins, e até passaram em frente ao cemitério, lembrando do que Ícaro havia dito e rindo bastante juntos. Simons a levou em todos os pontos aparentemente turísticos da cidade.

Pararam em uma rua. Érika decidiu que era hora de abrir o jogo.

— Eu me diverti muito essa noite, Simons. Mas... — ele a interrompeu.

— Espera, ainda quero te mostrar um último lugar. — olhou para ela. — Tudo bem?

— Claro.


🦇

Simons seguiu para a estrada. Érika olhou o relógio e já passava da meia-noite. Ela sentiu um certo frio da barriga. Não sabia sobre essa parte da cidade, com essa estrada quase oculta. Ela cautelosamente colocou a mão dentro da bolsa, segurando a arma. Simons parou no mesmo lugar de sempre. Estaria totalmente escuro fora daquele carro, se não fossem os faróis e o luar prateado acima deles. Érika pareceu confusa, olhando ao redor, como se estivesse procurando o que havia de especial ali. Então ela se virou para ele. Simons a estava encarando. Era hora da noite chegar ao fim. Ele não tinha outra opção.


Érika sorriu e perguntou:

— Então foi aqui que você matou as outras garotas?

A pergunta pegou Simons totalmente de surpresa.

— O quê? — ele indagou.

— Eu sei que foi você! — ela o desafiou.

— Como você descobriu? — Simons pareceu perplexo.

— Eu sou detetive.

— Detetive? — os olhos dele se arregalaram.

— Por que todo mundo nessa cidade fica surpreso com isso? Estive trabalhando nesse caso desde que cheguei, Vulkan Simons.

— Se sabia que era eu, por que aceitou sair comigo? — ele a questionou.

— Porque precisava de uma confissão. E foi exatamente o que você me deu. - ela tirou da bolsa um gravador e a pistola, a apontando para ele. — Agora, me leve para a cidade de volta. Você está preso.

Simons sorriu.

— Esse brinquedinho aí não vai me parar, detetive.

Simons avançou contra ela e os dois entraram em uma disputa pela arma. Ele a segurou pela mão, enquanto ela tentou se soltar. Ele estranhou em como ela era capaz de medir força com ele. Ele conseguiu virar a arma contra ela e ocorreu o primeiro disparo, que atingiu o vidro da porta do banco do carona, quebrando-o. Simons levou uma das mãos até o pescoço dela. "Não adianta resistir, detetive", ele disse. Érika o acertou com um murro e retomou o controle da arma. O segundo tiro atingiu o meio da testa de Simons, que caiu para trás. Érika abriu a porta e rastejou para fora do carro, tossindo. Ela ficou de pé e quando levantou a cabeça, Simons estava diante dela. Ele a agarrou pelo pescoço.

— Belo tiro, detetive. Fazia tempo que eu não via meu próprio sangue. — em seguida seus caninos cresceram e seus olhos ficaram totalmente negros. Érika ficou em estado de choque, sem acreditar que aquilo era real. Simons perfurou o pescoço dela e sugou seu sangue. O gosto do sangue dela era diferente do que ele sentiu nas outras garotas. Ao terminar, ele a soltou e ela caiu no chão.

Simons foi até o porta-malas e pegou a pá. Depois colocou o corpo de Érika nos ombros e seguiu para a cova que havia feito perto do riacho. Ele a jogou naquele buraco e a cobriu com o barro ao lado. Em seguida, tomou o caminho de casa.

A EscolhidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora