XXXVI

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- Seria tão fácil matar você e aquele idiota agora. - Ícaro sussurrou no ouvido de Érika, enquanto acariciava os cabelos dela.

Ele continuou:

- Você é tão bonita, detetive. Qual deve ser o seu gosto? - ele passou a língua nos lábios. Érika continuava ali, imóvel, o peito subindo e descendo compassadamente a cada respiração. - Sabe? Meu pai falava muito de você. Sinceramente, eu estava esperando bem mais de alguém da raça pura.

Ícaro observou o ferimento no peito de Érika cicatrizando. Ele levou a mão até lá e amassou o local, tomando cuidado para não abrir o ferimento. Em seu rosto, um sorriso de perversidade foi se moldando, e em Érika uma lágrima escorreu pelo canto dos olhos. "Pelo visto, é possível fazer alguém sentir dor desacordada", ele disse. Então Ícaro tirou uma seringa do bolso, acoplada com uma agulha e a injetou no pescoço de Érika, retirando uma amostra do seu sangue, guardando em seguida a seringa de volta no bolso.

Ícaro se aproximou e lambeu o fio de sangue que escorre do pescoço dela. Em seguida, sussurrou em seu ouvido:

- Não se preocupe, eu não vou levar você agora. Os planos que a P.S. Foundation tem para você são bem piores do que eu fiz com você na cabana. Além do mais, seu namoradinho ainda está nos devendo.

Ele se pôs de pé e se afastou do corpo de Érika. Simons chegou logo em seguida com duas latas de cerveja na mão. Ele sentiu que havia alguma coisa diferente no ambiente, mas ignorou. Ofereceu uma lata para Ícaro, que a recusou com pressa.

- Foi mal, maninho. Eu vou ter que ir embora agora. - e caminhou em direção à porta.

Simons o seguiu pelas escadas, confuso, alcançando-o no corredor.

- Ei, espera aí. O que foi que houve?

- Desculpa aí, Simons. Mas tenho que ir em outro lugar.

- Que isso, pô! Fica aí um pouco, toma a cerveja pelo menos. Tô precisando te contar umas coisas.

Ícaro pareceu hesitar por um instante, então pegou a cerveja da mão de Simons.

- Tá, fala aí. O que foi que aconteceu com a madame detetive, mano?

- Isso é meio complicado de explicar.

Ícaro abriu sua cerveja.

- O que tá esperando para começar? - em seguida veio o primeiro gole.

- Ela foi atacada.

- Isso já me parecia meio óbvio quando vi ela naquele estado, Vulkan. E por que ela não tá no hospital?

- Ela não pode ir para um hospital.

- E por que não, cara?

- Eu vou chegar nessa parte.

- O delegado Martinez sabe disso?

- Eu não tenho certeza.

- Ela veio aqui para Setville para encontrar as garotas desaparecidas, não foi?

- É isso mesmo. - Simons deixou escapar um suspiro.

- Pelo que tá parecendo, então ela as encontrou.

- Sim, ela as encontrou. Quero dizer, quase.

- Como assim, mano?

- As garotas estão mesmo mortas, como andam dizendo por aí.

- Porra, então tem mesmo um serial killer à solta pela cidade?

- Não é um serial killer.

- O que tá querendo dizer?

Simons suspirou novamente.

- Eu matei aquelas garotas...

- Como assim, cara? E a madame detetive sabe disso? Por isso fez aquilo com ela?

- Não, não é o que tá parecendo, meu amigo. - Simons se perdeu nas palavras.

- Você tá maluco, cara. E muito ferrado.

- Deixa eu terminar de explicar, caramba. - Simons alterou o tom de voz.

Ícaro assentiu, voltando a beber a cerveja.

- Eu matei as garotas, mas não foi eu que ataquei a detetive. - Simons explicou.

- Tá, e isso diminui a sua culpa? O que deu em você?

- Eu não sou humano.

Ícaro ergueu uma sobrancelha em sinal de descrença.

- Como é que é? Tá ficando paranóico, Vulkan?

- Eu não sou humano, é sério.

- HaHaHa! Você precisa é de um psiquiatra. Que papo doido é esse? Tá tirando uma onda com a minha cara?

- Eu vou te mostrar.

Os olhos de Simons ficaram completamente negros e seus caninos surgiram de repente. Ícaro o encarou sem demonstrar nenhuma reação aparente.

- Mas que merda! - ele disse por fim.

Simons voltou a sua forma normal.

- Eu sou um vampiro. A detetive descobriu quando tentei matá-la. Mas ela também não é humana. Eu sinto muita sede de sangue humano, e isso acontece uma vez por semana. Eu não consigo controlar, por isso matei aquelas garotas. Mas agora a detetive está me ajudando e eu não preciso mais matar ninguém.

- Tá dizendo que ela está encobrindo do delegado o que você fez?

- A gente ainda estava pensando nessa parte da solução. Mas alguém a atacou e agora ela está em coma desde então.

- Você acabou de dizer que ela também não é humana. Como foi que alguém conseguiu deixar a madame detetive nesse estado então?

- Acho que tem mais alguém igual a eu e ela por aqui.

- Hum... é, pode ser. - Ícaro afirmou.

- Você não parece surpreso. - Simons pareceu indagado.

- É que é muita informação para processar, cara. Preciso de um tempo.

- Não temos "um tempo", amigo. - Simons fez aspas entre os dedos - Preciso descobrir quem fez isso com a detetive, o que está acontecendo em Setville. Não podemos contar para a polícia. Por isso preciso da sua ajuda. Não posso sair do trabalho para ir investigar.

- E por que não faz isso durante o dia? Achei que vampiros não dormiam. - Ícaro questionou.

- Não posso sair durante o dia.

- E por que não? - Ícaro agora pareceu curioso.

- Nunca viu um filme de vampiros? Minha pele queima no sol.

- Então você fica aqui só cuidando da madame detetive? Sua gerente não sabe disso?

- Não, a Doralice está cuidando dela. E a Kalista acredita que a Doralice é a detetive.

- Doralice? Quem é Doralice? Não tô entendendo, mano.

- Ela é a melhor amiga da detetive. Ela lançou alguma espécie de feitiço que fez com que a gerente pensasse que ela é a detetive, entende?

- Feitiço? - Ícaro ficou confuso.

- É, a Doralice é uma bruxa.

- Você disse uma bruxa?!

- Sim. Muito louco, não é?

Ícaro ficou muito tenso de repente. Ele largou a lata de cerveja no balcão da recepção.

- Cara, eu tenho mesmo que ir. Depois a gente continua o papo. - e saiu correndo para fora do hotel.

Simons não entendeu muito bem o que tinha acontecido ali, mas o melhor amigo parecia bem nervoso. Parecia que Doralice era capaz de assustar até quem não a conhecia. Ele pegou a lata de cerveja deixada para trás e notou que ainda estava pela metade. Era a primeira vez que via Ícaro não terminar uma cerveja.

🦇

Simons resolveu subir até o quarto de Érika para pegar a chave que tinha esquecido e dar uma rápida olhada em como a detetive estava. Ao entrar pela porta, ele sentiu um cheiro diferente no ar. Seus caninos começam a formigar. Aquele cheiro parecia ser... sangue? Então era isso. Ele se aproximou de Érika e se deparou com um pequeno filete de sangue escorrendo pelo pescoço dela. Seus olhos escureceram e os caninos longos surgiram de novo. Aquilo chamou por ele...

A EscolhidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora