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Érika estava esperando Simons na esquina da rua do hotel. Combinaram que talvez não fosse uma boa ideia se Kalista visse os dois juntos. Ele estacionou o carro após dobrar a rua, certificando-se completamente que os olhos da gerente não o seguiram. Érika estava parada perto de um poste, com os braços cruzados e batendo o pé direito ritmicamente no chão, denunciando sua impaciência em esperá-lo. Estava usando uma jaqueta de couro preta e calça jeans, com o cabelo solto, parecendo uma versão ainda mais durona de Jéssica Jones.

Ela entrou no carro.

- Você demorou quinze minutos! - sua voz saiu irritada.

- Você estava contando? - Simons perguntou, ironicamente - Eu estava passando as informações dos hóspedes para a Kalista.

- Que informações? Não vi nenhum outro hóspede nesse hotel desde que cheguei.

Ela o encarou e ele podia jurar que saíram faíscas dos olhos dela.

- Desculpe.

- Não gosto de atrasos. Vamos logo. Ou prefere que eu te leve quando amanhecer? - agora foi a vez dela de agir com sarcasmo.

- Pensei que você não fizesse piadas. - ele respondeu e então começou a dirigir rumo a floresta.

- Quem disse que foi uma piada?



Simons consultava constantemente o relógio, conferindo o céu em seguida. Érika percebeu o que isso significa e tentou acalmá-lo.

- Não precisa ficar ansioso. Vai dar tempo. - ela o assegurou, sorrindo de maneira amigável.

- Eu sei. E, mesmo que não desse, tem um casebre bem no meio da floresta.

- Não parece uma boa ideia. Você nunca assistiu filme de terror?

Simons a encarou surpreso e ela pareceu mesmo séria ao questioná-lo.

- Espera aí. Você está me dizendo que tem medo dessas coisas?

- Não é porque eu não sou totalmente humana que não vou temer o sobrenatural.

Ele riu.

- O que foi? - Érika perguntou.

- Nada. Só é engraçado você dizer isso, d-e-t-e-t-i-v-e.

Ela acertou um soco no braço dele.

- Ai! Será que você pode parar de ficar me batendo?

- Vou parar quando você deixar de ser metido e irritante. - ela sorriu.

Simons se impressionava em como ela era capaz de, em um segundo ao outro, passar de uma detetive durona para uma adolescente com nuances de rebeldia.

Ele fixou o olhar nela.

- Será que você pode prestar atenção na estrada?

- Relaxa, não vamos morrer em um acidente. Olha só, eu até diminuí a velocidade. - ele apontou para o painel do carro.

- Achei que você estivesse com pressa. O sol vai já nascer, menino morcego. - ela desdenhou - À propósito, deveria mandar colocar logo um vidro novo na porta do seu carro. Esse vento está bagunçando todo o meu cabelo.

- Foi você quem atirou no meu carro. Não seja tão ranzinza o tempo todo, detetive. - ele voltou a concentrar-se na estrada.

Alguns segundos depois, voltou a falar novamente.

- Vem cá, você deveria se transformar em Wolfwoman quando chegarmos lá.

Érika pareceu não entender o motivo.

- E por quê?

- Ah, para farejar os corpos. - um sorriso perverso se condensou no rosto dele.

- Achei que soubesse onde eles estão.

- E eu sei. - ele lhe lançou uma piscadela e ela entendeu suas reais intenções.

- Seu tarado pervertido, você só está querendo me ver nua de novo!

- É você quem está dizendo isso, detetive. - ele começou a assobiar.

- Você sabe que eu ando com uma arma, não é? - ela abriu a jaqueta e mostrou a pistola em um coldre.

- E você sabe que esse brinquedinho aí não pode me matar. - outra piscadela.

- Mas eu posso. E o que você fez com a minha outra arma, Vulkan Simons?

- Eu joguei no riacho.

- Você é um imbecil. E quanto ao seu amigo, já explicou para ele o que aconteceu comigo?

- Não, ainda estou trabalhando na desculpa.



Finalmente chegaram até o local da estrada de melhor acesso para a floresta. Aquele ponto já havia se tornado uma parte de Simons, poderia até dizer que era parte de sua rotina atual, devido as suas visitas semanais ali. Érika também reconhecia o lugar como familiar, relembrando os acontecimentos de quando esteve ali pela primeira vez. Pensou nas outras garotas e em todo o jogo de manipulação e sedução de Simons para levá-las até ali, para depois matá-las friamente. Por um momento, sentiu raiva de Simons. Às vezes, ele nem parecia que estava arrependido do que havia feito.

Ambos entraram na floresta. Érika o seguiu atentamente, reparando na trilha, traçando o caminho mentalmente enquanto usava a lanterna para guiá-los na escuridão da noite. Não era evidentemente necessário, mas não esconderia os detalhes. Chegaram na primeira cova. Entre duas árvores, um montante de terra indicava que ali havia algo fora do fluxo da natureza. Érika guardou o local mentalmente.

- Quem está aí? - ela perguntou.

- Madison... - Simons sussurrou.

Érika focou nas árvores para ter certeza de que não erraria o caminho quando viesse com os policiais. Simons acompanhou a luz da lanterna. Foi quando ele notou algo estranho no tronco da árvore.

- Espera, foca aqui de novo. - ele se aproximou e apontou para o tronco. Érika seguiu o comando.

A luz relevou um símbolo talhado profundamente na árvore. Era uma cruz invertida, dentro de um círculo.

- Isso não estava aí antes. - Simons disse.

- Como tem certeza disso? - Érika perguntou.

- Porque eu conheço o lugar em que enterrei minhas vítimas.

Simons entrou em modo automático e avançou contra o montante de terra, começando a cavar com as próprias mãos. Ele cavou furiosamente, determinado. Érika apenas o observava, focando seus movimentos com a luz da lanterna.

Simons não encontrou o corpo que deveria estar ali.

- Isso não é possível!

- O que está acontecendo, Simons? - Érika perguntou.

- Vem comigo!

Ele correu, adentrando ainda mais na floresta, correndo em direção ao meio. Érika foi logo atrás. Os dois passaram pela cova perto do riacho, apressadamente. Nem mesmo repararam na estranha figura escondida no alto da árvore ali perto, que os observava, passivamente e risonha. Alguns minutos se passaram até chegarem no segundo local, envolto de pedras. O montante de pedras estava revirado e também não havia nenhum corpo; o corpo de Clarice que tinha sido enterrado ali. Érika focou ao redor e viu o casebre um pouco mais longe. Simons pareceu em pânico. Érika avançou contra ele e o agarrou pela camisa.

- Que brincadeira é essa, Simons?

Ele engoliu em seco.

- Os corpos... eles sumiram.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now