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Simons havia lembrado-se de levar sorvete para Doralice dessa vez. De menta, como ela pediu. Pelo menos seu gosto não era estranho como ela. Os dois estavam sentados no sofá da recepção, folheando os relatórios do caso feito por Érika. Haviam se passado somente quinze minutos e Doralice já estava entediada em ter que ler tantas páginas. Pegou seu sorvete e pingou umas gotas de álcool nele. Simons observava de relance.

- Posso fazer uma pergunta? - disse Simons.

- Se eu disser que não, vai te impedir?

- Por que você bebe tanto?

Doralice levou uma colher do seu sorvete até a boca, em seguida ela parou e encarou Simons.

- Se eu não beber, vou começar a sentir. E eu não gosto do que sinto. - e continuou tomando seu sorvete.

Simons decidiu continuar em silêncio, voltando sua atenção ao arquivo do caso.

- Não tem nada aqui. É tudo o que já sabemos. - ele disse.

- Tudo o que você aprontou. - ela riu - Foi isso o que você quis dizer, não é?

- Eu já me arrependi.

- Se arrependeu porque a minha amiga apareceu para te pôr na linha. Do contrário, ainda estaria aí praticando suas safadezas sanguinárias.

- Hey!

- HaHaHa! Ok, mas nós dois sabemos que não estou mentindo. Mas e aí, e aquele seu amigo que você disse que poderia nos ajudar, qual é mesmo o nome dele?

- Ícaro. E ele só vem na sexta-feira.

- E você confia nele?

- Ué, você confiou no policial. - disse Simons em tom defensivo.

- Ah, mas ele é uma gracinha. - respondeu Doralice, fazendo um ar sonhador.

- Qual é! Ícaro é o meu melhor amigo.

- Então por que você não contou para ele antes?

Simons se calou, era difícil debater com Doralice. Ela parecia um robô, com uma reposta programada para qualquer pergunta. Ele a observava por cima do papel que tinha em mãos, sem que ela percebesse. Ela usava outro vestido preto, tão grotesco quanto o de antes. Se colocasse um grande chapéu, seria uma bruxa completa. Mas, apesar da aparência sombria e inusitada, ele se sentia bem perto dela.

- Vai ficar aí me olhando ou vai trabalhar, garoto? - ela perguntou sem olhá-lo.

- Eu já falei para você não me chamar de ga... - ele não conseguiu terminar.

- Tace! - Doralice pronunciou essa palavra e Simons ficou incapaz de falar.

Ele levou a mão à boca e depois a garganta, desesperado por não conseguir falar. Doralice ria de sua aflição.

- Hummm! Silêncio. Que paz, não é? Ops, você não pode falar. Olha só você, todo agoniado querendo som saindo da sua boca. O que foi, o morcego comeu a sua língua?

Simons avançou contra ela.

- Oh, você não vem não que eu te transformo em um morcego de verdade. - e ela continuava rindo.

Simons juntou as mãos, implorando.

- O que é isso? Vai orar para Deus? - ela perguntou - Ok, ok, já me diverti o bastante com você. Ad Normalem! - e Simons voltou a falar.

- Nunca mais faça isso! - ele disse.

- Só se eu não quiser. - ela lhe lançou uma piscadela e pegou outra pasta com mais papéis.



Simons se dirigiu até o expositor no canto da recepção e pegou água. Doralice manteve o sorriso de satisfação, mas sua expressão mudou ao ver o relatório de outra pasta. Tratava-se de outro caso.

- Ei, acho que encontrei alguma coisa aqui. - ela se empolgou.

Simons se aproximou e sentou ao lado dela.

- Não precisa ficar tão perto se não for para me beijar. - ela desdenhou e Simons corou.

- O que é isso? - ele perguntou, focando no assunto.

- Não sei, mas parece que não tem relação com o caso. O que é essa P.S. Foundation?

- Eu não sei. Vai ver o policial Alan colocou aqui por engano. - Simons comentou.

Doralice vira a página e os dois reconhecem algo naquele papel.

- Espera, eu já vi esse símbolo antes. - ela disse, indicando o desenho da cruz invertida dentro de um círculo.

- É, eu também. Na floresta, quando levei a detetive para mostrar os corpos, esse símbolo estava talhado em uma das árvores. Mas não sei o que significa. Você sabe?

- Não.

- Deveria saber, parece coisa de bruxa.

Ela o ignorou.

- Aqui diz que alguém alega ter sido vítima de experiências em um laboratório na cidade vizinha, Only Faster. Não é pra lá que o tal delegado foi? Se ele viu isso aqui, então pode ter relação com o que aconteceu com a Érika.

- Temos que descobrir sobre esse laboratório então. - Simons sugeriu.

- Mais do que isso, temos que descobrir quem foi a suposta vítima. Aqui diz que ele era doido e não tem a droga do nome dele em nenhum lugar. Mas, pelo que parece desse arquivo, ele é daqui de Setville. Se o que aconteceu com você também tiver acontecido com outra pessoa desse fim de mundo, então deve ter sido ele quem fez isso com Érika.

- E talvez a gente só descubra isso na outra cidade. Temos que dar um jeito de ir lá.

- Não se preocupe, morceguinho. Eu já tenho a pessoa certa para fazer isso.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now