XXXIX

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Kalista havia conseguido alguém para cobrir a folga de Simons no domingo. O rapaz era Caleb Mack. Ele e Simons ainda não haviam sido apresentados formalmente, mas Mack sabia a quem estaria substituindo naquela noite: Vulkan Simons, o cara que havia roubado sua garota naquela festa e o possível assassino das três garotas desaparecidas. Que sorte a dele não darem de cara um com o outro, pois diria poucas e boas para o galanteador barato.

Caleb chegou no hotel no horário combinado com Kalista. Ela lhe passou todas as informações sobre o hotel e Mack assumiu seu posto. Só haviam dois hóspedes no hotel, o que incluía a detetive Érika e um homem que se hospedara no hotel naquela manhã. Caleb se perguntava se a detetive já havia investigado Vulkan Simons e como estaria o andamento do caso. Afinal, ela estava hospedada no mesmo hotel em que ele trabalhava. Estaria ele fazendo um julgamento errado à respeito de Simons, se até mesmo a melhor detetive ainda não havia chegado no cara? Esperava que ela descesse até a recepção para poder perguntar.

Caleb ligou a Tv e sintonizou em um canal de entretenimento. Verificou o celular e havia chegado uma mensagem de Brenda Case, informando que logo mais passaria no hotel com ele. Os dois vinham flertando recentemente e as coisas estavam indo bem. Nenhuma outra garota havia desaparecido após a chegada da detetive, então as moças de Setville já sentiam-se mais à vontade com os rapazes novamente.

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Simons já começava a sentir os efeitos da sede em sua mente. Sentia-se nauseado, quase tomado pela vontade incontrolável de sempre. Ele sabia que sangue animal não aliviaria as coisas dessa vez, não depois de ter sentido o cheiro do sangue de Érika. Naquela noite, ele precisava de sangue humano. Mas não tinha um plano, tinha confiado tudo à Érika, e agora encontrava-se perdido.


Ícaro não vinha atendendo as ligações e Simons não tinha nada com o que se distrair. Estava ansioso e pela primeira vez constatou que enlouqueceria se não encontrasse uma solução imediata. Quanto mais aquilo tardasse, pior seria. Ele simplesmente não tinha ideia do que poderia acontecer, mas pressentia que seria uma coisa muito ruim.

Então lembrou-se que naquela noite seria lua cheia. Érika finalmente acordaria. Isso significaria que ele precisava ir ao hotel e Doralice teria de ouvi-lo dessa vez. Talvez ela estivesse mais calma. E ele imaginou que ela precisaria de ajuda. Vai ver Érika saía do controle em noites de lua cheia. Não que ele fosse ser muito útil caso isso acontecesse, mas ele estaria lá.

Pegou as chaves e dirigiu em direção ao hotel.

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A cicatriz no peito de Érika havia finalmente desparecido. A meia-noite, Doralice a carregaria para fora daquele hotel até um lugar seguro, e então iria expor o corpo de Érika à luz do luar. Tinha receio que a amiga de repente saísse do controle e ela não fosse capaz de domá-la. Pensou em telefonar para Simons para chamá-lo. Seria uma boa hora para deixá-lo explicar-se. Ela ficou tão furiosa com a possibilidade dele ter tentado alguma coisa, que acabou perdendo a razão naquele momento. Érika era tudo o que ela tinha.

Preparou uma porção de ervas e deu para Érika beber, derramando pequenos goles em sua garganta. A amiga se remexeu novamente e isso a encheu de alívio. Sabia que logo ela acordaria.

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Simons estacionou em frente ao hotel. De lá de dentro, Caleb Mack observava a movimentação lá fora, enquanto Brenda lhe sussurrava alguma coisa no ouvido. Simons desceu do carro e caminhou de maneira sorrateira até a recepção. Caleb levantou do sofá para atendê-lo.

- Hoje não é o seu dia de folga, camarada? - principiou-se Caleb.

- Eu estou aqui para ver a detetive Green. - Simons respondeu com formalidade.

Caleb pigarreou.

- Ela está no quarto 33. Mas você já deve saber disso. - seu tom era irônico.

- O que está querendo dizer, cara? - questionou Simons.

- Não é nada. Você pode subir. Já conhece o hotel.

Simons o ignorou juntando forças para não matá-lo ali mesmo. Já tinha dores de cabeça demais para uma só noite. Se encaminhou para o corredor do hotel, quando Brenda lhe chamou à atenção.

- Vai passar sem falar comigo mesmo, Vulkan?

- Ah, oi, Brenda. - ele disse automaticamente.

- Só "oi"? Vem aqui, me dá um abraço. - ela levantou do sofá e foi em direção a ele, abraçando-o. Simons foi inundado por aquele perfume de mulher.

Caleb os observava atentamente com um olhar condenatório. Simons não roubaria outra garota dele.

- O que pensa que está fazendo, seu otário? - esbravejou Mack.

- Como é que é? - Simons sentia o corpo começar a ferver e desvencilhou-se os braços de Brenda.

Caleb se aproximou.

- Você não vai roubar outra garota de mim, seu assassino. - disse-lhe fechando os punhos.


Simons notou o movimento.

- Acredite, você não vai querer fazer isso. - replicou Simons.

- Você se acha o tal, não é?

Caleb partiu para cima de Simons que o parou com um único golpe.

- Eu não estou nesse clima hoje, cara.


Caleb estava no chão, com o lábio sangrando.


Brenda tocou no braço de Simons.

- Vamos embora daqui. - ela disse.

- Vai mesmo embora com esse assassino? - bradou Caleb.

- Você está se comportando como um completo babaca. Depois a gente conversa. - ela respondeu.

Brenda guiou Simons para fora do prédio.

- Me leve para casa, por favor. - ela disse.

- Eu não acho que seja uma boa ideia. - disse Simons, ainda sob efeito da raiva.

- Ah, qual é, Simons. Esquece aquele babaca. Vem, vamos. - Brenda se encaminhou para o carro dele.

Simons acabou cedendo à pressão dela.

- Cuidado para não se cortar na porta. - ele disse, se referindo ao vidro quebrado que ainda não havia mandado trocar.

- Relaxa, baby. - ela lhe lançou uma piscadela.


Ele dirigiu até a casa dela, um tanto quanto apreensivo com toda aquela situação. Focou os pensamentos totalmente em Érika, no quanto queria vê-la acordada. A situação com Caleb o deixara tão fora de si que ele simplesmente esqueceu o que tinha ido fazer no hotel.

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- Bom, chegamos. - ele disse.

- Sabia que, desde que eu te vi pela primeira vez, tive uma queda por você? Uma queda não, um penhasco. - Brenda riu do próprio comentário.

- Eu acho melhor você sair do carro agora. - disse Simons em um tom seco.

- O que foi? Vai bancar o difícil agora? - Brenda colocou a mão na coxa de Simons.

- Por favor, não tente fazer isso. - ele disse, afastando-se, abrindo a porta e saindo do carro.


Brenda o seguiu, saindo do veículo também. Ela sem querer colocou a mão nos estilhaços de vidro na porta e acabou se cortando.

- Ai! - ela soltou um gemido.

Simons percebeu a situação.

- Droga... - ele sussurrou.

Simons ficou parado em frente a Brenda, observando o sangue que escorria pela mão dela.

Ela riu.

- Não foi nada. - ela disse para ele.

Brenda deu um passo na direção dele e acabou tropeçando, levando as mãos diretamente ao peito de Simons, manchando sua camisa. O cheiro de sangue invadiu suas narinas, transformando-o completamente. Havia perdido o controle.

Simons não resistiu...

A EscolhidaWhere stories live. Discover now