XXXIV

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Uma coisa que Alan aprendera com a detetive Érika era a nunca desistir até encontrar as respostas. Ao entrar no carro, deu marcha ré e seguiu para os fundos do prédio, dando a volta no quarteirão, esperando que ninguém o tivesse visto. Parou o carro na esquina e desligou o motor, e esperou. Sentia-se eufórico, como se fizesse parte de uma trama importante, como se fosse um personagem crucial para impedir o fim do mundo. E seu instinto juvenil dizia que havia algo errado acontecendo naquele prédio. Ele só precisava encontrar uma outra maneira de entrar.



Alan continuou esperando, esperançoso que a resposta logo viesse. Meia hora depois viu uma van preta se aproximando pela outra esquina. Observou atentamente. O veículo estacionou alguns metros à distância. Alan se deitou no banco para não correr o risco de ser visto. Viu dois homens descerem do carro, vestidos de branco, e seguirem para a traseira. Um deles abriu a porta e ele os viu puxarem uma maca com o que parecia ser um corpo em cima. Ele esperou mais um tempo antes de tomar alguma atitude, e foi quando os homens retornaram para buscar mais uma maca. Um deles fechou a porta do carro, indicando que não voltariam em seguida. Um dos homens tropeçou na calçada e a maca pendeu para um lado, expondo parte do que estava coberto. Alan identificou um braço, mas esse era diferente, estava coberto por escamas. Seus olhos exibiam surpresa e agora tinha total certeza de que o caso antigo não se tratava de um doente mental, o que o lembrou do motivo pelo qual estava parado ali. Cogitou ligar para a polícia de Only Faster, mas precisava de mais informações. Precisava entrar e descobrir o nome do sujeito.



Esperou que os homens entrassem no prédio para poder descer do carro e segui-los. Assim que saiu do veículo, seu telefone tocou. Era Doralice. "Agora não, senhora", pensou em voz alta, rejeitando a chamada e devolvendo o celular ao bolso. Caminhou até a porta dos fundos por onde aquelas homens haviam entrado e girou cuidadosamente a maçaneta. Por sorte, estava aberta.



Alan viu-se em um corredor parcialmente escuro, caminhando sem fazer barulho. Após alguns passos, viu algo no chão que lhe chamou a atenção. Agachou-se para apanhá-lo; era um cartão branco com um símbolo de uma cruz invertida dentro de um círculo. Virou o cartão e encontrou as iniciais "P.S. Foundation". A mulher de vermelho havia mentido, ali com certeza era o laboratório. Guardou o cartão, que provavelmente tinha caído do bolso de algum daqueles dois homens. Sua euforia passou a se tornar apreensão, pois, se estava no lugar certo, alguma coisa sinistra acontecia ali. Pensou em recuar, mas Doralice preencheu seus pensamentos. Pegou o celular e passou uma mensagem para ela.



"Me encontre amanhã à noite nos fundos da delegacia".



Em seguida, ele continuou andando para a frente. Entrou em outro corredor, agora bem mais iluminado. Haviam várias portas e ele forçou algumas na tentativa que estivessem abertas. Sem sucesso. Encontrou uma escada e subiu para o próximo andar. Esse era muito aconchegante e organizado, com vasos repletos de flores meticulosamente bem cuidadas, entre as colunas. Seguiu adiante e encontrou mais uma porta, dessa vez aberta. Entrou.



Constatou que se tratava do escritório de alguém. Haviam cortinas entre as colunas atrás da mesa e um grande quadro em uma outra parede, com o mesmo símbolo que ele vira no cartão. Na mesa havia uma pilha de papéis sob um peso, além de vários outros objetos. Foi até ela e leu o nome na plaqueta ali acima. Aquela sala era de alguém chamado Notório Vines.



Estava prestes a telefonar para Doralice para contar sua descoberta quando ouviu passos vindos em direção àquela sala. Correu para se esconder atrás da cortina. Alguém abriu a porta.

- Eu já falei que quero isso logo resolvido! - alguém bufava e Alan imaginou que deveria ser o dono da mesa.

- Sr. Vines, estou trabalhando nisso. - outra voz surgiu.

Alan ficou em choque, ele sabia de quem era aquela voz. Era o delegado Martinez.

A conversa continuou.

- Me traga a garota, Martinez. Depressa.

- Ainda preciso dela. - disse o delegado.

- Pensei que já tivesse resolvido o seu descuido.

- Só encontramos dois corpos, os que eu trouxe para os testes. Mas Simons assassinou três mulheres, e não localizamos o terceiro corpo. Preciso que a detetive nos leve até ele.

- Como você deixou um merdinha fazer isso na sua cidade? Não foi para evitar esse tipo de coisa que eu te dei o meu filho Ícaro?

- Eu sei, sr. Vines. Mas esse vampiro é esperto, ele escondia os corpos. Eu não tinha como saber. - se defendeu o delegado.

- Suas desculpas não me interessam. Volte para Setville, feche o seu caso e me traga a garota viva. - concluiu.

- E quanto ao vampiro?

- Diga a Ícaro para matá-lo.

Alan ouvia a tudo, perplexo com o que acabara de descobrir. A detetive estava em perigo, ele tinha que voltar urgentemente e avisar Doralice. Não podia acreditar que o delegado estava envolvido nisso, ele mentiu e sabia o tempo todo.

Estava pensando em como sair dali quando o telefone tocou e o som preencheu todo o ambiente.

Imediatamente, o delegado Martinez sacou a arma. "Quem está aí?", perguntou. Droga, Alan não tinha levado a arma. Será que daria tempo de inventar uma desculpa? Com o coração fora de compasso, ele saiu de seu esconderijo.

- Alan... Que merda, garoto. - disse o delegado.

- Senhor, eu posso explicar. - respondeu, engolindo em seco ao ver a arma apontada em sua direção.

- Mate-o logo! - ordenou o dr. Vines.

- Sinto muito, garoto. Você ouviu demais.



O delegado Martinez dispariu o primeiro tiro, que atingiu o ombro de Alan. A adrenalina em seu corpo o colocou em ação imediata. Ele atirou o celular contra o delegado, acertando-o no rosto. Em meio ao momento de atordoamento de Martinez, Alan correu por entre eles e saiu disparado pelo corredor. Ele alcançiu as escadas e desceu para o outro andar, sem parar até chegar do lado de fora do prédio.

- Não deixe ele escapar! - o dr. Vines ordenou ao delegado Martinez.



Alan estava sangrando, com a mão no ombro, tentando diminuir a quantidade de sangue que estava perdendo. Ele chegou até seu carro, deu a partida e acelerou, vendo pelo retrovisor que o delegado e outra pessoa saíam pela porta dos fundos, tentando alcançá-lo.

Ele sabia que não podia parar. A única coisa que o impulsionava era o medo, temendo perder a vida. Seu sangramento estava diminuindo e a adrenalina o mantinha desperto. Concentrou toda sua força em dirigir de volta até Setville... até Doralice.



Já era noite quando Alan chegou na estrada que ligava as duas cidades. Sentiu-se mais seguro naquele momento, tentando respirar com mais calma, sentindo o ombro latejando de dor. Ele dirigiu por duas horas até ver a entrada da sua cidade. Um sorriso dolorido ganhou vida em seu rosto. Ele pisiu mais fundo no acelerador. Foi quando uma estranha figura apareceu no meio da pista, fazendo-o virar o volante rapidamente, tirando o carro da pista e fazendo-o bater em uma árvore.



Alan tinha apagado por alguns instantes. Ele acordou e percebou que sua testa também estava sangrando, havia batido a cabeça no volante. Ele abriu a porta e saiu do carro, cambaleando. Olhou em volta, procurando o que tinha visto na pista. Jurava ter visto uma mulher. Ou talvez fosse a perda de sangue criando ilusões. Ele escutou um barulho nos galhos da árvore acima dele. Ao olhar, foi atacado por alguém e o último som que Alan escutou foi o do próprio pescoço se quebrando.

A EscolhidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora