XV

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Érika acordou sufocada, sem conseguir se mexer direito. Estava embaixo de muita terra. Não sabia quanto tempo tinha ficado apagada e sua cabeça doía, estava ligeiramente atordoada. Ela não sabia até essa noite que existia algo que pudesse derrubá-la. Claro, o ataque foi totalmente de surpresa. Ela não tinha como saber que Simons também não era totalmente humano. Ou será que tinha? Seria esse o motivo de sentir-se atraída por ele? Para alguém como ela, não estava com os sentidos muito atentos ultimamente. Ela não sabia o que dizer e nem queria pensar nisso. Tudo o que queria era sair dali. Mas não conseguia se movimentar e nem respirar, o peso da terra em cima dela impossibilitava seus movimentos, além dos pulmões pedindo urgentemente por oxigênio. Sabia que não sairia dali na forma em que estava. Ela teria que se transformar.

Érika sentiu seu corpo mudando de forma, ficando cada vez mais robusto. Seu rosto esticou para a frente, ganhando características de um lobo. Suas pernas se alongaram, engrossando e sendo coberta de pelos, que ganharam todo o seu corpo. Garras ganharam vida em seus pés e suas mãos, e seus olhos ficaram amarelos, quase brilhantes. Érika sentiu seu aumento corporal rasgando seu vestido. Ela tentou abrir os olhos e terra os invadiu, a agoniando ainda mais. Sua transformação moldou o barro em cima dela. Então ela usou as garras para cavar, puxando a terra com suas garras como se fossem uma concha, e rapidamente conseguiu sair dali. Mesmo transformada, seu raciocínio continuava inalterado, e ela só pensava em uma coisa: acabar com Vulkan Simons. Ele a pagaria bem caro.

Teria de voltar para a cidade imediatamente, mas primeiro precisava descobrir como sair daquela floresta; ela estava incapaz de ter um senso de localização, já que chegou ali totalmente desmaiada. "Simons, seu desgraçado!", ela pensava, "Eu vou matar você!". Pegou o que sobrou do seu vestido no chão e correu na direção contrária a do lago, esperançosa em não perder tempo. Enfim, encontrou a estrada, o que ainda não ajudava em muita coisa. Droga, deveria ter prestado mais atenção enquanto era levada para o abate. Olhou para os dois lados em meio à escuridão e decidiu correr para o sul, esperando ser o caminho certo. Ela era muito rápida, corria à passos muito longos, o que, em parte, era uma boa colaboração do seu tamanho enorme. Não demorou muito e já era possível ver as luzes das primeiras casas em Setville. Parou no início da estrada. Sabia que a cidade estava deserta nesse horário, mas não poderia correr o risco de que alguém a visse assim. Voltou a sua forma humana, ficando completamente nua, segurando os trapos do vestido na mão. Improvisou um top e uma saia, com um corte lateral, que exibia a coxa esquerda. Se ela soubesse que passaria por isso, teria descarregado a arma em Simons. Um vampiro? Como isso era possível?

Tomou o caminho para o hotel o mais depressa possível. Ao entrar pela recepção, Ícaro a encarou, perplexo com a imagem que via à sua frente. Érika estava com as roupas rasgadas e toda suja de terra.

— Uou, madame. O que aconteceu? Cadê o Simons?

— A chave do meu quarto, Ícaro. Agora. — ela disse, ficando tensa.

— Ok, ok! Mas o que aconteceu? — ele insistiu, entregando-lhe a chave.

Érika lhe deu as costas e foi em direção ao quarto. Ao entrar, ela observou o relógio da Tv e já eram quase 4:00h. Ela tinha passado horas apagada. Pegou a primeira roupa que encontrou na mala e vestiu, sem nem mesmo tirar os resquícios de terra de si. Desceu novamente, com o distintivo em punho. Caminhou até Ícaro.

— O seu amigo Simons, qual o endereço dele?


Ícaro percebeu que as coisas estavam mais erradas do que aparentavam.

— E-Eu não sei, madame.

— Não mente para mim, garoto. Está vendo isso aqui? — ela estendeu a mão na frente dele — É um distintivo. Eu posso prendê-lo por obstrução da justiça. Não me faça perder tempo e me diz o endereço de Simons.

— Detetive? — Ícaro engoliu em seco.

— Merda, mais um idiota. Eu vim para investigar o caso das garotas desaparecidas e o seu amigo é um suspeito. Pela última vez, me diz a droga do endereço! — Érika não contou para Ícaro que Simons era de fato o assassino.

Ícaro pareceu ter ficado em pânico, mas disse o endereço corretamente, anotando-o para Érika. Ela apanhou o papel da mão dele e foi para a saída. Parou na porta e se virou para Ícaro, perguntando:

— Você sabia sobre isso?

— Não, madame. — sua voz falhou, nervosa.


Érika então foi embora em busca de Simons. Ao vê-la sair, a expressão de Ícaro suavizou e adquiriu um tom sombrio.

— O que eu sei, detetive, é que todo vampiro tem sua presa favorita. — ele sussurrou.

A EscolhidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora